A vitória do Luverdense de 1 a 0 sobre o Corinthians, nesta quarta-feira à noite, no Estádio Passo das Emas pela primeira partida das oitavas de final de Copa do Brasil, foi marcada por vários ingredientes que somente o futebol proporciona, como a vitória de um clube que está na Série “C” do Campeonato Brasileiro em cima do atual campeão mundial de clubes.

O time de Lucas do Rio Verde (350 km de Cuiabá) entrou em campo com um objetivo bem traçado por seu treinador, Junior Rocha: não deixar o adversário jogar. Com a tal “marcação encaixada”, os jogadores do Luverdense não deram espaço suficiente para que os corintianos fizessem jogadas.

E a marcação funcionou bem. Os luverdenses jogaram com muita garra e não tinha “bola perdida” durante o jogo, eles dividiam todas. A vontade de vencer era evidente nos rostos dos atletas do Luverdense. Quem estava no campo de jogo, ao lado do gramado fazendo a cobertura da partida, enxergava detalhes que muitas vezes a TV não mostra, como a aplicação individual de cada jogador.

Luverdense faz gol e sai a frente do Corinthians na Copa do Brasil; veja fotos

O campo com dimensões bem menores que a oficial também foi ponto positivo para o time mato-grossense conseguir encaixar a marcação. Parecia que os corintianos estavam meio “perdidos” dentro de campo devido à falta de espaço para dominar a bola e raciocinar para completar a jogada. Em um lance no primeiro tempo, por exemplo, o atacante Alexandre Pato chegou a sair com bola e tudo pela linha lateral do campo.

Esses ingredientes narrados até aqui foram criando um ambiente favorável ao Luverdense – que venceu as quatro partidas da Copa do Brasil disputadas dentro do Passo das Emas. As melhores jogadas de ataque surgiram dentro da área do Corinthians. Parecia que a bola "pedia" para um jogador de camisa branca e verde chutá-la para dentro do gol de Cássio.

E assim foi até o final da segunda etapa, quando, aos 44 minutos, em uma jogada já ensaiada pelo Luverdense, a bola foi lançada dentro da área por cima da zaga corintiana para o atacante Mizael. Ele não perdeu a chance, ganhou a frente do zagueiro, dominou e mandou para o fundo da rede. A vitória com requintes de “Davi x Golias” estava estampada no Passo das Emas. O gol de Mizael foi como uma pedrada na cabeça do “Timão”, que caiu de joelhos para o futebol de Mato Grosso (O presidente Helmute Lawish já havia dito: “O Brasil vai ver que em Mato Grosso tem futebol de qualidade”).

Treinador do Luverdense relembra Tolima, que eliminou Corinthians de Libertadores

As polêmicas ficaram por conta de duas expulsões e do domínio de uma bola com a mão no momento do gol. As expulsões foram do atacante corintiano Emerson Sheik – que havia entrado no segundo tempo - e do zagueiro luverdense Zé Roberto. Depois de uma dividida de bola, Sheik caiu e pediu falta. Mas os jogadores do Luverdense reclamaram ao árbitro da partida que houve simulação do atacante. Empurra daqui, xinga de lá, e os dois receberam o cartão vermelho.

Já o lance polêmico foi no lançamento para Mizael fazer o gol, que quando foi dominar tocou a bola com a mão. O árbitro estava com a visão “encoberta”, pois havia um jogador entre ele e onde estava a bola. Depois de tocar a mão na bola, o atacante luverdense ficou “cara a cara” com o goleiro Cássio e não perdoou: bola na rede e explosão verde e branca nas arquibancadas.

O desdém evidente ficou por parte da “grande imprensa esportiva”, principalmente por parte de alguns jornalistas da TV Band. Nos dois dias que antecederam ao jogo, comentaristas da emissora questionaram muito a realização da partida em Lucas do Rio Verde, por causa da capacidade do estádio, a localização da cidade, a logística necessária para sair de São Paulo e chegar ao Norte de Mato Grosso.

O comentarista José Ferreira Neto, o “Neto”, chegou a fazer comentários retrógrados com relação ao local onde o avião fretado pelo Corinthians iria pousar: o João Batista Figueiredo, em Sinop. Ele disse que não sabia como a aeronave corintiana iria pousar em Sinop, já que, certa vez ele foi ao município de avião e pensou que “iria morrer” quando viu, da janela do avião em que estava, o aeroporto que pousaria.

Parte da sociedade organizada sinopense chegou a mencionar a possibilidade de processar o comentarista da Band pelo comentário pejorativo que fez, pois, atualmente, o aeroporto de Sinop recebe cinco voos comerciais diários com aviões de médio porte – três deles com jatos com capacidade de 70 passageiros.

Alheio a tudo isso, o Luverdense fez seu dever: marcou o adversário, se aplicou, atacou e fez o gol que garantiu o placar histórico para o clube. O campeão mato-grossense derrotou o campeão mundial. Davi venceu Golias. Venceu quem mereceu.