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Quinta-feira, 18 de abril de 2024

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Agronegócio, direitos trabalhistas, aborto e porte de armas: entenda como Procurador Mauro pensa

Foto: Rogério Florentino Pereira/ OD

Agronegócio, direitos trabalhistas, aborto e porte de armas: entenda como Procurador Mauro pensa
Após uma sequência de disputas eleitorais sem nunca se coligar com ninguém, Procurador Mauro, o maior nome do Psol em Mato Grosso, chega para a disputa ao Senado com chances reais de vitória. Nesta eleição em que os dois mais bem votados serão eleitos, desponta na segunda colocação da pesquisa Ibope*. Em entrevista concedida ao Olhar Direto nesta semana, o socialista mostrou sua visão de mundo com relação a direitos trabalhistas, política de isenção para exportações, liberação de armas, legalização do aborto e estratégias eleitorais, entre outros assuntos.

 
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Uma das poucas vozes na política mato-grossense a se levantar contra o agronegócio, Mauro criticou as isenções para exportação de produtos primários. De acordo com o candidato, além de prejudicar a arrecadação e concentrar renda, esta é uma política que vem acelerando a desindustrialização do Brasil e causado problemas em longo prazo.

Confira abaixo a íntegra da entrevista concedida por Procurador Mauro ao Olhar Direto:

Olhar Direto - Uma crítica recorrente que seus adversários fazem é que o senhor só aparece em época de eleição. Como o senhor responde isso?
 
“Primeiro ponto, nós temos que registrar bem claramente que no período que eu não estou nas eleições, eu tenho, assim como você tem que atuar como jornalista aqui, eu tenho que atuar como procurador da Fazenda Nacional, que é meu trabalho e de onde eu tiro o sustento da minha família. Tenho uma outra atividade que eu gosto muito, que é a atividade da banda com os meus irmão, a banda Os Ciganos, que eu acompanho meus irmãos. E nós temos a atividade partidária. Essa atividade partidária de visita aos municípios, de conversar com o eleitor, de fundar núcleos no interior, nós temos o nosso congresso, nós temos as nossas plenárias, participamos do congresso nacional de Brasília, tivemos o nosso congresso estadual, tivemos as nossas plenárias, temos uma intensa atividade no partido, de fundação de núcleos no interior, de discussão, de formação do plano de governo. Nós não temos toda uma cobertura da imprensa nas atividades nossas. O Psol é um partido pequeno, nós não temos grande estrutura com assessoria de imprensa, é uma estrutura pequena mesmo, nós temos dificuldades, nós não recebemos tantos convites assim para entrevistas em sites. Tem programas políticos ai que fazem programas todos os dias, todo dia tem uma entrevista com uma personalidade e nunca nos convidou para nenhuma entrevista, mas nós temos uma postura que nós também não vamos ficar esmolando por entrevistas. Nós entendemos também que cabe a pauta desses jornalistas entenderem que a gente é importante para dar essas entrevistas e discutir essas questões de Mato Grosso. E um outro ponto que também nós consideramos importante é que na verdade como nós não temos um mandato, nós não temos uma estrutura para estar fiscalizando, para estar organizando mesmo uma agenda política de discussão com quem foi eleito. Quem foi eleito é que tem esse dever muito grande. Ai eu volto num caso que eu disse num debate em 2016, eu perguntei para o Emanuel Pinheiro: ‘Emanuel Pinheiro, o que o senhor estava fazendo que não viu essa roubalheira do governo Silval?’ Emanuel Pinheiro pegou e falou: ‘Mauro, eu estava fiscalizando sim, eu fiscalizei e você que deveria ter fiscalizado’. Eu falei: ‘eu não tinha mandato, como é que eu iria fiscalizar’, mas depois a gente viu, foi divulgado o vídeo de que tipo de fiscalização ele estava fazendo né? Na verdade nenhuma, estava embolsando o dinheiro no paletó, dinheiro de corrupção. Você vê, essa crítica ela pega muito isso, a primeira cobrança ela tem que ser feita nas pessoas com mandato, um mandato cuja função precípua é de fiscalizar a aplicação dos recursos públicos. A partir do momento que a gente tiver, se Deus quiser, no Senado, nós vamos utilizar essa função com muito afinco, exatamente porque será o nosso dever como senador estar ai acompanhando toda aplicação de recursos públicos. Então esse é o ponto importantíssimo e acredito que os adversários tentam fazer essa crítica exatamente porque não tem outra coisa pra criticar e ai ficam tentando fazer isso, buscando fazer críticas nesse sentido”.

