Assim como uma pessoa magra pode perceber seu corpo como exageradamente gordo, muitas pessoas veem suas mãos de forma distorcida, mostra um novo estudo britânico. O estudo, que analisa a representação cerebral das mãos, mostra o cérebro mantém um modelo de mão em que os dedos são percebidos como sendo mais curtos e as nossas mãos mais gordas do que realmente são. Os neurocientistas suspeitam que essas distorções podem estar relacionadas à forma como o cérebro recebe informações de diferentes regiões da pele. Os resultados foram publicados na edição desta semana da revista Proceedings of National Academy of Sciences.

"A frase 'eu conheço a cidade como a palma da minha mão' sugere que temos um conhecimento quase perfeito do tamanho e aparência real dessa parte do nosso corpo, mas os resultados mostram que esta afirmação está longe de ser verdadeira", disse ao site Live Science o pesquisador Mateus Longo, da University College London, autor do estudo.

"Nossos resultados mostram grandes distorções na imagem que temos da nossa própria mão e eles foram altamente consistentes quando analisamos respostas de todos os participantes", disse ele.

Desajeitados
Os participantes do estudo foram convidados a colocar a palma da mão esquerda embaixo de uma placa e, por cima dela, localizar os dedos inteiros e a ponta deles apontando para onde eles achavam que estava cada um desses marcos. Uma câmera situada acima da placa registrava para onde o participante apontou. Juntando a localização de todos os marcos, os pesquisadores reconstruíram modelos cerebrais e mostraram distorções marcantes em relação à realidade. Os participantes estimaram que suas mãos eram de dois terços maiores a um terço menores do que as medições reais.

Os pesquisadores esperam descobrir como o cérebro sabe onde todas as partes do corpo estão no espaço, mesmo quando os olhos estão fechados - uma habilidade conhecida como "senso de posição." Os neurocientistas acreditam que o sentido de posição requer dois tipos distintos de informação: enquanto os sinais dos músculos e articulações que chegam ao cérebro desempenham um papel importante neste nosso sentido, o cérebro também precisa de um modelo da forma e tamanho de cada parte do corpo. Por exemplo, para saber onde o dedo está no espaço, o cérebro precisa de informações sobre os ângulos das articulações do braço e da mão, bem como o comprimento do braço, mão e dedo. É este o modelo do tamanho e da forma do nosso corpo que foi investigada neste estudo.

"Claro, nós sabemos como a nossa mão realmente parece", disse Longo. "Nossos participantes eram muito precisos em escolher uma foto de sua própria mão de um conjunto de fotos com várias distorções das formas da mão. Portanto, há claramente uma imagem visual consciente do corpo também. Mas a imagem visual não parece ser usada para o senso de posição", disse ele.

Distúrbios da imagem corporal
E algo semelhante a essa percepção distorcida pode estar ligada aos distúrbios de percepção da imagem corporal como a anorexia. "Estes resultados podem ser relevantes para condições psiquiátricas envolvendo a imagem corporal, como anorexia nervosa, mas podem também revelar uma tendência geral no sentido de perceber o próprio corpo mais amplo do que ele é. Nossos participantes saudáveis tinham uma imagem visual basicamente exata do seu próprio corpo, mas o modelo do cérebro que se refere ao sentido de posição era altamente distorcido. Essa percepção distorcida pode vir a dominar em algumas pessoas, levando a distorções maiores da imagem corporal, bem como nos distúrbios alimentares", disse Longo.

Os pesquisadores suspeitam que o modelo distorcido do cérebro sobre a forma do corpo deva-se à maneira como o cérebro 'sente' as diferentes partes do corpo. Por exemplo, as estimativas dos participantes sobre o comprimento dos seus dedos foi menos preciso quanto o dedo marcado era o polegar. A margem de erro foi diminuindo nos dedos progressivamente mais afastados do polegar.