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Domingo, 19 de maio de 2024

Notícias | Brasil

Cineasta afirma que expulsão de traficantes não significa fim dos problemas de segurança

O cineasta carioca José Padilha, de "Tropa de elite", afirmou nesta sexta-feira (26) em debate no programa Estúdio I, da Globo News, que a expulsão dos traficantes da Vila Cruzeiro pela polícia nesta quinta não significa o fim do problema da segurança pública no Rio de Janeiro. Além das ações contra o tráfico, o diretor cobrou a reforma da polícia e do sistema prisional brasileiro.


"As imagens que a gente viu ontem expuseram o tamanho do problema que a gente tem pela frente. Mas não acho que tenha sido o Dia D. O Dia D será quando tiver um plano de segurança sério", disse Padilha. "Vai custar caro, a Olimpíada e a Copa do Mundo vão forçar a resolver, mas tem um perigo: é a gente achar que está numa guerra só contra o tráfico, o que não é verdade. A polícia não está reformada. A reforma custa caro, demora e não pode ser feita só pelo governo do estado. É preciso um plano nacional de segurança", defendeu, cobrando responsabilidades do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do atual, Lula, e do governador do Rio, Sérgio Cabral.

Em diversos momentos, Padilha ressaltou que a política de criação das UPPs, as Unidades Policiais Pacificadoras estimuladas pelo governo do estado do Rio com a intenção de combater a criminalidade nos morros, não resolverá sozinha os problemas da violência urbana no Rio.

"O projeto das UPPs vai gerar sempre esse tipo de evento. Esse projeto tem de ser pensado muito seriamente. É correto, é obrigação do estado tirar o tráfico armado das comunidades carentes, mas o estado está colocando quem no lugar dos traficantes? A polícia. E o que garante que esse esforço não vai substituir o domínio do tráfico pelo domínio das milícias?", questionou Padilha, ecoando o tema central de "Tropa de elite 2". "As UPPs são meio-plano, são a retomada das áreas ocupadas, mas é preciso reestruturar o processo que gerou isso."

Padilha citou seus dois filmes mais famosos, o documentário "Ônibus 174" e o primeiro "Tropa de elite", como veículos que usou para discutir quais seriam os fatores essenciais que gerariam o quadro de violência urbana que o Rio enfrenta hoje. No primeiro filme, tenta mostrar como as instituições do estado produzem violência: um ex-menino de rua que viu seus colegas serem assassinados por PMs na Candelária é colocado em instituições correcionais e sai delas mais violento do que entrou. No segundo, analisa como a própria instituição policial gera corrupção.

"Se você pegar os filmes, vai entender o que está acontecendo agora", comentou Padilha, depois de assistir a uma reportagem em que, além de seus longas, eram citados outros filmes como "Notícias de uma guerra particular", documentário de João Moreira Salles, e "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles.

Em resposta a um espectador que mandou e-mail ao programa afirmando que "Tropa" foi feito com a intenção de criar uma identificação entre o público e a polícia, Padilha discordou.

"Existe um apoio da população, uma iconização de um personagem particular, que é o Capitão Nascimento, que representa um policial 'honesto' [aspas dele], que não se corrompe, que resiste ao processo da instituição, mas se torna violento e abdica do respeito aos direitos humanos, tortura e mata. O apoio a ele acho que é reação ao estado das cosias, ao sofrimento de viver numa favela e ser domindao pelos traficantes. Mas não acho que a gente deve ver como bom o fato de o Rio ter um Batalhão de Operações Especiais como o Bope, isso não é bom."

E completou, mais adiante, citando uma frase usada no trailer de "Tropa 2": "O Bope foi transformado em uma máquina de guerra na vida real. E eu não me orgulho disso."
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