OD - O senhor chegou a liderar a disputa pela Prefeitura de Cuiabá em 2016, quando enfrentou as máquinas eleitorais do PSDB e PMDB, mas acabou bombardeado por um marketing de desconstrução da sua candidatura e acabou ficando de fora da disputa de segundo turno. Essa foi a eleição mais difícil que o senhor enfrentou e quais lições tira dela para sua vida pública?
 
“Foi uma eleição duríssima. Nós viramos o foco dos ataques. Muitas mentiras foram espalhadas. Várias técnicas de publicidade de campanha oculta foram utilizadas contra a gente. A gente teve notícia ai de atores espalhados pela cidade espalhando mentiras sobre a minha família, coisas absurdas, coisas que nem chegaram a sair em meios de comunicação que estavam alinhados com eles. Todo tipo de ataque a gente sofreu ali, mas ao mesmo tempo, levando em conta que a gente tinha uma campanha muito pequena, com poucos segundos, nós tivemos muitos e muitos voluntários na nossa campanha, ficou uma lição de que é perfeitamente possível vencer essas pessoas. Eles, com toda essa máquinas poderosíssimas que eles usaram contra a gente, com tentáculos na imprensa, tentáculos em órgãos públicos, com tudo isso ai nós conseguimos ter em Cuiabá 70 mil votos. Então ficou a lição que é possível, sim, vencer essas máquinas poderosas apenas trabalhando corretamente, com uma campanha modesta e trabalhando também com voluntários, com pessoas que acreditam nas nossas idéias”.


 
OD - Em 2014 o senhor disputou uma vaga na Câmara Federal. Por que desta vez optou por brigar por uma vaga no Senado Federal?
 
“Dentro do nosso partido, nós tivemos o congresso nosso do partido estadual, em outubro de 2017, e agente decidiu que não faria aliança, mas a gente não tinha uma definição de candidaturas. Então nós tínhamos cinco pré-candidatos dentro do partido a governador. Pré-candidato Leonel, pré-candidato professor Alex, Moises Franz, Gilberto Lopes e eu. Nós tínhamos cinco pré-candidaturas ao cargo de governador e dentro das discussões políticas do partido nós fomos afunilando até chegar próximo da convenção e procurando obter um consenso. Nós fomos organizando essas candidaturas e a minha candidatura eu havia colocado porque o meu grupo político dentro do partido entendia que o que nós não conseguimos em 2016, que era chegar ao segundo turno, para buscar a igualdade de tempo eleitoral, igualdade de espaços, a gente não tinha conseguido em 2016, a gente tinha reais chances de conseguir agora, em 2018, a gente tinha a leitura de que nós poderíamos trabalhar a eleição de 2018 como uma sequência de 2016 nesse processo de mudança, de que a população pudesse aumentar mais as pessoas, nossos votos, voluntários, as pessoas trabalhando junto com a gente, mas ai a gente foi fazendo outras leituras, de que tínhamos uma eleição de senador extremamente pulverizada, com dois votos, em que a gente poderia lançar duas candidaturas e ter uma chance grande de êxito. Então nós acreditávamos que tínhamos chance tanto a governador quanto de senador, mas nas discussões do partido, na tática eleitoral também, na estratégia, nós decidimos lançar duas candidaturas ao Senado, então eu retirei a minha candidatura, o Gilberto retirou a candidatura dele a governador e passamos a apoiar a candidatura do Moisés. O professor Alex acabou desistindo no decorrer da pré-campanha e na convenção chegou para governador dois pré-candidatos[ao governo], o Moisés e Leonel, e o Moisés foi o vencedor na convenção. A gente tentou levar a um consenso, mas que na convenção acabou o Moises sendo o vencedor na questão de governador e na questão de senador nós já chegamos com um consenso, que seria a minha candidatura e a candidatura do Gilberto, por uma questão de discussão política interna no partido”.
 
OD - Qual é a sua estratégia eleitoral para manter os votos já conquistados em disputas anteriores e ao mesmo tempo conquistar novos eleitores?

