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Segunda-feira, 06 de maio de 2024

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Histórias que mostram que é possível mudar

O Dia Estadual da Ressocialização foi celebrado em 26 de agosto. Em alusão a data, foram realizados eventos para mostrar as transformações e histórias que acontecem no Sistema Penitenciário de Mato Grosso. Exemplos de superação de como o trabalho pode dar uma nova chance para os recuperandos. 


Adriana Silva Duarte Quinteiro morava em Diamantino e trabalhava para a prefeitura como monitora nas aulas de informática e vôlei. No ano 2000 passou no concurso para agente do Sistema Penitenciário e desde então se foram 15 anos, sendo 12 como diretora de unidades penitenciárias. 

“Quando eu trabalhava para a prefeitura, lidava com crianças e adolescentes problemáticos na escola. Mas ao assumir como agente tomei um choque, pois nessa época a realidade era totalmente diferente de hoje. O nosso trabalho era só cuidar de preso. Com o tempo fomos ampliando essa visão do sistema penitenciário e começamos a trabalhar com esses desafios, por exemplo, implantar uma sala de aula na unidade, ampliar pontos de trabalho”, explica Adriana. 

Agente penitenciária entre 2000 e 2003 ela lembra as dificuldades da época. Eram apenas três servidores para cuidar de cem recuperandos, apenas um por plantão. A carga de trabalho era dividida com agentes da Polícia Judiciária Civil (PJC). A unidade atendia a Comarca de Nova Mutum e não tinha viatura, era preciso realizar a escolta a pé, ou utilizar viaturas da PJC e da Polícia Militar. 

“Em 2003, época da criação do Sistema Penitenciário, eu cursava Direito e o então delegado pediu que assumisse a unidade, pois tinha conhecimento administrativo e da carceragem”, lembra a agente. Como diretora, formou a primeira turma de Ensino Fundamental e Médio da Escola Estadual Nova Chance, em 2013. Parcerias com a Fundação Nova Chance (Funac) e o sistema S permitiram que os recuperandos fossem tirados da ociosidade. 

Com a experiência de Diamantino, foi convidada para gerir a Cadeia Pública Feminina de Nortelândia, que assumiu em 31 de janeiro de 2014. A unidade tem três anos e foi criada para atender a demanda no estado. Antes, as recuperandas precisavam ir para Cuiabá, Tangará da Serra ou Sinop. 

Adriana conta que o público feminino tem as suas peculiaridades, entre eles, o abandono. A construção da unidade colabora na reinserção social e familiar dessas mulheres, pois a distância da família reforça o abandono. As reclusas na unidade tem assistência educacional para alfabetização e serão preparadas para concluir o Ensino Médio. Elas ainda foram qualificadas como maquiadoras, manicure e pedicure e estão aptas para o mercado de trabalho. 

Oportunidade com as tintas 

“Eu não sei só copiar, eu sei criar. Eu faço esse trabalho porque a venda é mais rápida e eu preciso ajudar a minha família”, se explica o artista plástico Eurico no início da nossa conversa. Nascido em Chapada dos Guimarães, e criado em Cuiabá pela avó que sustenta mais cinco crianças e outros adolescentes, Eurico passou alguns anos entre a Penitenciária Central do Estado (PCE) e o Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC). 

O recuperando, que já progrediu para o regime aberto, pinta com uma técnica em areia quadros de artistas como Romero Britto. Ela recebe um salário mínimo da Fundação Nova Chance (Funac) para qualificar outros recuperandos no CRC, com o objetivo é ampliar o projeto para outras unidades. 

Antes de ser preso pela primeira vez em 2004, por roubo à mão armada, ele trabalhava como pintor, coloria residências, demarcava quadra de esportes e estacionamento. Levado ao CRC após o primeiro crime e transferido para a PCE, foi no Raio 4 daquela unidade que ele fez o primeiro experimento com moldura de papelão. O resultado “ficou bem bregona”, resume o artista. Enquanto interno, fez o ensino formal, concluiu o Ensino Médio, e realizou outros cursos profissionalizantes. 

Em liberdade por um ano e três meses, foi preso novamente por tentativa de assalto e mandado para o CRC. Lá percebeu que só tinha duas saídas, “ou me entrosava com quem estava no mundo do crime ou eu mudava. Decidi mudar, exercer essa nova profissão que está dentro de meu coração”. 

Após a segunda prisão, a esposa, mãe de seus dois filhos, decidiu se separar. Dez meses após a separação, ainda recluso, Eurico conheceu a atual companheira, mãe de outro recuperando. “Quando ela me conheceu, ela disse, ‘vou alugar uma casa pra quando você sair não se envolver com nada de errado’. Estamos juntos e eu vivo da minha arte”, conta Eurico. 

O artista plástico pinta por encomenda, cobrando à partir de R$ 300,00 por um quadro de tamanho padrão. Com esse dinheiro e o salário da Funac ele paga aluguel, se alimenta e colabora com a criação dos filhos. “Meu sonho agora é a casa própria, moro em duas peças, quero um lugar bom e seguro para poder levar meus filhos e me sentir digno de novo”, finaliza. 
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