Cerca de mil pessoas se reuniram na Praça 8 de Abril na tarde deste domingo (04), em frente ao restaurante Choppão em Cuiabá, em protesto contra o pacote de combate à corrupção aprovado pela Câmara dos Deputados no último dia 30 de novembro. Os manifestantes são contrários a punição de magistrados e membros do Ministério Público, incluída pelos deputados no texto. Estavam presentes no protesto a promotora Lindinalva Rodrigues e juíza Selma Arruda.
Durante o protesto, que ocorreu debaixo de chuva, os nomes dos deputados de Mato Grosso que votaram a favor das medidas foram citados por manifestante em cima do trio. A cada nome um coro de vaias do público que se aglomerava na praça. Dos oito deputados de Mato Grosso, foram favoráveis: Adilton Sachetti (PSB), Carlos Bezerra (PMDB), Ezequiel Fonseca (PP), Tampinha (PSD), e Valtenir Pereira (PMDB). Apenas Nilson Leitão (PSDB) foi contra, enquanto Fabio Garcia (PSB) se absteve. Em outro momento, mais vaias para a reprodução de um áudio do ex-presidente Luíz Inácio Lula da Silva (PT), em que ele conversa com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) sobre a Lava-Jato.
O organizador do ato e representante do Movimento Brasil Livre (MBL), Eduardo Borges declarou ao Olhar Direto que a motivação para o evento é a saída do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e a revisão do pacote contra a corrupção, aprovado recentemente. “A motivação principal é o 'fora Renan', que é réu agora e não pode estar na linha de sucessão da Presidência e o apoio à Lava-Jato, a medida que retira o foro privilegiado e emendas que privilegiam os políticos corruptos, para que retirem essas emendas da lei”, declarou Eduardo, que ainda deixou clara a posição sobre o apoio ao presidente Temer. “Nós defendemos ideias, não pessoas, nossa defesa é de ideias e ideais de um Brasil melhor, não defendemos pessoa nenhuma”, finalizou.
Dentre os manifestantes, Milton Dall Pizzolo disse ser necessário dar um voto de confiança ao presidente Temer. “Eu acredito que a gente tem que dar um voto de confiança para o Temer, ninguém aqui é contra, desde que ele puna os responsáveis, e não assine e concretize essas leis dos políticos em beneficio próprio, principalmente eu não sou contra o Temer, acho que a gente precisa dar uma palavra de confiança para ele para ver se ele consegue modificar essa situação difícil que a gente esta atravessando”.
Milton ainda afirmou que o ato é legítimo para que esse tipo de aprovação ‘na calada da noite’ deixe de acontecer. “Na calada da noite isso ai não pode, nós temos que sair na rua para contestar, tentar modificar, porque o país está atravessando um momento muito difícil e se já está difícil para nós imagina para os nossos filho e netos”.
A líder do Movimento Muda Brasil, Ely Olavarria, também presente durante o ato deste domingo, reafirmou o posicionamento ativo da população perante as decisões dos parlamentares. “O importante para gente é mostrar para os atuais parlamentares que nos não morremos, que estamos atentos ao que eles estão fazendo, que eles não façam as coisas contra o povo, que parem com essa conduta de realizarem as coisas na calada da noite contra a nossa vontade”.
Juíza e promotora
Em cima do trio, a juíza Selma Arruda, da 7ª Vara Criminal de Cuiabá e condutora de diversos processos de corrupção, falou de seu descontentamento com a medida de punição a magistrados, aprovada entre as medidas. “Óbvio que não, nenhum juiz se sentiria a vontade, porque todos estaríamos numa berlinda quando fossemos nos deparar com algum poderoso. O que nós temos que fazer é, coibir o abuso de autoridade, tudo bem, a gente pode coibir quando houver abuso, mas vamos definir o que é abuso, porque se abuso for enfrentar gente grande então o Brasil está perdido”, declarou a juíza.
Sobre seu posicionamento político nas atuais circunstâncias, a juíza Selma declarou estar dentro de seus direitos como cidadã. “Antes de ser juíza eu sou cidadã e como tal estamos numa democracia e eu tenho direito de me manifestar sobre o que eu quiser”, pontuou em seguida, durante entrevista.
A promotora Lindinalva Rodrigues, da Promotoria de Violência Doméstiva de Cuiabá, também afirmou o posicionamento contrário à condenação de magistrados e membros do MP, explicando o retrocesso perante a independência funcional. “Eu tenho sentido uma grande indignação do povo por essas questões do combate a corrupção, porque o parlamento distorceu completamente a vontade popular de combater a corrupção para uma legislação que na verdade vem a perseguir quem combate a corrupção, que são os juízes e os promotores de justiça", disse ela ao Olhar Direto.
"Seria um atentado contra a independência funcional nossa e do Judiciário e não interessaria em nada a nossa independência e a população, porque hoje em dia nós fazemos um trabalho onde a policia faz a investigação, nós denunciamos com indícios e se não tiver provas consistente nós pedimos absolvição, porque não somos obrigados a pedir condenação de ninguém se não houver prova contundente para isso e isso não implica nenhuma irregularidade funcional para nós”, finalizou a promotora.
Palestra de Sérgio Moro
Chegando a Cuiabá para palestra nesta segunda-feira (05), o juiz federal Sérgio Moro, protagonista da operação Lava-Jato, já tem apoio garantido da população. Um dos manifestantes deste domingo (04) declarou que Moro será muito bem-vindo em solo cuiabano. “Acho que Moro vai ser muito bem recebido em Cuiabá, estamos todos a favor de Sérgio Moro”, declarou Milton Dall Pizzolo.
Entre no nosso canal do WhatsApp e receba notícias em tempo real,clique aqui
Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços. Ao utilizar nosso site, você concorda com tal monitoramento. Para mais informações, consulte nossa Política de Privacidade.