“Nós acreditamos que vivemos um momento especial, com as redes sociais que permitem que você chegue muito mais longe, além de [ter] só o tempo eleitoral. O tempo eleitoral nosso são 10 segundos para mim e para o Gilberto. Quer dizer, teria cinco segundos para cada, é muito pouco, realmente, mas a gente está utilizando essa questão das redes sociais e nós temos todo o apoio da nacional para que a gente possa percorrer os municípios, para que a gente possa interiorizar ainda mais a nossa campanha”.
 
OD - Em caso de o senhor ser eleito, o que o mato-grossense por esperar de Procurador Mauro no Senado Federal?

“A primeira questão que o eleitor pode esperar é que realmente ele se verá representado no Senado Federal. Hoje o que nós vemos é que os políticos chegam aos mandatos e, na verdade, eles são representantes de si próprios ou de financiadores de campanha, ou de grande grupos econômicos, como senadores deputados ai que enchem a boca para dizer que são senadores e deputados do agronegócio. Na verdade, a principal coisa que aconteceu, que o eleitor poderá ver, é, ‘olha eu tenho um representante realmente, um representante do povo, um representante da população, principalmente das classes mais empobrecidas do nosso estado’, essa é a primeira coisa. Por isso nós temos uma pauta, no Senado Federal, de defesa do povo. Por exemplo, nós temos ai a questão tributária. Nós temos ai o sistema tributário que é absolutamente injusto, né? Que tributa pouco os ricos e tributa muito os pobres. Então, no Senado Federal, nós defenderemos uma reforma tributária que inverta essa questão. Temos várias idéias nesse sentido, eu sempre exemplifico aqui a questão do imposto de renda, em que os trabalhadores são extremamente tributados na sua renda e seu salário, enquanto lucros e dividendos de grandes e megaempresários são isentos de imposto de renda. Quer dizer, é uma coisa totalmente absurda . um sistema tributário que é construído para privilegiar os mais ricos contra os mais pobres. E não muda por que? porque quem está lá são os representantes desses mais ricos. Enquanto você não tiver mais representantes do povo lá, você não consegue mudar essa equação, esse sistema tributário injusto. Mesma coisa, por exemplo, com a reforma previdenciária, que é uma coisa que está ai na pauta o tempo todo, as pessoas querendo tirar direitos, querendo praticamente extinguis as aposentadorias das pessoas que estão ai trabalhando há tantos anos. A gente sabe que existe um grande interesse ai de os poderosos de mexer na Previdência para tirar direito dos trabalhadores. A nossa posição no Senado Federal será totalmente contra essas atividades ai, de tentar mudar os direitos previdenciários. A gente entende que esse déficit previdenciário alegado ai em várias reportagens ai nos meios de comunicação de massa nacionais ai, esse déficit não existe, porque eles tiram da conta diversas contribuições que existem sobre o comércio e o consumo e apontam apenas o que é exclusivamente descontado dos trabalhadores quando a previdência é financiada, ela tem um financiamento conjunto, e eles excluem várias verbas para falar que a Previdência está deficitária. Então a gente entende que na verdade isso ai é só uma tentativa de liberar recursos que hoje estão vinculados à Previdência para colocar esses recursos como recursos liberados para outras atividades e não na sua atividade que é a Previdência e nós vamos lutar contra isso. Também entendemos que a reforma trabalhista que foi aprovada no ano passado precariza os direitos dos trabalhadores, entendemos que a CLT era uma legislação já vigente há várias décadas, estabilizada, era uma coisa já cristalizada na sociedade, e conseguiu-se aprovar uma reforma previdenciária que prejudica e muito os trabalhadores, retira direitos, por isso defendemos revogar essa reforma trabalhista. Essa é uma posição que nós entendemos que nós vamos lutar no Senado Federal para isso”.

 
OD - Para ficar mais claro, sua ideia é revogar a atual reforma trabalhista para fazer outra, ou revogar para manter a legislação anterior?
 
