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Segunda-feira, 12 de agosto de 2024

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Escola de Cuiabá isola porão onde alunas teriam sofrido abuso sexual

A rotina da Escola Estadual Marcelina de Campos, em Cuiabá, não é mais a mesma há 10 dias, desde que o local virou alvo de uma investigação policial depois que um professor de matemática foi apontado por três alunas de 8, 10 e 13 anos, como suspeito de ter abusado sexualmente de todas elas. Segundo a denúncia, os abusos teriam acontecido no porão da escola. O professor, que tem 43 anos, está preso preventivamente no Anexo II da Penitenciária Central do Estado (PCE) desde o dia 29 de maio.


Depois de o fato vir à tona, a direção da escola tomou algumas medidas. A principal foi isolar o acesso dos alunos ao porão com a instalação de um portão. Antes do escândalo, as crianças brincavam livremente na quadra de esportes da escola, onde também está localizado o porão. Atualmente, as brincadeiras estão concentradas apenas no pequeno pátio da instituição, que fica no bairro Santa Amália.

Segundo uma aluna do quinto ano ouvida pelo G1, o porão é escuro, cheira a mofo e é utilizado pela escola para guardar produtos de limpeza, bandeiras e documentos antigos. Além dos abusos, outra aluna relatou ao G1 que o local também servia para encontros entre os estudantes. “Entravam um monte de guri lá com meninas. Um menino arrebentou o cadeado da porta só para entrar lá”, afirmou a aluna.

Uma das responsáveis pela investigação, a delegada Luciani Barros classificou o porão de ‘esquisito’ e que não “deveria ter numa escola”. O G1 apurou que a porta que dá acesso ao local também recebeu uma grade para dificultar o acesso dos estudantes. O muro da escola também deve ser aumentado e um matagal podado.

Desde o ocorrido, alunos e professores da Marcelina de Campos convivem sob um clima de apreensão. Uma professora que falou ao G1, mas preferiu não se identificar, disse que era impossível acreditar que o colega de trabalho dela teria sido o autor dos crimes sexuais. “Ele era maravilhoso, um professor exemplar e dedicado. Nunca isso teria passado pela minha cabeça”, afirmou.

O G1 passou algumas horas na escola e acompanhou de longe o vaivém de crianças do quinto e sexto períodos com idades entre oito e nove anos deixando as salas de aula para prestar depoimento às delegadas da Delegacia Especializada de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Deddica). A cada fila formada pelas crianças rumo à sala dos depoimentos, outros alunos do lado de fora diziam: “Ela também foi abusada?”. “Eu não estou acreditando que ela também foi para o porão”.

As crianças que prestaram depoimento à polícia foram as mesmas que apareceram nas imagens gravadas pelas câmeras instaladas na escola entrando no porão no período em que os abusos teriam ocorrido. Outras menores que tomaram conhecimento do fato pelas supostas vítimas também foram ouvidas. Os depoimentos se sucederam ao longo desta semana tanto na escola como na sede da Deddica. As delegadas têm um prazo exíguo para concluir o inquérito porque o suspeito está preso.

Duas crianças que foram retiradas da sala de aula para prestar esclarecimentos à polícia saíram da escola chorando. Ao G1, elas disseram estar com medo. “Elas [delegadas] chamaram todo mundo que era amiga das meninas [vítimas dos abusos]”, disse uma estudante.

Acompanhamento psicológico

Para a Secretaria Estadual de Educação (Seduc), o caso é atípico e merece um acompanhamento sistemático para reverter o dano causado na escola. Em entrevista ao G1, a secretária-adjunta de Políticas Educacionais da Seduc, Ema Marta Dunck Cintra, afirmou que tanto os professores, como os alunos, de uma forma geral, estão sendo acompanhados por uma equipe de especialistas da Seduc. “Estamos fazendo aquilo que compete à Seduc dando apoio psicológico às crianças e professores que foram afetados pelo problema”, disse.

Ema Cintra ainda declarou que durante as investigações da polícia, o professor envolvido no escândalo não poderá voltar à sala de aula até o encerramento dos procedimentos da polícia. E se o professor for considerado culpado pelos crimes, ele deve ser exonerado dos quadros da rede estadual de ensino. Em paralelo às investigações da polícia, um procedimento administrativo foi aberto pela Seduc para apurar a conduta do servidor.

Entenda o caso

Os casos de abusos sexuais foram descobertos na Escola Marcelina de Campos após uma das supostas vítimas do professor, de 10 anos, ter aparecido na escola com notas de R$ 50, o que chamou a atenção da direção da unidade.

Conforme informou a polícia, a coordenadoria da escola pediu explicações à família da criança. Depois de várias tentativas, a vítima contou, primeiramente, à namorada do irmão, que era estuprada rotineiramente pelo professor.
De acordo com a delegada Luciani Barros, a primeira vítima do professor foi uma adolescente de 13 anos e o abuso sexual teria acontecido no dia 2 de abril. A adolescente foi chamada pelo suspeito para um encontro marcado no porão da escola. Lá, ela foi estuprada e depois, segundo a polícia, foi orientada pelo suspeito a chamar ‘outra coleguinha’, a vítima de 8 anos, que também teria sido abusada no local.

As vítimas de 8 e 13 anos disseram à polícia que foram abusadas pelo professor apenas uma vez, mas a menina de 10 anos revelou que além dos abusos serem constantes, ela era coagida pelo suspeito a não contar o que ele fazia com ela a ninguém.

De acordo com a perícia da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp), as meninas de 13 e 10 anos foram estupradas. Já a criança de 8 anos foi vítima de atos libidinosos. A conclusão consta em laudos periciais que foram juntados ao inquérito.

O que mais intriga polícia é que as vítimas não tinham contato com o professor. Todas elas estudavam à tarde, período em que o suspeito não dava aulas. Ele trabalhava desde 2011 na escola e, inclusive, chegou a ser coordenador da unidade, o que, para a polícia o tornou ‘isento de qualquer suspeita’.
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