Sharon Azulay, de 19 anos, sempre sonhou em estudar psicologia. O mundo da moda, do qual sua família faz parte com a grife de moda praia Blue Man, pouco lhe interessava. Mas desde a morte repentina do pai, o empresário David Azulay, em 2009, a garota passou a olhar o legado paterno com mais carinho.
“Minha vontade sempre foi estudar psicologia mas acabei me matriculando em marketing na Universidade Estácio de Sá. Não cresci pensando ‘quero ser estilista da Blue Man’”, conta Sharon. “Mas parece que a intimidade com a fábrica veio no meu manual de instrução. Aos poucos vou descobrindo que o tal do DNA funciona mesmo”.
E na próxima quarta-feira (1), quando a Blue Man desfilar no Fashion Rio - coisa que acontece desde as primeiras edições da semana de moda carioca - Sharon sentirá gostinho da estreia. Será a primeira temporada da moça como diretora-geral da marca.
Seu primo mais velho, Thomaz, assina a coleção, que terá entre as tops na passarela, a modelo Lea T. A top transexual vai desfilar de biquíni pela primeira vez em passarela brasileira e será a estrela do catálogo do verão 2012 da grife em ensaio pelo fotógrafo Terry Richardson.
Superando a dor
Diante da perda do pai, a primeira reação de Sharon foi se afastar da fábrica onde o pai estava sempre presente. Azulay tinha apenas 56 anos e a causa da morte não foi divulgada.
“Fugi da fábrica porque era muito doloroso. Um ano depois minha avó morreu e comecei a ver que as coisas não estavam mais como antes. Percebi que era preciso um Azulay dentro do negócio", conta Sharon. "São 40 anos de empresa, eu tenho 19 anos, como fazer essa equação dar certo? Chamei o Thomaz [filho do Simon Azulay, irmão de David], e com o Marcio Coriolano na produção, deu samba”.
Os Azulay vieram do Pará para o Rio de Janeiro com pouquíssimos recursos e acabaram revolucionando a moda-praia. Mas o começo foi com o jeans. O tio, Simon , criou em 1979 a Yes Brazil, que com suas estampas, peças customizadas, um jeito carioca de vestir e desfiles perfomances, virou símbolo da identidade nacional.
E ao pai de Sharon, David, coube reinventar a moda praia incorporando ao design boas doses de brasilidade em estampas multicoloridas e desfiles cenografados por Bia Lessa, que faziam na passarela uma crônica do lifestyle carioca.
“Meu pai e meu tio chegaram com a mãe, costureira, do Pará, com pouco dinheiro. Um belo dia, minha avó chegou em casa e viu um jeans novinho, que o Simon tinha acabado de comprar, mergulhado em água oxigenada na banheira. Sem acreditar no que via, avisou: ‘vai estragar!", recorda Sharon.
Nascia assim o primeiro jeans customizado no Brasil. "Meu pai criou o biquíni de lacinho a partir de um tecido que rasgou”, lembra Sharon, que vai lançar uma edição limitada da Blue Man e abrir em outubro loja no sofisticado Village Mall, na Barra da Tijuca, no Rio De Janeiro.
Como é próprio de sua idade, Sharon tem planos ambiciosos para a grife. Primeiro, pretende "organizar a casa, se achar e depois fazer biquínis tipo exportação".
"Mas não quero fazer biquíni com bundão para americana. Vamos lançar também um mascote e apostar para o verão numa coleção exuberante e colorida,” adianta Sharon.