“Essa reforma foi apenas para precarizar. Nós entendemos que, inclusive, essa reforma é inconstitucional, porque a Constituição prevê que você não pode ter um retrocesso, é um princípio constitucional de você não ter um retrocesso nos patamares civilizatórios, porque a CLT na verdade ela já previa vários direitos que foram excluídos por essa reforma trabalhista. Então a gente entende que precisamos revogar essa reforma, deixar a CLT do jeito que era vigente, depois nós podemos até fazer alguns ajustes pontuais em algumas coisas ou outras, mas o que nós precisamos lutar é pela ampliação de direitos, não pela diminuição de direitos”.
 
OD - E qual é a postura do senhor com relação à PEC do Teto, que congela gastos públicos para os próximos 20 anos?

“Entendemos que essa PEC é extremante prejudicial. Nós vimos ai essa notícia catastrófica do incêndio no Museu Nacional. Você vê que ela é uma decorrência direta disso ai. Como é que você tem instituições que estão precisando de mais investimentos e como você aprova uma emenda constitucional congelando esses gastos que você não vai conseguir ampliar, a não ser o valor mesmo da inflação, os gastos em educação saúde e segurança, quando você já tem serviços públicos que estão deficitários? Você vê que congelou os gastos nesses serviços públicos que atendem o cidadão, mas não congelou, não colocou nessa PEC com congelamento de gastos para a dívida pública. Esses ai continuam liberados para se gastar o quanto quiser. Você vê que é uma contradição. O congelamento tem o único objetivo de limitar os gastos nessa áreas para que sobre mais dinheiro para pagamento da dívida pública, que a gente entende que conforma a Constituição prevê seria o caso de uma auditoria dessa dívida pública. Eu acredito que essa emenda ela é extremamente ruim para o país, ruim para os serviços públicos, ruim para a educação, para a saúde, segurança e nós vamos trabalhar contra essa emenda do teto de gastos”.
 
OD - O senhor tem assumido abertamente uma postura crítica ao agronegócio e caso seja eleito chegará no Congresso Nacional em um momento que a mudança na Lei Kandir é quase consenso, porque a compensação das desonerações estão aquém do que deixa de ser arrecadado pelo Estado. Qual é a sua postura diante dessa política que isenta de ICMS as exportações?
 
“O que você vê é que a Lei Kandir prevê essa compensação, essa compensação não vem na totalidade da desoneração que o estado faz. Então o primeiro ponto é que tem que ter uma briga muito grande para que esses valores sejam compensados na sua integralidade. Esse é o primeiro ponto, e compensando na integralidade ao longo dos anos. Então, na verdade, quando você vê assim os estados como Mato Grosso têm créditos de muitos anos com a União, que poderiam ser contraposto às dívidas que o Estado tem com a União, com essas compensações da Lei Kandir que não são feitas, mas nós precisamos discutir com seriedade a questão da taxação do agronegócio, é algo que tem que ser discutido. Eu tenho dito bastante que o agronegócio produz muita riqueza, Mato Grosso é um estado riquíssimo de produção econômica, porém essa riqueza não vem chegando nas demais pessoas e fica concentrada nas mãos de poucos. Na verdade, uma grande desculpa que as pessoas usam é que o agronegócio é um motor econômico, que ele gira a economia, porém, nós precisamos fazer com que essa grande riqueza produza serviços de qualidade para o resto da população. Nós não podemos ter apenas grande milionários como se fossem sheiks árabes enquanto a população continua empobrecida. Nós precisamos discutir profundamente essas questões da Lei Kandir. A Constituição Federal prevê que não incidiria ICMS sobre produtos industrializados, então a Constituição previu aquilo, ali era um incentivo fiscal à industrialização do país. Porque a isenção para produtos industrializados? Para incentivar que indústrias se instalassem e que pudessem fazer essa exportação. A lei Kandir, quando ela veio, ela passou, ela ampliou essa isenção, passou a prever essa isenção para os produtos primários também e na verdade você vê que nos últimos anos o Brasil, como um todo, vem sofrendo um processo brutal de desindustrialização, porque na verdade o que a gente acompanha ai é que a Lei Kandir ela é uma lei desindustrializante. Na verdade, quando você incentiva que os produtores apenas vendam a sua produção para a China com isenção de impostos, na verdade você está dizendo: ‘olha, não industrialize que é melhor vender só grãos mesmo sem pagamento de impostos’. A gente precisa discutir isso, discutir esses efeitos desindustrializantes porque ai o estado acaba dando com uma mão, ele dá o incentivo fiscal para atrair indústria, e com a outra mão ele tira com os incentivos para que seja exportado apenas os commodities. Não se leva em conta que além de tudo essa isenção plena das exportações ainda gera esse problema que você vê que diversas operações aconteceram ai de pessoas que estavam fraudando, fazendo falsas exportações para produtos que estavam sendo vendidos no Brasil para que pudessem também gozar dessa isenção, você vê que ainda é um fato que até o produto que fica no Brasil, que deveria ser taxado, acaba sendo registrado como exportado para que possa gozar desse benefício, então essa é uma questão que precisa ser muito bem discutida e a gente sabe que uma das funções da tributação, que eu comecei aqui falando sobre a questão do sistema tributário brasileiro, uma das funções da tributação, além de fazer face às despesas do estado é a questão da distribuição de riqueza. Você imagina ai que com uma mínima tributação dessa imensa produção você poderia conseguir criar fundos para atuar tanto na educação quanto na segurança, quanto na saúde, para você ter benefícios de qualidade. Você vê produções aqui de milhões de toneladas quando você tem um pronto socorro que está sendo construído no valor de R$ 80 milhões que seria um valor ínfimo em relação a essa produção toda e você vê que o estado não consegue fazer isso por ausência de vontade política, por ausência de arrecadação. Tem que ser discutido sim essa questão da taxação do agronegócio porque a riqueza tem que ser redistribuída, no sentido de que mais pessoas gozem e não fique apensa nas mãos de poucos milionários”.
 
