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Sábado, 18 de maio de 2024

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Após sumiço de jovens, sociólogo explica que impunidade gera “justiça com as próprias mãos”

Foto: Rogério Florentino Pereira/Olhar Direto/Reprodução

Após sumiço de jovens, sociólogo explica que impunidade gera “justiça com as próprias mãos”
“Estamos vivendo uma descrença total no nosso país”. A análise é do professor doutor em Sociologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Naldson Ramos. Em entrevista ao Olhar Direto, ele comentou sobre o caso dos três jovens que desapareceram após uma abordagem da Polícia Militar, sendo que dois deles foram encontrados mortos na noite da última quinta-feira (19): “A impunidade gera a justiça com as próprias mãos e a criação de grupos de extermínio”.


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Os corpos de João Vitor de Oliveira, de 20 anos e Hugo da Silva Salomé, de 19, foram encontrados enterrados em uma área da cidade de Barão de Melgaço (128 km de Cuiabá) na noite de quinta-feira (19). Familiares foram comunicados das mortes na manhã de sexta-feira (20), por uma equipe da Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP) e estiveram no Instituto Médico Legal (IML) para fazer o reconhecimento dos jovens.
 
Os dois rapazes foram vistos pela última vez ao serem abordados por um policial militar em uma viatura descaracterizada, no bairro São João Del Rey, em Cuiabá, na data de 10 de janeiro. A família de João Vitor de Oliveira denunciou ainda à Corregedoria da Polícia Militar que ele havia sido ameaçado de morte por um sargento da Polícia Militar (PM).
 
O sociólogo analisou que “nos últimos quatro anos em Cuiabá, estão acontecendo execuções sumárias. Elas são feitas notadamente por grupos organizados, que tem como objetivo tirar de circulação quem tem passagem pela policia. Por outro lado, já vimos que as autoridades investigaram e descobriram a existência de policiais nos grupos de extermínio”.
 
“Isso revela que a impunidade acaba gerando estas atitudes por parte das pessoas. Na medida em que estas pessoas cometem um ou dois assassinatos e veem que não estão sendo punidas, isso faz com que elas sejam encorajadas a continuar. Nem sempre as corregedorias fazem o trabalho com transparência. A sociedade não vê os resultados. A Polícia Judiciária Civil (PJC) precisa responsabilizar os autores, sejam eles quem for”, completa o sociólogo.
 
Recentemente, em entrevista ao Olhar Direto, a irmã de Hugo, Luzia Canette, relatou ter sido satirizada e ameaçada durante a procura pelos rapazes. “A PM ri da minha cara, do nosso desespero. Dizem que não procuramos meu irmão direito, por isso ele não foi encontrado.” Além do descaso, eles também se sentiam intimidados uma vez que viaturas da PM frequentemente tem rondado suas residências.
 
O professor analisou ainda que a falta de ‘status social’ das vítimas e o fato de que a maioria tem passagens pela polícia também contribuem para que a impunidade seja maior: “Mesmo que não tenha passagem, só o fato de andar junto, ter amizade, acaba sendo um ‘motivo’ desta justiça cega. As próprias sentenças brandas aplicadas pelo Judiciário também são motivo para encorajar a justiça com as próprias mãos”.
 
Desaparecido
 
Desaparecido desde o dia 13 de dezembro do ano passado, o jovem Ronaldo Vargas da Cunha, de 25 anos, vem sendo procurado por amigos familiares que se mobilizam para obter informações sobre seu paradeiro. Ele foi visto pela última vez ao entrar em uma viatura da Polícia Militar (PM), na cidade de Rosário Oeste (111 km de Cuiabá), onde mora com a avó. De acordo com informações repassadas a sua namorada, Joice dos Santos, ele estava em uma bicicleta, que foi deixada no local após a abordagem.
 
A situação foi registrada no bairro Nossa Senhora Aparecida quando o rapaz voltava da casa de um amigo, onde teria ido baixar jogos de internet. Na ocasião, ele chegou a mandar uma mensagem dizendo que estava voltando para casa. Em seguida, por volta de 11h40, ligou para a namorada que não viu a chamada no momento e tentou retornar mais tarde. “Não retornei na hora porque imaginei que estava dormindo. Desde então, tenho ligado todo dia e só cai na caixa de mensagem”, afirma a moça.
 
Ao Olhar Direto, Joice relatou que continua sem informações sobre o namorado: “Ninguém fala nada. Ele morava com a avó e ela pergunta dele todo dia. Até agora estamos ‘no escuro’. Continuamos com a esperança de encontrá-lo e pedindo ajuda para quem sabe de alguma coisa”.
 
Solução?
 
O sociólogo Naldson Ramos avalia que no caso de execuções, “é só reprimindo que você vai diminuir casos como este. Precisa investigar a fundo, punir os responsáveis não importando o cargo ou status social. Se o Estado apresenta uma resposta imediata, inibe que outras pessoas, ou as mesmas, voltem a cometer este tipo de crime”.
 
“A pistolagem se trata de questão de valores. O devido rigor deve ser aplicado. É preciso empenho da Polícia Judiciária Civil (PJC) e também da Justiça”, garante o professor.
 
Polícia Militar
 
A assessoria de imprensa da Polícia Militar informou ao Olhar Direto que a instituição não comenta os procedimentos da corregedoria que estão em andamento e informa que tudo está sendo investigado dentro do prazo legal, que é de 60 dias. Também foi adiantado para a reportagem que várias pessoas estão sendo ouvidos sobre o caso.
 
Polícia Civil

A assessoria de imprensa da Polícia Civil informou que diligências continuam sendo feitas e os casos estão sendo investigados pelas respectivas delegacias. Os delegados preferiram apenas dar informações quando houver algo de concreto sobre os casos.
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