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Sábado, 27 de abril de 2024

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Iraque continua caótico, mas Obama não flexibiliza prazo para retirar tropas

Quando o presidente norte-americano Barack Obama aprovou um plano para retirar forças de combate do Iraque este verão (no Hemisfério Norte), foi com base na previsão de que um governo recém-eleito já estaria em vigor quando os americanos partissem em retirada. Quatorze meses depois, o pré-requisito para o plano de Obama não ocorreu, mas o plano continua o mesmo.


O atraso e as consequências desastrosas da eleição iraquiana significam que pode levar meses até que o próximo governo seja formado, mesmo que dezenas de milhares de soldados americanos já estejam arrumando as malas para partir. No entanto, há meses Obama não faz uma reunião sobre o Iraque com sua equipe completa de segurança nacional. E a Casa Branca insiste que não possui planos de reavaliar o cronograma de retirada.

A situação representa um teste para a promessa de Obama de acabar com a guerra, talvez a promessa mais definidora realizada por ele em sua campanha presidencial. Embora Obama tenha se mostrado flexível em relação a outras promessas de campanhas e prazos, seu plano de retirar as forças de combate até agosto, e os 50 mil treinadores e consultores até dezembro de 2011, tem sido a política mais inviolada.

Ao manter o prazo, Obama está na verdade abandonando a tese adotada com base na recomendação de conselheiros militares e civis, em fevereiro de 2009, de que uma ampla presença militar americana era necessária por tempo suficiente para fornecer estabilidade durante a transição pós-eleição.

Em vez disso, o presidente americano agora se baseia na conclusão de que os iraquianos estão progredindo nos desafios de governança e segurança, que durante muito tempo dependeram dos americanos.

“Não vemos indicações hoje de que nosso planejamento precise ser ajustado”, disse Ben Rhodes, um sub-conselheiro de segurança nacional de Obama. “Previmos um período estendido de formação de governo”, e missões recentes lideradas pelo Iraque que mataram os líderes da al-Qaeda no país mostram “sua crescente capacidade de fornecer segurança, que, é claro, é fundamental para terminar nossa missão de combate no final de agosto”.

Embora o Obama não tenha convocado recentemente nenhuma reunião integral sobre o Iraque, Rhodes observou que o vice-presidente Joe Biden, que gerencia essa política, faz esse tipo de reunião regularmente e mantém Obama informado. “Obviamente, ele está envolvido nisso”, afirmou Rhodes sobre o presidente americano.

Para Obama, modificar o prazo seria complicado, tanto por razões logísticas quanto por motivos políticos. À medida que Obama retira tropas do Iraque, manda mais para o Afeganistão, colocando pressão nas Forças Armadas. E com a irritação da base liberal com o aumento das tropas afegãs, qualquer atraso nas retiradas do Iraque poderia provocar mais consternação na ala de esquerda.

No entanto, a resistência em reanalisar o prazo causou preocupações em ex-oficiais americanos, incluindo alguns que participaram da reformulação da política de Obama no ano passado. O plano original previa eleições iraquianas em dezembro e a formação de um novo governo pelo menos 60 dias depois. Em vez disso, as eleições só ocorreram em março e produziram uma ligação mais próxima entre os partidos do primeiro-ministro Nouri al-Maliki e do ex-primeiro-ministro Ayad Allawi.

Ryan C. Crocker, o ex-embaixador americano no Iraque indicado pelo presidente George W. Bush que mais tarde fez recomendações a Obama em relação à retirada, disse que o governo deveria considerar estender o prazo de agosto.

“Estou um pouco nervoso”, disse Crocker, hoje reitor da Bush School of Government and Public Service da Texas A&M University, em recente entrevista. “As eleições ocorreram mais tarde do que o previsto e houve resultados muitos próximos entre al-Maliki e Allawi, o que sugere que será um processo bastante longo. Podemos nem ter um novo governo até o prazo de agosto. Gostaria que os Estados Unidos mantivessem a flexibilidade original”.

Meghan O’Sullivan, ex-sub-conselheira de segurança nacional do governo de Bush que supervisionou a política em relação ao Iraque, também disse que agosto pode ser cedo demais.

“Sou a favor de uma mudança em relação ao prazo atual, rígido, para algo mais flexível, que reflita mais a situação fluida e tensa no Iraque. A última coisa de que os iraquianos realmente precisam é que os Estados Unidos estejam focados mais em sair do que qualquer outra coisa, em um momento de altas incertezas políticas”, ela disse.

Dois ex-oficiais que trabalharam na política em relação ao Iraque durante o governo Obama disseram que, depois que ficou claro o quanto as eleições seriam atrasadas, o general Ray Odierno, comandante no Iraque, queria manter uma equipe de combate de 3 mil a 5 mil soldados no norte do país após o prazo de 31 de agosto. Porém, os oficiais, que falaram em condição de anonimato devido à delicadeza do tema, disseram que ficou claro que a Casa Branca não queria a permanência de nenhuma unidade de combate.

O brigadeiro general Stephen R. Lanza, porta-voz de Odierno, comentou que nenhum pedido oficial foi feito à Casa Branca. “Tampouco o presidente negou a ele as ferramentas necessárias para finalizar nossa missão”, afirmou.

Odierno, assim como seu comandante, o general David H. Petraeus, e o embaixador, Christopher J. Hill, disseram, nos últimos dias, estar satisfeitos com o cronograma atual.

“Me sinto bastante confortável com nosso plano”, disse Odierno no programa “Fox News Sunday” recentemente. “A não ser que algo imprevisto e desastroso aconteça, espero que sejamos 50 mil no dia 1º de setembro”.

Em entrevista, Petraeus comentou que as forças remanescentes “ainda são um número substancial” que deveria ser capaz de lidar com a situação. “Todo o processo está em dia”, ele disse, “e o que vimos depois das eleições incluiu esforços por parte da al-Qaeda no Iraque para mais uma vez incitar a violência sectária, mas não vimos nenhum sucesso nesse sentido”.

Alguns analistas militares que antes eram a favor de um grande contingente de soldados no Iraque concordaram que o cronograma atual ainda faz sentido. Michael O’Hanlon, estudioso da Brookings Institution, disse que permanecer mais tempo no país só significaria que os americanos poderiam estar indecisos entre Maliki e Allawi. “Não vejo motivo para escolher um dos lados em uma guerra civil de cima para baixo”, concluiu.
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