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Domingo, 05 de maio de 2024

Notícias | Ciência & Saúde

Mudança climática não gerará aumento em doenças infecciosas

A mudança climática leva a culpa por muitas perspectivas obscuras para o futuro: elevação do nível do mar, secas mais freqüentes e desaparecimento de geleiras, só para nomear algumas. Mas talvez o aquecimento deva ser absolvido de um previsto aumento no problema global de doenças infecciosas.


Essa é a conclusão de um artigo da edição de abril do periódico Ecology, que defende que o escopo geográfico de doenças infecciosas tem mais chances de se transferir do que de se expandir. "Você geralmente vê uma lista de 12 coisas terríveis que vão acontecer com a mudança climática e o aumento de doenças infecciosas costuma estar nessa lista," disse Kevin Lafferty, ecologista da agência americana de estudos geológicos em Santa Barbara, Califórnia. Mas dados de doenças como febre amarela e malária, ele diz, fornecem "uma realidade diferente."

Outros cinco artigos da mesma edição do periódico discutem o trabalho de Lafferty, com visões amplamente diferentes. Sarah Randolph, ecologista de parasitas da Universidade de Oxford, Reino Unido, concorda com Lafferty e diz que o foco na mudança climática pode fazer com que cientistas e agentes da saúde pública deixem de prestar atenção nas reais razões por trás da propagação de doenças infecciosas.

Mas Mercedes Pascual, ecologista de doenças da Universidade de Michigan, em Ann Arbor, diz que outras causas são freqüentemente afetadas pela mudança climática. Polarizar as causas em clima versus qualquer outra coisa, ela afirma, "não ajuda."

Previsões obscuras
Estudos da segunda metade dos anos 1990 sugeriam que a elevação das temperaturas iria causar a expansão de doenças infecciosas pelo globo. Por exemplo, um relatório de 1999 da Royal Society da Grã-Bretanha chamado "Mudança Climática e Saúde Humana" previa que, até 2020, a incidência de malária iria aumentar 60%. Mas ecologistas agora dizem que esses estudos eram simplistas demais e não levavam em consideração o fato de que mesmo um grande aumento da temperatura pode resultar em uma chance muito pequena da doença aparecer em áreas onde a transmissão da mesma é baixa.

Mesmo assim, diz Lafferty, tem sido difícil contestar a idéia. Enquanto o planeta fica mais quente, insetos e outros transmissores podem se mudar para latitudes mais altas e altitudes que previamente eram frias demais. Segundo Lafferty, algumas das áreas mais quentes do alcance atual da doença podem se tornar quentes demais. Além disso, os vetores podem não encontrar animais hospedeiros apropriados nas áreas de alcance expandido, porque a biodiversidade tende a declinar à medida que nos afastamos dos trópicos.

Os críticos afirmam que os argumentos de Lafferty são falhos. A maioria das previsões climáticas sugere um aumento maior das temperaturas mínimas, como a do período noturno ou do inverno, do que das temperaturas máximas, aponta Richard Ostfeld, ecologista animal do Instituto Cary de Estudos do Ecossistema de Millbrook, Nova York.

Por causa disso, transmissores de doenças podem continuar confortáveis em suas áreas de alcance atuais. Andrew Dobson, ecologista de doenças infecciosas da Universidade Princeton, em Nova Jersey, acrescenta que uma menor diversidade de hospedeiros em novas áreas de alcance da doença poderia, na verdade, ser um problema para humanos, porque os vetores possivelmente optariam por morder ou picar humanos e seus animais de criação, ao invés de animais selvagens.

Além disso, diz Pascual, mesmo se o alcance de uma doença se transferir ao invés de expandir, o efeito na saúde humana ainda deverá piorar dramaticamente. Por exemplo, áreas de alta altitude na África que estão atualmente livres da malária têm populações muito maiores do que as regiões baixas com ocorrência de malária.

É também menos provável que as pessoas em áreas altas tenham adquirido imunidade, podendo ser mais afetadas pela doença. "Faz diferença ocorrer três milhões a mais de casos em áreas altas versus uma diminuição muito menor (de casos) em outro lugar," ela disse.

Mudando o alcance
Paul Epstein, médico e especialista em saúde pública do Centro para Saúde e Meio Ambiente Global da Escola Médica de Harvard, diz que as pessoas estão propensas a se mudar em grandes levas por causa da mudança climática, muitas vezes aumentando a densidade populacional de áreas já populosas como as terras altas da África. As implicações de uma mudança no alcance da doença, ele diz, não são que "tudo se equilibra. Existem impactos muito mais profundos."

Cientistas também debatem sobre se os recentes exemplos de aumento de doenças infecciosas podem ser explicados pela mudança climática. Lafferty e Randolph dizem que agricultura, viagens, transporte marítimo, resistência a drogas e pesticidas, e outros fatores econômicos e sociais podem ter um papel maior que o clima.

"Não existe nenhum caso de surto ou surgimento de uma doença infecciosa cuja causa seja a mudança climática," Randolph disse. Ela e Pascual estudaram o aumento de casos de malária nas terras altas da África Oriental nas últimas décadas e chegaram a conclusões opostas sobre a relação dos dados climáticos com o aumento da doença.

A chave para resolver essas questões, dizem muitos cientistas, é encontrar dados de longo prazo com informações tanto sobre doenças quanto sobre clima. Por causa da dinâmica do ecossistema e da complexidade da doença, fazer generalizações sobre áreas amplas sempre será problemático.

"O que acontece em um lugar pode não prever exatamente o que vai acontecer em outro lugar," disse David Relman, microbiologista e especialista em doenças infecciosas da Universidade de Stanford em Palo Alto, Califórnia, que comandou o relatório de 2008 do Instituto de Medicina, intitulado Mudança Climática Global e Acontecimentos Extremos do Tempo, sobre questões similares. "Essas são grandes questões não respondidas. Você vai encontrar muita opinião, mas não muitos dados."
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