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Sábado, 04 de maio de 2024

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TRABALHAM 10 ANOS

Saiba como é o treinamento dos cães de resgate do Corpo de Bombeiros; oito atuam em Mato Grosso

Foto: Rogério Florentino

Saiba como é o treinamento dos cães de resgate do Corpo de Bombeiros; oito atuam em Mato Grosso
O Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso há seis anos conta com a ajuda de alguns agentes especiais. Os cães de resgate ajudam os militares a salvar vidas de pessoas perdidas em matas, escombros ou em afogamentos. Com habilidades que o homem não possui, eles são essenciais em alguns tipos de ocorrência. O trabalho com eles começou a ser feito no Estado após o incidente de deslizamento de terra em Colíder, em 2012. De lá para cá o trabalho vem crescendo e hoje oito cães de resgate atuam em Mato Grosso.

 
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O sub-comandante do 2º Batalhão dos Bombeiros em Várzea Grande, o capitão Marcondes é um dos pioneiros do trabalho em Mato Grosso. Ele conta que teve contato com o trabalho dos cães em uma operação de 2012, de um deslizamento de terra em uma obra de construção de uma usina hidrelétrica em Colíder.

“Nessa ocorrência teve um deslizamento de terra, soterrou alguns caminhões e um trabalhador ficou desaparecido. E nessa época veio um grupo de voluntários, bombeiros de Santa Catarina, vieram com os cães. No final a gente não conseguiu localizar o trabalhador, era uma ocorrência complexa, muito próxima a um rio, durou mais de um mês, mas nisso a gente fez contato com esse pessoal e em seguida eles foram a Colíder ministrar o treinamento, então a gente conseguiu alguns cães e começou o trabalho”, contou.

O capitão Marcondes explicou que para um cão atuar no trabalho de resgate a iniciativa parte de um bombeiro. O oficial busca o treinamento de adestramento, adquire um cão filhote, e o capacita para atuar na corporação. É feito então um termo de doação para o Estado e o cão e pode oficialmente começar o trabalho. Antes de atuar, porém, eles devem passar por uma prova.

“Então o militar faz cursos de capacitação, adquire o cão ou é feita uma doação, e este militar pega este cão e adota, vai levar ele para casa, vai criar junto com a sua família, e começa o trabalho de treinamento. Treina em casa, treina quando vem para o quartel, a gente monta equipamentos com equipes maiores para treiná-los. Depois quando chega à fase adulta, que para estes cães de médio porte é a faixa etária de um ano e meio mais ou menos, eles passam por uma prova de certificação, há uma comissão de avaliadores e é feito um simulado, como se fosse uma ocorrência, e o cão que passa está apto a atuar em ocorrências reais”.



O capitão é dono da labradora Sharon. Ele a adquiriu logo após passar pela capacitação dos bombeiros de Santa Catarina, quando a cadela ainda tinha dois meses de vida. O militar a levou para casa e lá mesmo já começou a treiná-la.

“Em geral eles começam a ser treinados desde os dois meses de vida. A princípio com brincadeiras simples, como buscar algum brinquedo, ou também nos escondemos para ele nos procurarem. Colocamos alguns odores específicos nos brinquedos às vezes, para estimular a capacidade olfativa deles. Mas para eles é tudo uma brincadeira. Quando realizam alguma tarefa, obedecem alguma ordem, recebem um carinho, um petisco ou um brinquedo”.



O capitão também explicou que não é qualquer cachorro que pode atuar como cão de resgate dos bombeiros. É exigida uma certa aptidão física e, principalmente, bom relacionamento com pessoas.

“São cães que, por via de regra, não apresentam medo, não são retraídos, tem boa socialização com pessoas, lidam bem com barulho e que gostam de brincar. O cachorro tem que gostar e ir com todo mundo, porque ele vai encontrar pessoas que ele não conhece. E para ele é uma brincadeira, toda vez que ele encontra a pessoa, jogamos um brinquedo, fazemos um carinho”.

O militar que decidir treinar algum cão de resgate pode se especializar em casos de mergulho, salvamento em altura, incêndio florestal, entre outros. As especialidades são ofertadas e o próprio oficial decide se irá se inscrever ou não.

Em Mato Grosso existem especialidades variadas. Duas cadelas do canil do 2º Batalhão de Várzea Grande são especializadas em resgate e a terceira está em treinamento para atuar como cão de rastreio. No último dia 2 de julho, a cadela Mel, do batalhão de Jaciara, foi utilizada para encontrar o corpo de um adolescente que morreu afogado.



De acordo com o capitão, no total oito cães atuam com os bombeiros em Mato Grosso, três deles na região de Cuiabá e Várzea Grande, três no Batalhão de Barra do Garças, um em Jaciara e um em Sorriso. As do Batalhão de Várzea Grande são Sharon, do capitão Marcondes, Dara, do sargento Everson e Luna, do soldado Luis. O capitão disse, no entanto, que alguns outros ainda são filhotes e estão começando o treinamento.

Das três cadelas do Batalhão de Várzea Grande, duas são da raça labrador. O capitão explica que não é uma exigência, mas que esta raça é muito utilizada por ser sociável e ter uma boa aptidão aquática.