OD - Na eleição para prefeito em 2016, o senhor foi muito cobrado por seus adversários por bandeiras progressistas no campo dos costumes e pautas identitárias que o Psol defende em nível nacional, mas o Senado é o local de debates como esse. Quais são suas posturas sobre mudanças na lei que proíbe o aborto e com relação à legalização de drogas, por exemplo?
 
“Continuo com as mesmas posições que eu externei em 2016. A gente sabe que os partidos são a reunião de pessoas que comungam de idéias parecidas, mas os partidos não são homogêneos, então você pode ter discordância. O Psol  é democrático, você vê que em 2016 eu manifestei minha discordância com relação a essas pautas ai, como modificação da legislação do aborto, descriminalização das drogas, eu manifestei minha discordância e continuo no partido. Quer dizer, não tive nenhum tipo de censura porque o Psol é um partido democrático, é você ver o exemplo do ex-presidente Fernando Henrique. O PSDB é um partido que, em tese, não defende a descriminalização das drogas, mas o Fernando Henrique ele defende, quer dizer, dentro do PSDB ele tem uma posição absolutamente normal você ter posições discordantes dentro do partido. O partido, como eu disse, não é uma coisa homogênea. Então com relação a esses fatos, eu continuo com as minhas posições manifestadas em 2016 com muita tranquilidade, dizendo contra as modificações na legislação do aborto, contra a descriminalização das drogas. Eu cresci no bairro Planalto, conheço bem o problema das drogas, acredito que o Estado falta muito com relação às drogas. Tem a questão dos dependentes químicos, que é inexistente a questão do Estado,você não tem nenhum tipo de clinica, todas as periferias do estado estão desesperadas porque as pessoas de posse conseguem pagar clínicas caríssimas para tratamento de seus filhos e as mães pobres não conseguem fazer esse tratamento dos seus filhos, que por um motivo ou outro entraram no mundo das drogas. É muito mais importante você investir nesse tratamento através do SUS, você criar um sistema único de saúde com uma grande estrutura de tratamento de dependentes químicos do que você estar defendendo a legalização das drogas, é uma posição pessoal minha, que defendo com tranquilidade dentro do partido”.
 
OD - E com relação à facilitação do acesso ao porte de armas?
 
