Em Mato Grosso, a extensa bacia do rio Juruena, abrangendo 29 municípios, enfrenta uma invasão crescente do setor hidrelétrico. Com 179 projetos mapeados, um aumento de 39,8% desde 2019, a região testemunha a rápida expansão de empreendimentos, impactando diretamente a vida de povos indígenas.

Leia também
Fábio volta a defender estadualização e diz que deslizamentos mostram que ICMBio é incapaz de cuidar do Parque de Chapada

Os Enawenê-Nawê e os Rikbaktsa, habitantes tradicionais da área, sofrem com a escassez de peixes e a ameaça de extinção do tutãra, molusco central para sua organização social. O geógrafo Cristian Felipe Rodrigues Pereira alerta que o avanço hidrelétrico coloca em risco a soberania alimentar e a reprodução cultural dessas comunidades.

Entre os 179 projetos, 20% estão operacionais, 10% em construção, e os restantes 70% em fase de planejamento. A predominância das Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGHs), representando 46% dos empreendimentos, levanta preocupações de flexibilização ambiental, pois essas unidades, isentas de análises pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), experimentaram um aumento significativo de 95% desde 2019.

Detalhando a localização, a sub-bacia do alto Juruena concentra 36% dos empreendimentos em operação, enquanto a do rio Arinos destaca-se pela maior quantidade de CGHs (71%). A sub-bacia do Papagaio lidera em projetos em estágio de planejamento (33%) e possui a maior proporção de PCHs (37%).

A Operação Amazônia Nativa (OPAN), desde 2013, monitora esses impactos, alertando para a importância de envolver comunidades tradicionais e indígenas nas decisões sobre o desenvolvimento energético na região. O boletim destaca a necessidade de atenção contínua diante da correlação entre o aumento de CGHs e a flexibilização da legislação ambiental.