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Segunda-feira, 20 de maio de 2024

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Família e busca por emprego fazem 'heróis' trocarem Copa por 4ª divisão

Argentina e Nigéria jogaram neste sábado no moderno Ellis Park, em Joanesburgo, para um público estimado de 62 mil pessoas. Outros milhões acompanharam a estreia do time de Diego Maradona pela TV. No mesmo horário, as arquibancadas do Estádio Muncipal José Feres receberam 32 heróis que encararam a chuva fina e o frio da Grande São Paulo para assistir a Taboão da Serra x Palestra. É a quarta divisão do futebol paulista, única que não para durante a Copa do Mundo e terá jogos acontecendo ao longo do mês de junho. A partida, marcada para as 11h, teve vitória do Taboão por 3 a 1. O resultado, porém, é um mero detalhe.


No apito inicial, apenas 10 torcedores ocupavam os assentos do estádio. O restante chegou com o primeiro tempo em andamento. Ao mesmo tempo, oito policiais faziam a segurança no local, média de quase um por torcedor. O jogo tinha lá sua importância, pois valia a liderança do Grupo 6 da competição. Mas, para abandonar a Copa do Mundo e o conforto de casa em uma manhã gelada de sábado, só mesmo com um bom motivo. A busca por um emprego, por exemplo.

Foi isso que levou o trio Jackson, Jefferson e Gabriel ao estádio. Levados pelo pai de Gabriel, Francisco, eles saíram de Santo André e cruzaram a cidade de São Paulo para chegar em Taboão da Serra. Tudo pela promessa de um teste para jogar no time da casa. Um amigo em comum dos aspirantes a jogador - todos na faixa dos 18 anos - apresentaria os garotos ao presidente do Taboão, Eduardo Nóbrega, depois do fim do jogo.

- Só estamos aqui por causa desse teste. Nunca sairia de casa nesse frio para ver um jogo da quarta divisão, mas estamos em busca de uma oportunidade, né? - afirmou Jefferson, com muito bom humor.

No estádio por "obrigação", os garotos sequer assistiam ao jogo que se desenrolava em campo. Em volta de um celular com antena de TV, eles acompanhavam os lances de Argentina x Nigéria. Enquanto isso, o Taboão da Serra abria o placar, mas ninguém comemorou.

Enquanto Messi fazia duelo particular com o goleiro nigeriano Enyeama, quem roubava a cena no José Feres era o meio-campista Terrão. Com toque de bola refinado - pelo menos para os padrões da quarta divisão - ele comandou a vitória do time da casa. Aos 34 anos, Terrão fez a diferença. Tanta experiência precisava ser recompensada. Por isso, ele ostenta o maior salário do elenco: R$ 900.

Nem o presidente do clube conseguia tirar a cabeça da Copa do Mundo. De olho no Taboão da Serra, mas a todo momento no celular, Eduardo Nóbrega se mostrava ansioso para saber o resultado do jogo dos sul-americanos.

- Se eu pudesse, estaria em casa vendo a Copa. Mas sou presidente, não tem como fugir das obrigações. Minha esposa já me ligou e disse que estava na frente da TV. Estou com inveja dela - brincou Eduardo.

Familiares de jogadores engrossam torcida


Com o primeiro tempo já em andamento, o estádio José Feres começou a "lotar". Em sua maioria, de familiares dos jogadores. O volante Leandro, capitão do Palestra, recebeu torcida mais do que especial. Além dos pais, que seguem o jogador em todas as partidas, um grupo de quatro adolescentes chamava a atenção. As meninas se dizem amigas de Leandro e, mesmo no Dia dos Namorados, garantem não estar buscando um "affair" nos campos de futebol.

- Somos só amigas mesmo, juro - garantiu Luana, uma das fãs do volante.

Os pais de Leandro, Novais e Maria Neide, lamentavam o fato de o jogo ser realizado em horário da Copa. Mas garantem que vale a pena apoiar o filho, que tem 22 anos e passou pelo Corinthians nas categorias de base. Chegou até a disputar a Copa São Paulo pelo Timão.

- Temos que estar com ele sempre, o menino tem potencial. Sempre foi capitão por onde passou e está aí com a faixa de novo. Mas, e o jogo da Argentina, como está? - perguntou Novais, emendando uma gargalhada.

Outras famílias torceram e cornetaram arbitragem e técnicos dos times. Diego Vila Real, volante reserva do Taboão da Serra, tinha a torcida dos pais, de um tio e do primo. Jacinta, mãe de Diego, se protegia da garoa com um guarda-chuva e estava na expectativa da entrada do filho, que acabou ocorrendo no segundo tempo. Já o tio, Afonso, foi à partida mesmo sabendo que a Argentina jogava. Mas ele avisa que não vai ao estádio se o jogo for da seleção brasileira.

- Se marcarem jogo pro mesmo horário do Brasil, não venho. Aí seria complicado. O frio hoje está quase insuportável, mas viemos dar uma força para o Diego. Como é jogo da Argentina, fazemos esse esforço - disse Afonso.

Apenas um torcedor foi ao José Feres por vontade própria, sem ter ligação alguma com qualquer jogador. O bancário Sérgio Carvalho mora bem perto do estádio e garante que se sente melhor ali do que em frente à TV assistindo aos jogos da Copa. Um caso peculiar em meio a milhões de brasileiros.

- Aqui é mais gostoso, né? E tem jogos bons. O de hoje mesmo está legal. Acordei bem cedo, vi o jogo da Coreia do Sul (contra a Grécia) e resolvi vir. Prefiro aqui do que assistir pela TV. E como eu não vinha há algum tempo, senti que era hora de retornar. Copa para mim é essa daqui - explicou Sérgio.

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