“Nós vivemos em um país extremamente violento, você vê diversos crimes acontecendo por crimes banais, eu não acredito que é liberando totalmente as armas que você vai resolver o problema da violência, não acredito realmente que seja o caminho, mas voltando até nesses outros temas que a gente falou anteriormente, na questão do desarmamento você tinha a questão da própria imprensa e de grande parte dos chamados formadores de opinião na época do referendo em um sentido. E quando ouviu a população, a população votou em outro sentido. Quer dizer, todo o posicionamento da imprensa era no sentido de proibição da comercialização de armas, a população votou em outro sentido, falou que continua sendo permitido. Hoje o porte de armas ele já é permitido para quem atende aos requisitos legais. Na verdade, dizer que o porte de armas não é permitido... ele é permitido, desde que atenda aos requisitos. Tem que ter aptidão técnica, aptidão psicológica, já existe essa possibilidade na legislação. Outro ponto que com relação ao Senado federal, federal eu entendo como extremamente importante é que no Brasil nós temos um déficit democrático. As pessoas não gostam de ouvir o povo. Os políticos, a classe dominante, gosta de tutelar o povo. Muitas dessas discussões devem ser levadas para ampla discussão e levadas para a população decidir. Nada mais justo do que a população decidir, discussões sobre aborto, sobre desarmamento. Você tem que colocar essas discussões. Você vai ter gente que defende um lado e gente que defende o outro e você leva para a população decidir, porque a constituição diz, todo poder emana do povo. Nós não devemos ter medo do que o povo vai decidir. Se o povo vai decidir que menos controle nessa questão das armas, que quer ou não liberar o aborto, nada mais justo que você ouvir a população através de um plebiscito ou referendo. Que essas questões sejam discutidas e que não fiquem nas mãos de meia dúzia, o que eu não acho correto é que venha uma decisão de cima para baixo. O Congresso aprova ou desaprovar sem ouvir a população. A gente não precisava ter medo, até porque com plebiscito ou referendo você abre ampla discussão, todos os argumentos seriam colocados numa situação dessa. Eu volto a questão do referendo do desarmamento. Naquele momento, eu acompanhei muito isso ai. Toda a posição da imprensa era em um sentido e a população votou em outro sentido porque existiam pessoas que estavam apresentando seus argumentos naquele outro sentido. Nada mais justo, nada mais democrático que isso. A gente não tem que ter medo da população, todo poder emana do povo. Quando um tema é defendido pela direita e ela sabe que a população não quer, ela não quer plebiscito e com a esquerda é a mesma coisa. Fica os dois lados com medo de ouvir a população e nós não temos que ter medo de ouvir a população.


OD - O senhor falou em decisão de cima para baixo. Se olhar o quadro social brasileiro, os diferentes segmentos da sociedade não estão refletidos proporcionalmente no parlamento. O senhor vê uma crise de representatividade no Congresso?
 
“Eu vejo como o sistema político está muito fechado. A própria formação do Congresso é uma estrutura que cada vez fecha mais para que pessoas do povo não possam entrar. Vou dar um exemplo, quando nós começamos nossas candidaturas em 2006, nós tínhamos 30% do tempo eleitoral dividido igualitariamente. A partir da eleição de 2016, só 10% do tempo foi dividido igualitariamente. Ou seja, houve redução drástica no tempo de partidos pequenos como o nosso, porque era o sistema político tentando se fechar para não dar oportunidade para que outras pessoas pudessem entrar, pessoas do povo, para fechar nessas mesmas lideranças, nessas famílias que estão há muito anos no poder. Agora nós vemos também que na eleição de 2014 foi a eleição em que houve o maior financiamento provado de campanhas de todos os tempos, nós acompanhamos ai essa questão da Lava Jato, que doações da Odebrecht, da JBS foram fundamentais para a eleição de muitas pessoas. Era um sistema errado, privado, e veio o financiamento público, só que ele levou em conta o que foi eleito com esse financiamento privado, então foi mais uma maneira de o sistema se fechar. O tempo eleitoral é dividido hoje conforme as bancadas de 2014 e o recurso eleitoral é dividido dessa forma também, então na verdade, cristalizou aquele momento de 2014 em que as grandes empresas investiram fortemente, até sabendo que no futuro não seria mantido mais o financiamento privado. Então foi o financiamento maciço pra cristalizar isso e nós vamos precisar de muitos anos para que a gente consiga paulatinamente,desde que o financiamento continue público, para que não tenha essa questão do financiamento privado das grandes empresa. Nós precisamos melhorar também em outros pontos. Por exemplo, é um absurdo que um candidato a presidente como o Meirelles possa colocar R$ 20 milhões do próprio bolso para a campanha. Está errado! Vai acabar sendo uma disputa só de milionários para colocarem seu próprio patrimônio na campanha. Então tem muitos ajustes que precisam ser feitos na legislação para que realmente a gente avance em uma democracia. Vamos citar o exemplo de Mato Grosso. Nós temos cinco candidatos a governador. Nosso candidato tem pouquíssimo tempo, salve engano 16 segundo, enquanto tem outros candidatos com muito mais tempo. Se nós temos só cinco candidatos, seria muito mais justo que o tempo fosse dividido igualitariamente para que a população pudesse observar as idéias de cada um dos candidatos e decidir quem é o melhor candidato. Você coloca um candidato com 16 segundos e fala ‘se vira, conquista o voto em 16 segundos’ enquanto o outro está lá com três minutos, dois minutos e meio. É um sistema que está pronto para tentar cristalizar apenas os mesmos, mas nós acreditamos que o trabalho que a gente tem feto tem servido para mostrar que é possível você ir lá e tentar quebrar esse sistema para tentar verdadeiramente representar a população”.
 