“O labrador, dentro e fora do Brasil, foi uma das raças com a qual se iniciou este trabalho, mas hoje a gente tem várias outras raças trabalhando também, uma que cresceu muito na atividade policial, inclusive, foi o pastor belga. Mas tem o border collie também, entre outras raças, que dentro das suas características de comportamento atendem ao que a gente precisa”.

Antigamente, porém, a imagem dos bombeiros era mais associada ao dálmata. O capitão contou que o dálmata não era utilizado como cão de resgate, mas apenas como mascote.

“O dálmata é mais uma questão histórica, porque antigamente as viaturas dos bombeiros eram de tração animal, carroça puxada a cavalo, e o dálmata, entre suas características, possui essa facilidade de socialização com o cavalo. Então por isso nos quartéis os mascotes adotados eram os dálmatas. Toda vez que a viatura saia o dálmata acompanhava, não que ele fosse um cão de resgate, era mais um mascote mesmo”.



Com relação à possibilidade de utilizarem cães abandonados, de abrigos, o capitão explica que o motivo de não serem utilizados não é por que em sua maioria são vira-latas, mas sim pela idade e pelos traumas sofridos. Os bombeiros buscam cães que não têm vício de comportamento, recém-saídos da ninhada.

“Os cães trabalham até uma certa idade, depois aposentam, chega uma hora que a capacidade física deles já não corresponde à atividade. Então a gente procura pegar um cão, o mais novo possível, para que se consiga trabalhar com ele por mais tempo. Como o treinamento demora cerca de um ano e meio, então se eu pegar um cão de dois ou três anos vou ter menos tempo para trabalhar. Então é difícil pegar em abrigo cães muito novos, e estes normalmente são cães que já passaram por alguns traumas, e uma das coisas difíceis de tirar dos cães é o medo. Para esta atividade o cão não pode ser medroso, então essa é a dificuldade”.

Os cães são treinados desde muito cedo e aprendem, entre outras coisas, a ignorar outros animais ou qualquer tipo de distração durante as ações. Se ele encontra comida, carcaça ou outro bicho ele não se desviará da missão. De acordo com o capitão, um cão trabalha no máximo, na maioria dos casos, até os 10 anos de idade, quando finalmente se aposenta.

“Vai depender do cão, mas no máximo trabalham até os 10 anos, difícil passarem desta idade em serviço. Aí estes cães ficam para atividade assistida, leva em abrigos para crianças, idosos, para ter aquela interação,um trabalho que a gente fazia em Colíder, aqui na região metropolitana isto ainda não foi implementado”.



O militar responsável por um cão de resgate não fica exclusivo a esta função, ele acumula. Quando há necessidade ele é acionado e o cão vai para a ocorrência. A maioria destas ocorrências em Cuiabá e Várzea Grande, segundo o militar, são de busca por pessoas perdidas.

“Em 99% das nossas ocorrências é de pessoas perdidas em região de mata, de crianças, idosos ou pessoas com alguma deficiência mental. Esta semana mesmo entrou uma ocorrência de um trabalhador perdido na região do pantanal, mas antes de chegarmos lá ele foi encontrado, mas há as ocorrências de apoio em afogamentos também, entre outras”.

Sharon, a labrador do capitão, tem cinco anos de idade e já atuou em 56 ocorrências. Ela possui certificados nacionais e internacionais e é especializada em buscas rurais ou urbanas, por pessoas vivas ou cadáveres. Durante estes anos de trabalho com Sharon, o capitão tem diversas histórias.

“Teve uma ocorrência que foi no abrigo Bom Jesus, de um senhor que tinha saído do quarto, e ali atrás tem um terreno grande, a mata estava alta, e ele sumiu por lá. O pessoal acionou os bombeiros, a guarnição da área foi ao local, e logo anoiteceu. E de noite a busca humana é muito complicada, pela falta de visibilidade, corre risco de passar perto da vítima e não ver. E ali era um local perigoso, uns meses antes desta ocorrência teve uma situação parecida, uma pessoa caiu em uma área alagada e veio a óbito, então a gente estava nessa preocupação. Aí eu cheguei com a Sharon lá, soltei ela, e em menos de 10 minutos ela achou a vítima, começou a latir. Estava muito escuro, não enxergávamos nada. Este caso marcou por causa da agilidade, que talvez se tivesse esperado o dia seguinte, pela fragilidade do idoso, não tivéssemos o encontrado com vida”.

Com relação aos cuidados com a saúde do animal, o militar explicou que há um convênio com o Hospital Veterinário da Universidade Federal de Mato Grosso, mas que os custos em geral ficam a cargo do bombeiro dono do cão, já que o animal não recebe salário. São os militares, inclusive, que decidem sobre a castração do cão, o que não é exigência do Corpo de Bombeiros.

“As cadelas do Batalhão ainda não deram cria, são poucos animais, e caso isso acontecesse ela precisaria ser retirada da atividade, ficar um tempo em recuperação, então acabaria perdendo a capacidade operativa do Batalhão”.

Mato Grosso possui sete Comandos Regionais do Corpo de Bombeiros. A recomendação é de que em todos eles exista pelo menos um canil. O trabalho por aqui, no entanto, ainda é recente e o capitão Marcondes acredita que em breve mais cães devam atuar em cidades do interior.

 

 
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