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Terça-feira, 30 de abril de 2024

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Oliver Stone leva colapso de Wall Street a Cannes

Quase duas décadas depois do lançamento de "Wall Street", filme que virou símbolo da pujança e da especulação do mercado financeiro da década de 1980, o diretor Oliver Stone não estava pronto para uma continuação.


Os ganhos com ações estavam em alta, os juros em baixa, as ofertas de crédito eram abundantes, e Stone preferiu recusar a proposta que Michael Douglas lhe fez em 2006 para retomar a história de Gordon Gekko, investidor ganancioso e sem escrúpulos que termina o primeiro filme na cadeia - e que rendeu a Douglas o Oscar de melhor ator em 1988.

"Eu não queria celebrar a cultura da riqueza", justificou o cineasta na manhã desta sexta-feira (14) após a exibição da... segunda parte do filme, "Wall Stret: Money never sleeps", em estreia mundial no Festival de Cannes, mas fora de competição.

O colapso do sistema bancário do final de 2008 o fez mudar de ideia. "Aquilo foi um grande ataque cardíaco, uma parada tripla. Foi colocado um stent, mas não sei se foi resolvido", disse Stone. “Como todo mundo hoje, sou confuso sobre se o capitalismo é eficiente da forma como funciona hoje, excessivo e sem regulação. Parece que nos embebedamos por muito tempo e agora chegamos a isso. Não só nos EUA, mas na Grécia, na Inglaterra, Espanha, Portugal. Em 1987 cheguei a pensar que o capitalismo ia corrigir as coisas, mas não foi o que aconteceu. Tudo piorou.”


'Ganância é bom?'
"Money never sleeps" (o dinheiro nunca dorme) começa no dia em que Gordon Gekko (Douglas) deixa a prisão, após cumprir pena de oito anos por crimes contra o sistema financeiro. Sem emprego e sem dinheiro, ele passa a ganhar a vida dando entrevistas e palestras aproveitando a fama de "insider" arrependido - seu novo livro leva o mesmo slogan pregado pelo personagem no filme original, mas acrescenta uma interrogação ao final: "Greed is good?" (Ganância é bom?).

Em vez de vilão, Gekko se transforma em uma espécie de guru às avessas para a nova geração de aspirantes a investidores e novos milionários de Wall Street.

"Gekko foi um personagem muito bem escrito. As pessoas se atraem por vilões. Mas Stone e eu nunca poderíamos ter antecipado toda essa cultura de MBAs dos estudantes que estão no comando de companhias de investimentos hoje. A ganância nunca acaba. E, agora, ela é protegida pela lei", disse Douglas, escolhendo as mesmas palavras usadas por Gekko em suas palestras como uma espécie de anti-herói corporativo.

"Nesse filme, a palavra-chave é 'more' (mais, em inglês). Não há limites para a possibilidade de acumulação de capital", complementou o ator Josh Brolin, que em "Money never sleeps" interpreta Bretton James, um investidor ainda mais ambicioso, que não hesita em jogar dos dois lados - e supostamente contra si próprio - para tirar o máximo de ganho em suas apostas. "Entendi bem esse momento de ganância em que você sabe que tem dois filhos te esperando lá no andar de cima, mas se recusa a parar, dizendo que só precisa de mais 15 minutos de trabalho para reverter as perdas."

Entre o amor e o poder

Mas por trás do ritmo frenético de números correndo pela tela, dos múltiplos monitores e gráficos espalhados pela sala de casa, dos charutos e do desfile de joias carésimas usadas pelas madames nos bailes de caridade, "Money never sleeps" tenta contar uma história mais humana que a do primeiro filme, na opinião de seu diretor.

No centro da história, além de Gekko e James, está o jovem casal formado por Jacob (Shia La Boeuf) e Winnie (Carey Mulligan), na verdade a filha de Gordon Gekko que deixa de falar com o pai desde a morte do irmão por overdose durante o período em que o pai está na cadeia.

Como Bud Fox, vivido por Charlie Sheen no filme de 1987 e que faz uma reaparição cômica nesta continuação, Jacob idolatra Gekko, tem potencial para ser grande no mercado financeiro, mas guarda uma ponta de idealismo, tentando convencer os investidores a apostar seu dinheiro em fontes de energia mais limpas.

Já Winnie comanda um blog jornalístico "sem fins lucrativos" com denúncias sobre o mundo corporativo e se mantém resistente às tentativas de reaproximação do pai após a saída dele da prisão.

"Essa é uma história de família. Sobre pessoas buscando o equilíbrio entre o seu amor pelo poder e pelo dinheiro com a sua necessidade de serem amadas por alguém", sugeriu Stone.

Ainda mais "família" do que isso, "Money never sleeps" é uma reação de Stone em nome da memória do próprio pai, que trabalhou no mercado financeiro de Wall Street dos anos 30 até os 70 e, segundo o diretor, estaria se "revirando no túmulo" com o cenário de Wall Street nos tempos das bolhas econômicas.

"Eu sempre vi meu pai como um homem honesto, e ainda penso assim. Ele era um investidor de verdade, que escrevia memorandos para os acionistas sobre as aplicações e sempre acreditou que seu trabalho era servir seus clientes. Hoje isso não existe mais", afirmou. "Tenho um amigo de escola que virou figurão no banco Morgan Stanley, mas não vou dizer seu nome. Um dia perguntei se ele poderia fazer investimentos para mim e ele disse que não, que eu não tinha o suficiente. Isso é Wall Street hoje."
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