“Dentro de mim há um homem e uma mulher”, diz Kaio Henrique Campos Alvim, procurando uma autodefinição. Há dois anos ele se transforma em Shayene Kathryn, uma bela morena de cabelos longos e cílios postiços. Foi assim que no último dia 12 ele venceu o Miss Universe Gay 2010.
O estudante de 18 anos de Barretos, interior de São Paulo, representava a França. Por conquistar a faixa e a coroa, Shayene ganhou um vestido assinado por uma ex-Miss Gay, um par de brincos de ouro, R$ 1.500 e uma viagem para qualquer lugar do Brasil com direito a acompanhante.
Foi a segunda vez que Kaio tentou conquistar o título de Miss Universe Gay. Em 2009, ficou em terceiro lugar. “Faltou produção. Não tinha peruca nem vestido, e não sabia me maquiar”, conta. Para este ano, ele conseguiu R$ 1 mil para o traje típico (no caso, uma dançarina de cancã) e R$ 500 para o de gala, um longo amarelo, com o qual recebeu a faixa.
“Sempre tive ‘a cara’, mas com a roupa nunca ninguém me ajudou”, lamenta Kaio, que em 2011 vai tentar o Miss Brasil Gay. “Este ano não vou participar porque faltam apenas dois meses e ainda não estou preparado. É mais concorrido e os vestidos são caros, não saem por menos de R$ 10 mil”.
A organização do concurso pagou a passagem e a estadia de Kaio em Salvador, onde aconteceu a final. Mas a família dele não pôde ir. Ele mora em Barretos com a mãe e a avó, e tem dois irmãos. Aos 12, contou para a família que gostava de meninos.
“Sentei na cama com minha mãe e disse que era gay. Ela pediu para eu ser feliz e para usar camisinha sempre. Nenhuma mãe gosta, né? Mas lá em casa ninguém opina”, conta ele, filho da dona de casa Dirce e caçula de três irmãos. “Sempre soube que gostava só de homens, nunca fiquei com mulher. Não tenho nem curiosidade”.
Há dez meses, Kaio namora um empresário que se chama Leandro. O sobrenome ele não revela, porque o namorado não é assumido. “Ele me apoia, é o homem da história. Para mim, não daria certo uma relação entre dois transformistas. Já pensou um querendo ser mais bonito do que o outro?”, diz o estudante, que nunca pensou em fazer cirurgia para mudar de sexo. “Isso é ser transexual, não tem nada a ver comigo”, afirma. “Sou homem de dia e Shayene à noite”.
No dia a dia, Kaio diz que é quieto e estuda muito. Ele cursa o terceiro ano do segundo grau, e vai prestar vestibular para moda – “quero ser um grande estilista, como Alexandre Herchcovitch e Alexander McQueen”. Escuta Britney Spears e Lady Gaga, e vive na internet lendo tudo que envolve concursos de miss gays.
“Quero me espelhar”, justifica ele, fã de Roberta Close. “Acho que me pareço muito com ela”. Como Shayene, diz que fica mais delicado e que sua voz afina. “É bom ser duas pessoas, mas prefiro ser a Shayene. Ela me traz mais emoção, o deslumbre da mulher”.
Com o novo título, agora Shayene Kathryn quer fazer shows. “Vou dublar músicas da Lorena Simpson, de quem sou fã. Vou apresentar a beleza. Vai ser glamour”, diz, com o “R” carregado.