OD - A campanha também foi encurtada. Isso, na sua avaliação, também foi prejudicial, principalmente para quem está sem mandato e tenta se eleger?
 
“Acredito que essa diminuição acabou provocando isso. Além do que a campanha tem muitos processos burocráticos que você tem que resolver. Partidos pequenos como o nosso acabam gastando esse tempo que já é curto. Dos 45 dias de campanha, de 15 dias 20 dias só passamos resolvendo problemas burocráticos para começar a fazer campanha faltando ai somente 25 dias. Você poderia até ter esse tempo de campanha nessa quantidade se você permitisse que vários atos fossem praticados antes. Fica muito difícil fazer realmente campanha só nesse período muito curto. Você diminui a discussão dentro da sociedade. Criou-se também um vácuo nessa pré-campanha, que ninguém sabia o que podia e o que não podia. Criou-se um vácuo político nessa pré-campanha, o período de campanha ficou muito curto mesmo e os candidatos estavam fazendo pré-campanha, às vezes extrapolando o que era permitido, mas às vezes também sem saber até onde podiam ir nesse período de pré-campanha”.
 
OD - Com esse tempo curto, sua aposta será mantida nas redes sociais?

“Nós já estamos com foco grande ai nas redes sociais, nós temos tido um retorno muito grande. Nós temos vídeos ai com mais de 100 mil visualizações nas nossas redes sociais, a gente está produzindo outros vídeos ai, mas a gente também vai fazer viagens no interior para a gente produzir conteúdo nessa cidade e conversando com as pessoas, ouvindo a população desses outros municípios também”.
 
OD - Teve aquele primeiro vídeo de lambadão com o Gato Louco. O senhor vai manter essa linha de produzir conteúdos com potencial de “viralização”?
 
“Na verdade a linguagem que existia de fazer política é diferente da linguagem das redes sociais e a gente está procurando nos adaptar e achar brechas nesse sentido ai para que a gente possa se comunicar com o eleitor, porque o tempo é realmente muito curto”.
 
OD - Que avaliação o senhor faz do governo Pedro Taques?
 
“Eu vejo a gestão dele como uma tragédia, como um desencanto na vida da população que o elegeu, porque na verdade o governo dele foi uma simples continuação do governo Silval Barbosa e do governo Maggi. Você vê que as mesmas figuras que transitaram pelo dois governos Maggi e pelos dois governos do Silval Barbosa. Você vê que as mesmas figuras estão ali ocupando posições proeminentes no governo, as mesmas práticas, os mesmo esquemas que já eram vigentes no governo Silval Barbosa acabaram sendo transferidos para o governo Pedro Taques. Então eu vejo como uma grande decepção para a população.

OD - Como dizia aquele seu jingle antigo: “há muito tempo eles estão no poder...”
 
“É algo que a gente diz e acredita, porque na verdade os fatos comprovam. Quando você avalia o secretariado do Pedro Taques é quase todo o secretariado do Mauro Mendes, que agora supostamente é adversário dele, mas é o secretariado que o Mauro Mendes tinha no município, agora é secretariado do Pedro Taque. Muitas pessoas do governo Maggi, do governo Silval, são figuras proeminentes no governo Taques. Só mudam de cadeira mesmo”.


