Olhar Direto

Sábado, 01 de junho de 2024

Notícias | Mundo

Professor diz que apatia tomou conta das ruas de Teerã

Há um ano, a oposição tomou as ruas de Teerã para protestar contra a conturbada eleição que deu mais quatro anos de mandato ao presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Alegando fraude e procedimentos eleitorais suspeitos, líderes opositores e estudantis promoveram meses de manifestações, que foram duramente reprimidas pelo regime.


Muitos acabaram presos, outros foram condenados à morte. E, ao que parece, o regime conseguiu abafar o ímpeto para novos protestos.

O iraniano Babak Rahimi, professor-assistente do Programa de Estudos Islâmicos e Iranianos da Universidade da Califórnia, em San Diego, diz que a apatia tomou conta das ruas. Ele estava em seu país em 2009 e acompanhou de perto a votação e parte das manifestações. Novamente de passagem por Teerã, ele concedeu uma entrevista ao R7 nesta sexta-feira.

O medo imposto pelo regime afetou até mesmo a entrevista, inicialmente marcada para ser feita por telefone. Rahimi voltou atrás na última hora, alegando que a conversa representava um risco à sua segurança. Pediu para responder as perguntas por escrito.

R7 - Qual é a situação nas ruas de Teerã um ano após a reeleição de Ahmadinejad?

Babak Rahimi - A apatia parece ter tomado conta das ruas da capital. Ninguém quer falar sobre política, ninguém quer discutir o ano passado, como se estivessem em estado de negação, tentando reprimir uma memória dolorosa. Aqueles que são politicamente ativos estão muito desapontados com a decisão da oposição de cancelar o protesto de 12 de junho. Ao mesmo tempo, eles parecem aceitar isso. Este país parece ter um pensamento diferente daquele de 2009. A questão não é mais quem deveria ser o presidente
R7 - O cancelamento das manifestações é uma prova do poder repressor do regime dos aiatolás?

Rahimi - No curto prazo, acho que sim. Como em muitos regimes autoritários na América Latina ou na ex-União Soviética, a repressão [no Irã] é um jeito muito poderoso de minar a dissidência. Stalin [ex-ditador soviético] conseguiu governar o país com várias medidas repressivas. Este regime é um estudante da história, ele reconhece o poder das armas e das balas. Infelizmente, isso parece funcionar no curto prazo. No longo prazo, no entanto, o regime não consegue lidar com seu maior desafio: a legitimidade. Isso vai assombrar a República Islâmica por muitos anos.

R7 - E quanto à legitimidade diante da comunidade internacional?

Rahimi - O país é reconhecido no mundo como uma potência econômica e militar, mas não necessariamente como uma entidade política legítima. O maior problema para o regime, no entanto, é que ele começou a utilizar a retórica nacionalista para tentar ganhar apoio, especialmente no que diz respeito ao programa nuclear. Mas a minha impressão é que muitos estão começando a questionar esse comportamento globalmente. O programa nuclear vale a pena diante do isolamento internacional e da pressão indireta sobre o povo iraniano? Isso é o que muitos se perguntam.

R7 - O presidente Lula foi um dos primeiros a reconhecer a reeleição de Ahmadinejad. Como o senhor avalia esse fato?

Rahimi - Acho que o presidente Lula assumiu um grande risco ao reconhecer a Presidência de Ahmadinejad. Enquanto tenta turbinar o status do Brasil como um ator mundial, Lula escolheu um caso de risco para minar os princípios básicos que tornaram o novo Brasil famoso no mundo: o pluralismo democrático do melhor tipo.
Entre no nosso canal do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
 
xLuck.bet - Emoção é o nosso jogo!
Sitevip Internet