Olhar Direto

Domingo, 28 de abril de 2024

Notícias | Cidades

ACOLHIDOS

Fugindo da fome, venezuelanos buscam recomeçar a vida em Cuiabá

Foto: Rogério Florentino Pereira/ Olhar Direto

Victor Rafael

Victor Rafael

Os 66 venezuelanos que chegaram a Cuiabá na manhã do último dia 6, possuem histórias de vida distintas, no entanto, deixaram seu país pelo mesmo motivo, a fome. Eles cruzaram a fronteira com o Brasil, indo parar em Boa Vista, em Roraima, na esperança de conseguir uma vida melhor. Muitos deles depois foram enviados para outras regiões do país. Sem esperança, eles não acreditam que a situação em seu país deva melhorar tão cedo. Agora eles buscam reconstruir a vida no Brasil, um país onde não conhecem ninguém e não dominam o idioma.


Leia mais:
Venezuelanos recebem vacinação, doações e serão incluídos em programas assistenciais
 
A Pastoral do Migrante, em Cuiabá, tem oferecido assistência aos estrangeiros. Além de acolhê-los em uma casa, no Carumbé, em parceria com o Ministério do Trabalho e com a Organização Internacional do trabalho, têm buscado inserir os estrangeiros no mercado de trabalho formal.

A preocupação é que os haitianos, venezuelanos e pessoas de outros países encontrem um empregador que se aproveite da situação deles, tratando-os como mão de obra barata, sem lhes oferecer direitos.

De acordo com a Pastoral, quem entrou em contado com eles foi o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), agência da Organização das Nações Unidas (ONU). Por causa da crise da imigração em massa de venezuelanos em Boa Vista (RR), alguns Estados já começaram a receber os estrangeiros. Além de Cuiabá outras cidades como Manaus, Curitiba e São Paulo também os acolheram.

As histórias deles são distintas. Uma grávida que veio com o marido e espera se reencontrar com a irmã. Uma jovem que perdeu os pais e agora segue sozinha. Crianças, jovens, adultos e idosos são os refugiados.

Alguns possuem formação superior e outros nem concluíram a educação básica. Em Cuiabá alguns deles já conseguiram emprego, porém, muitos ainda buscam vagas e ficam ansiosos para começar a trabalhar.

Sudair Sericoto é uma mãe venezuelana que fugiu de seu país temendo pela segurança de seus filhos. Ela contou que em sua cidade, na Venezuela, por necessidade e para conseguir dinheiro, muitas pessoas começaram a vender uma espécie de mandioca que é venenosa. Os compradores, enganados, acabam comendo o produto e, segundo Sudair, muitas crianças chegaram a morrer. Com medo, ela fugiu para o Brasil e aqui pretende ficar.

“Reuni toda a minha família e vim embora. Lá venezuelanos matavam outros venezuelanos, vendiam a mandioca amarga só para ganhar dinheiro, e as crianças acabavam morrendo, aí decidi sair de lá e vir para o Brasil. Quero ficar por aqui, trabalhar, conseguir moradia, para sustentar minha família”.
 
O instrutor de direção Victor Rafael Lugo, de 57 anos, fugiu por causa da fome. Ele morava em Maracay, com a esposa e dois filhos. Segundo ele, a situação no país começou a piorar quando o petróleo (principal comódite vendida pelo país) teve seu preço reduzido e por causa de desvios e corrupção, quando o Governo instaurou medidas para assistir a população.

“De cinco anos para cá aconteceu uma decomposição social por causa do problema da comida. Uma série de decretos foram feitos para melhorar a situação da comida, dos remédios da moradia. Queriam oferecer o essencial ao povo, porém, foi desviado. O essencial não chegava ao povo, houve muita corrupção”, contou.

Ele conta que após perder o emprego, chegou a vender suas propriedades para conseguir dinheiro para comer. Victor disse que começaram a surgir “cambistas” de remédios e comida, o que dificultou mais ainda a vida da população.

“Foi em um impulso de necessidade. Porque não há trabalho então não da para comprar nada, vendi a casa e não deu para comprar nada, vendi o carro e não pude comprar nada. Minha esposa e eu viemos porque ela precisa de um remédio e lá não encontrávamos, vendi a casa, vendi o carro, mas não encontrava o remédio, não encontrava o que comer. Lá há criminalidade pela necessidade de comer, conheci uma pessoa que estava pesando 45 quilos”.

Ainda na Venezuela ele ouvia de outros venezuelanos que vieram para o Brasil que a situação aqui estava melhor, que conseguiam emprego e dinheiro. No entanto, ao cruzar a fronteira encontrou outra realidade. Assim como ele, outros 40 mil venezuelanos decidiram seguir para o Brasil.

“Quando cheguei ao Brasil vi que não era como estavam contando, os venezuelanos diziam que estavam conseguindo trabalho, que estavam conseguindo dinheiro. Eu fui para Boa Vista, e lá tinham 40 mil venezuelanos. Isso causou um impacto social na população de Boa Vista, não havia trabalho, nem os brasileiros conseguiam trabalhar, nem os peruanos, nem os chilenos”.

Ele contou que se surpreendeu com a hospitalidade dos brasileiros. Com carinho ele lembra dos brasileiros que o ajudaram quando chegou, que deixaram uma imagem positiva do país.

“Quando cheguei não conhecia nada nem ninguém. Em Boa Vista conheci uma senhora brasileira muito boa, a senhora Maria e o senhor Max, não me conheciam e me ofereceram comida, ofereceram água, abrigo quando eu não tinha. É claro  que na Venezuela existem pessoas más e pessoas boas, mas no Brasil, os brasileiros que conheci, a impressão que tive é que o povo brasileiro é muito bom”.

Por causa da crise em seu país sua família foi separada. Um de seus filhos seguiu para a Costa Rica e outro veio para o Brasil e daqui seguiu para a Argentina. Victor não pretende morar aqui, o que quer é juntar dinheiro para ir se encontrar com o filho na Costa Rica e lá reunir sua família.

“Esta má política econômica deste Governo está desmembrando famílias. A minha família está toda separada. Quero trabalhar para juntar dinheiro e comprar uma passagem para ir à Costa Rica, porque lá é uma ilha. Quero encontrar meu filho, quero reunir toda a família, viver uma vida cotidiana com todos juntos”.

Apesar dos problemas que seu país enfrenta, Victor afirma que tem orgulho de ser venezuelano e um dia pretende voltar para lá, quando a situação melhorar, para visitar o restante da família

“Venezuela tem muitas riquezas minerais, muitas riquezas naturais. Tenho irmãos e tios lá, não sei quanto tempo irá demorar esta situação na Venezuela, mas quando melhorar pretendo voltar, é meu país, onde nasci, de onde sou. Eu me sinto orgulhoso de ser Venezuelano porque é um país que se aliou à liberdade, cinco nações foram libertados da prisão, naquele tempo, da Espanha”.
Entre no nosso canal do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
 

Comentários no Facebook

xLuck.bet - Emoção é o nosso jogo!
Sitevip Internet