 
OD - Na semana passada, a juíza aposentada Sema Arruda rompeu com o restante da chapa do PSDB e entre os argumentos usados para isso citou notícias que davam conta de uma possível ação do candidato Nilson Leitão em prol da sua candidatura para prejudicar, por conseqüência, o projeto eleitoral. O que há de verdade nisso?
 
“A gente tem repetido isso constantemente, dizendo que quem conhece a nossa prática política e conhece a nossa história política, sabe que a gente vem ao longo das eleições fazendo uma política coerente, uma política correta, honesta e de modo algum houve qualquer tipo de articulação com qualquer outro partido. Na verdade, você pode acompanhar, na eleição de 2016, na eleição de prefeito, nós tivemos apenas 15 segundos porque nós não fizemos coligações. Em 2014, perdemos uma eleição para deputado federal porque nós não fizemos coligações, porque não é da nossa prática política. Na verdade, essa informação é fake news, que circulou pela imprensa de pessoas de má fé que estão tentando manchar a nossa candidatura, porque não tem nada para que eles falem, então estão tentando manchar a nossa candidatura. Agora, esses outros problemas de outras candidaturas, de brigas internas ai, a gente não vai entrar nesse ponto. Se está citando isso ai como um dos motivos, você vê que ela cita ‘ah, saiu na imprensa’, mas na verdade a imprensa mesmo colocou isso, mas é uma notícia falsa que não tem fundamento nenhum”.
 
OD - Não houve sequer nenhuma tentativa de aproximação do senhor por parte do Nilson Leitão ou de emissários dele?
 
“Nós fizemos o congresso do nosso partido em outubro de 2017. Naquele congresso já tínhamos uma decisão de que não faríamos coligações e nem alianças. A nossa prática política mostra que não fazemos esse tipo de conversa, não fazemos esse tipo de negociata, nunca fizemos nada disso porque nós não fazemos essa prática política, nunca teve-se notícia disso porque nós não fazemos essa prática política. Na verdade eu vejo que quem começou a divulgar isso ai começou com o claro intuito de manchar a nossa candidatura. O único intuito dessa notícia era tentar manchar a nossa candidatura para dizer que nós estávamos de aliança com essas pessoas. Onde que na nossa prática política nós íamos fazer alianças, conversações com pessoas que estão sendo delatadas por crimes, entendeu? Nunca foi nossa prática, nunca foi nossa história política. Trata-se de uma noticia inteiramente falsa”.
 
OD - Como o senhor avalia a postura da candidata Selma Arruda ao usar essa informação envolvendo o seu nome para justificar o rompimento dela com os tucanos? Isso levando-se em consideração que ela já declarou recentemente ser “parecida” com o senhor e também produziu material de campanha com um humorista fazendo referência ao senhor e criticando o faro de o senhor só aparecer em época de campanha...
 
“A gente tem evitado avaliar outras candidaturas, deixando para o eleitor essa avaliação, mas a gente sabe que muitas coisas que acontecem de outras candidaturas, e declarações, os ataques... A tendência é que os ataque aumentem ainda mais agora. O que a gente sente nas ruas por onde a gente tem percorrido é que a gente tem grandes chances de vencer essas eleições. Então eu acho que os ataques vão aumentar, não só dela, mas de outras candidaturas também. É uma coisa que é comum em candidaturas. Nós estamos fazendo uma campanha eminentemente propositiva”.

 

*Pesquisa Ibope (registrada sob o número 04065/2018, realizada entre os dias 21 e 24 de agosto, com margem de erro é de 3% para mais ou para menos e intervalo de confiança de 95%, apontou as seguintes intenções de voto ao Senado: Jayme Campos (DEM) 34%; Procurador Mauro (Psol) 21%; Maria Lúcia Cavalli Neder (Psol) 16%; Nilson Leitão (PSDB) 16%; Selma Arruda (PSL), 15%; Adilton Sachetti (PRB) 7%; Waldir Caldas (Novo) 5%; Gilberto Lopes (Psol) 5%; Aladir Leite (PPL) 3%; Sebastião Carlos (Rede) 3%. Brancos e nulos somaram 16% para a 1ª vaga, enquanto para a segunda vaga foram 19%. Não sabem ou responderam 37%. 
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