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Sexta-feira, 19 de abril de 2024

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Sem atendimento, crianças com câncer padecem e pais se desesperam nos corredores da Santa Casa

Foto: Rogério Florentino Pereira/OD

Sem atendimento, crianças com câncer padecem e pais se desesperam nos corredores da Santa Casa
O olhar cabisbaixo de Driele Gonçalves da Silva Oliveira traduz toda aflição que ela sentiu depois que se deslocou até a Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá e recebeu a notícia que seu filho, Roberth Miguel, de 3 anos, que possui um tumor, não poderia ser submetido a mais uma sessão de quimioterapia. Assim como ela, outros pais se desesperam em busca de uma unidade hospitalar que atenda seus filhos, que lutam diariamente contra o câncer, doença que tira a vida de mais de 200 mil pessoas por ano.



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Na última segunda-feira (11), a direção da unidade paralisou os serviços e alegou o não cumprimento do repasse de R$ 3,6 milhões da Prefeitura de Cuiabá. Os pacientes oncológicos deveriam ser remanejados para outras unidades. Já os pacientes renais e que passam por hemodiálise estão sendo atendidos normalmente.
 
No entanto, essa gestão é feita pelo município e como não há vagas no Hospital de Câncer de Cuiabá, os pais ficam na incerteza se conseguirão atendimento para os filhos. Por meio da assessoria de imprensa, o Hospital de Câncer informou que irá receber os pacientes conforme forem encaminhados pela Central de Regulação e de acordo com a disponibilidade de vagas em cada especialidade.
 
Na manhã desta quarta-feira (13), a reportagem do Olhar Direto esteve na Santa Casa de Misericórdia e constatou uma situação de desespero. Nos corredores pintados de azul, famílias, voluntários e também funcionários, entoavam frases como, “queremos solução” e a “a clínica não pode fechar”.
 


Roberth Miguel faz tratamento na Santa Casa de Misericórdia há quase dois anos. Há um ano e meio, ele teve que passar por uma cirurgia de retirada de um tumor, que pesava um quilo e meio e estava em seus rins. Por conta disso, um dos órgãos ficou comprometido e teve que ser retirado. Depois de um ano, os médicos descobriram um nódulo no pulmão. Roberth teve que passar por 16 sessões de radioterapia. Quatro dias após o término do tratamento, um novo caroço surgiu no rosto da criança.


Novamente, Roberth passou por uma cirurgia, ficou internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e ainda hospitalizado, Driele Gonçalves recebeu a notícia que a doença havia voltado. O tratamento teria que ser iniciado novamente. Agora serão 31 sessões de quimioterapia e até o momento ele só foi submetido a três. A mãe ainda não sabe quando o filho dará continuidade ao tratamento.
 
“Estou com medo. Como vai ficar o tratamento das crianças? [Ele tinha] uma sessão para hoje, internar hoje e sair no sábado. Ele não vai fazer por conta do fechamento do hospital”, lamentou. “Vão fechar as portas e encaminhar [as crianças] para o Hospital de Câncer, só que lá não comporta todo mundo. As crianças que fazem quimioterapia, não podem esperar”, disse.



O serralheiro Edivaldo Alves percorreu 789 quilômetros de Alta Floresta até Cuiabá, mas não conseguiu atendimento para a filha. “A situação é essa, lutar todo dia. A gente chega para atendimento e a porta da clínica está fechada. As crianças não estão com gripe, estão com câncer. A doença a cada dia avança mais, a doença não tem como esperar. Fomos descartados, os hospitais todos lotados, como é que vai arrumar uma vaga? Como vamos voltar para a cidade sabendo que a nossa filha pode morrer a qualquer momento?”, questionou o pai, com a filha no colo.

A Santa Casa de Misericórdia possui uma grande estrutura e também profissionais que trabalhavam sem receber, seja por amor ao próximo, ou pelo amor a profissão, como, por exemplo, o médico, Wolney de Oliveira e a psicóloga Neyla Alves, ambos do setor de oncologia pediátrica.
 
A ala oncológica atende entre 40 e 50 crianças por mês. Outras 200 que estão fora de tratamento, fazem o acompanhamento no local. Voluntários se revezam com objetivo de levar alimentos e também alegria aos pacientes. Vilma Barros da 'Cia do Sorriso', explicou que procura acolher, dar amor e carinho.

Citou também o que observou nas famílias após a notícia da paralisação nos atendimentos. “Nós podemos ver as mães desesperadas pelo fato de uma transferência. Lá, elas vão recomeçar. Já é difícil para elas pelo problema em sí, que elas passam. Aqui estão aconchegadas, tem carinho dos voluntários que estão sempre aqui. Nós não estamos só dando carinho, mas também provemos algumas necessidades deles”, relatou.

A Cia do Sorriso atua em duas frentes. A primeira, realizada toda quarta-feira às 9h da manhã, e no último sábado do mês, às 14h30, é a visita à CliniCan da Santa Casa de Misericórdia, onde, fantasiados, os voluntários levam alegria e sorrisos às crianças internadas, e realizam também um café da manhã. A segunda frente é a de doação de um tipo de suplemento alimentar chamado ‘Ensure’. 
 
A voluntária acrescentou ainda que a Santa Casa de Misericórdia “É uma entidade enorme, com muitos quartos, potencial imenso, sem falar dos funcionários que ainda estão há meses sem receber. Estamos pedindo que olhem por essa instituição, que não deixem que ela feche e que possamos ver isso aberto e trabalhando a todo vapor”,
 
O pequeno voluntário de apenas 12 anos, Wylyan da Silva Duarte, também fez um apelo. “Esse hospital não pode fechar. Tem muitas crianças que estão precisando de atendimento. Todos nós estamos com vida, mas daqui a pouco essas crianças podem não estar. Não espera a criança chegar no caixão para falar ‘eu amo ela’. Aqui temos a oportunidade de valorizar, no caixão não temos mais”.


 
A Santa Casa paralisou os serviços hospitalares e alegou o não cumprimento do repasse. A unidade é alvo de investigação da Delegacia Fazendária e do Ministério Público Estadual (MPE). A informação foi divulgada pelo próprio Executivo, que ainda revelou um pedido de cautela feito pela Controladoria Geral do Estado (CGE) em repasses antecipados ou empréstimos.

Na última quinta-feira (7), o Conselho Municipal de Saúde de Cuiabá solicitou à Procuradoria Geral do Município parecer sobre o Relatório de Auditoria da Controladoria Geral do Estado que analisa a situação da Santa Casa.
 
A Controladoria Geral do Estado notificou o Município de Cuiabá do resultado da Auditoria efetivada na Santa Casa por solicitação da Delegacia Fazendária (Defaz), conforme documentos anexos, alertando para cautela em repasses antecipados ou empréstimos, pois a mesma está sendo objeto de investigação por parte do Ministério Público Estadual e da própria especializada.
 
A direção da Santa Casa informou que teria procurado a Defaz e teria negado a informação. O prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) solicitou todas as informações necessárias, para tomar as decisões cabíveis assim que retornar a Cuiabá, já que ele está fora da Capital.
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