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Sexta-feira, 26 de abril de 2024

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Consciência Negra

Alvo de ameaças e racismo, fotógrafa lamenta impunidade em casos; 334 registros em 2018

Foto: Cristina Mil Homens

Alvo de ameaças e racismo, fotógrafa lamenta impunidade em casos; 334 registros em 2018
Em um período de 10 meses, a Secretaria do Estado e Segurança Pública (Sesp) registrou 334 denúncias de injúria mediante preconceito em Mato Grosso. Em 2017, foram 348 registros de ocorrência do mesmo assunto. A fotógrafa, Mirian Rosa, 32 anos, está dentro dessa estatística e lamenta a impunidade dos indiciados nestes casos, no Dia da Consciência Negra, celebrado nesta quarta-feira (20).


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No dia 1º de maio, Miriam recebeu uma série de xingamentos racistas de Rafael André Janini. Ela foi chamada de ‘crioula maldita’. Na sequência, Rafael pergunta o quanto ela custa, pois precisa de uma “mucama pra ser cozinheira, faxineira, algo" em casa e afirma que precisa usá-la como carvão e saco de lixo em um churrasco. Na época, ela sofreu ameaças do acusado e pediu medida protetiva, que foi acatada pela juíza Amini Haddad Campos.
 
“Eu pedi medida protetiva porque sofri ameaças, fiquei com muito medo do mal que podia me acontecer, ainda tenho medo até hoje. A minha paz de viver aqui acabou e tenho certeza que nunca vou ter de volta. Isso tenho certeza que não”, explicou ao Olhar Direto.
 
Em interrogatório, Rafael  confessou a autoria dos áudios que enviou à vítima e afirmou não ser racista, uma vez que se declara negro, assim como sua família. A Delegacia Especializada de Defesa da Mulher de Várzea Grande o indiciou pelos crimes de injúria qualificada, racismo e ameaça. O inquérito policial foi concluído no dia 20 de junho e encaminhado ao Fórum de Cuiabá. 
 
Apesar disso, ele responde o crime em liberdade. “Eu já sabia que seria assim. Não me surpreende, essa é a lei do Brasil. As leis esta sempre a favor do acusado. Existem penas duras, só que não são cumpridas, está ai e eu sou prova viva disso”, lamentou.
 
Por conta de sua posição politica defendido desde 2016, ela chegou a ouvir que merecia os ataques. “Eu não ligo para essas pessoas que fala que é ‘mimimi’. São pessoas racistas disfarçadas”, pontuou.
 
Depois de ter sido vítima de racismo, ela relatou não confiar mais em ninguém. Entretando, fez uma tatuagem com a seguinte frase: 'Deixe o seu preconceito de lado'. “Mudei muito em relação às pessoas, não confio 100% em ninguém. Não sei até onde o mal dela [pessoa] esta disfarçada de bem”, afirmou. 

Desde então, Mirian não conseguiu voltar a exercer a profissão de fotografa. Hoje, ela é sócia em um empreendimento com seu irmão.  “Não voltei a exercer meu trabalho, quando eu penso em recomeçar eu desisto. Já não tenho vontade porque sei que vou ter que enfrentar as pessoas. Aquilo me trás lembranças ruins e me adoece muito. Eu até tento. Cheguei de sair em alguns lugares só que sempre volto pra casa triste, vontade de sumir e nunca mais voltar”, lembrou.
 
Ela também afirmou que o episódio ruim a fez dar valor a sua família “Passo 100% do tempo com eles. Hoje também cuido muito das minhas palavras tenho medo do que pode causar a uma pessoa. Palavras matam”.
 
Consciência Negra
 
O Dia da Consciência Negra é comemorado em 20 de novembro em todo o território nacional. A data faz referência ao dia da morte de Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo de Palmares, que lutou ara preservar o modo de vida dos africanos escravizados que conseguiam fugir da escravidão.
 
“Sobre a consciência negra, muitos acham besteira essa data. Muitos falam que é coisa do passado. Só que pra mim, no Brasil, o racismo é traiçoeiro. Certos assuntos são evitados para não ferir a memória de quem contínua secretamente a ferir. Essa data é importante para as pessoas refletirem sobre nossa posição na sociedade, já que ate hoje sofremos discriminação racial”, asseverou.
 
Dados
 
Do total de casos de injúria mediante preconceito registrados no Estado, ano passado, 109 foram somente na Capital e 34 em Várzea Grande. Já nos dez primeiros meses deste ano, foram 103 em Cuiabá e 37 na cidade vizinha.
 
A reportagem entrou em contato com a Polícia Civil para solicitar dados referentes a inquéritos instaurados e quantos suspeitos foram de fato indiciados pelos crimes de racismo e injuria racial. Por meio da assessoria de imprensa, a unidade informou que não é possível levantar este tipo de dado, em razão das unidades não informar a quantidade de inquéritos abertos e concluídos por natureza criminal e também por não haver uma unidade específica para o tipo criminal.
 
Algumas ocorrências podem ir para as Delegacias da Mulher (nos seis municípios com delegacias da mulher) e outras para a unidade da região ou mais perto do bairro em que ocorreu. 
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