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Sábado, 27 de abril de 2024

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Do triunfo ao desabamento: conheça a história da Gráfica Pêpe

Foto: Reprodução / Facebook

Do triunfo ao desabamento: conheça a história da Gráfica Pêpe
Levantada na segunda década do século XIX, o casarão de 600 m² de área construída e 195 m² de área descoberta, onde funcionou a primeira gráfica de Cuiabá, a Pêpe, não resistiu e desmoronou na manhã da última terça-feira (28), no decorrer de uma forte chuva. Durante quase um século em que permaneceu aberto, o casarão viveu o seu triunfo no comércio cuiabano, mas parte da sua história foi levada com seu desabamento. A tragédia já era prevista por moradores da Rua Voluntários da Pátria, que inclusive haviam informado para as autoridades sobre seus riscos. 




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O historiador João Carlos Vicente Ferreira em entrevista ao Olhar Direto, disse que o casarão foi construído na área mais nobre da Cuiabá, que nessa época já possuía poder politico e se preparava para ser a capital de Mato Grosso. “De fato já o era, tornou-se de direito em 28 de agosto de 1835”, disse.
 
No local moraram muitas figuras ilustres. O primeiro deles foi o cientista belga, doutor Carlos Hugney, que veio a Cuiabá com objetivo de fundar e dirigir uma fábrica de pólvora.
 
A fundação da gráfica aconteceu em 1894 e se tornou o primeiro estabelecimento tipográfico, para atendimento à sociedade em geral. Seu fundador, o coronel Avelino Antônio de Siqueira, atuou como jornalista, empresário e político, tendo sido prefeito de Cuiabá entre 1909 e 1911. “Quando foi fundada a gráfica era o período pós República, e os trabalhos gráficos no período imperial eram mais restritos no campo empresarial, geralmente sob o jugo do governo central”, disse João Carlos.
 
Coronel Avelino faleceu em dezembro de 1916, seus familiares, no entanto, comandaram o comércio por muitos anos e fez com que ela se tornasse um marco na história empresarial de Cuiabá. No começo da década de 1980, depois de quase 100 anos de funcionamento, a família decidiu fechar à gráfica, possivelmente diante da grande demanda do setor gráfico em todos os níveis, aponta o historiador.
 
João Carlos diz que a casa nunca ficou abalada quando estava com o telhado. Mas depois do desuso, no começo da década de 1980, ficou abandonada pela família. Por ação do tempo e falta de obras de conservação e limpeza, a estrutura de madeira do telhado foi corroída e causou o destelhamento. Com isso, as paredes de taipa socada e de adobe ficaram danificadas com a umidade.
 
Foram anos de abandono no local, que contribuíram para seu desabamento. No ano em que a capital completa 300 anos, o historiador pondera que o fato é triste para a história. “A notícia pegou toda a sociedade cuiabana, notadamente as famílias mais antigas, que conviveram com esse estabelecimento comercial, com seus familiares, de surpresa e com muitas perguntas na cabeça. De novo? Há pouquíssimo tempo ocorreu o desabamento ainda não resolvido da Casa de Bem-Bem”, lembrou.

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 Crédito: Olhar Direto 

“Penso que restam pouquíssimos exemplares originais da arquitetura colonial e imperial em nossa Cuiabá. A responsabilidade por esses desabamentos deve ser atribuída, sem sombra de dúvidas, aos proprietários dos imóveis. São eles que devem cuidar do que lhes pertence”, ponderou.
 
Segundo ele, o tombamento reconhece a importância histórica do imóvel. Entretanto, isso não exime de responsabilidade dos órgãos públicos, que possuem recursos para orientarem essas famílias que estariam negligenciando a história cuiabana. “Como o tombamento é algo muito mal explicado para a sociedade, creio que deveríamos ser bem informados sobre procedimentos dos proprietários de imóveis, especialmente sobre o que pode ou não fazer. Ainda é um mito a palavra ‘tombamento’”, asseverou.
 
O historiador ponderou que os governos devem se preocupar com o patrimônio arquitetônico cuiabano. Citou como exemplo uma ação de vistoria que poderia ocorrer de tempos em tempos, por conta da grande demanda de mais de 500 imóveis no centro histórico cuiabano. “Isso sem contar os imóveis em outros bairros e distritos, a exemplo da Guia, Coxipó da Ponte e Porto”, afirmou.
 
“Reafirmo que a responsabilidade dos desabamentos de prédios históricos em Cuiabá deve ser atribuída aos donos dos imóveis. Essas famílias não estão honrando a história de seus próprios familiares, que pensaram numa Cuiabá que se eternizasse com prédios públicos e casarões coloniais. Portanto, o que vemos não é nada disso. Há de se ressaltar que existem ações individuais de preservação do patrimônio histórico no centro antigo de Cuiabá, são pessoas que pensam em preservar a história cuiabana para os seus pôsteres”, finalizou.
 
Após desabamento da casa, o prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) lamentou o fato, classificado por ele como uma perda para história de Cuiabá, que completa 300 anos no próximo mês de abril. “Embora seja motivo de tristeza o que aconteceu com a edificação, agradecemos que nenhuma pessoa estivesse dentro da casa ou tenha sido atingida pelos escombros”, disse.

A casa não está inclusa no pacote do Pac Cidades Históricas. O secretário de Cultura, Esporte e Turismo, Francisco Vuolo, disse que a situação deverá ser apurada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
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