Após denúncia do Conselho Regional de Medicina (CRM) de um possível colapso na Saúde de Cuiabá, Olhar Direto esteve, nesta quinta-feira (25), em pelo menos três Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) da Capital, para verificar a situação. Em todas as policlínicas, o cenário encontrado foi o mesmo: caos e superlotação.
Na UPA Morada do Ouro, uma fila quilométrica foi observada já na entrada da unidade. No local, havia mães com crianças no colo chorando e até pessoas deitadas no chão.
Uma mulher, que preferiu não se identificar, contou à reportagem que chegou no local às 7h e até as 10h30, horário em que Olhar Direto esteve na UPA, ainda não tinha sido atendida. Ela foi buscar atendimento para a filha de sete meses que está com uma forte gripe desde terça-feira (23). Segundo a mulher, a criança teve febre a noite toda.
“Nos colocaram na classificação verde, sendo que minha filha está com febre alta. A menina só chora”, reclamou. Procurados, os funcionários da UPA preferiram não falarem com a reportagem.
Outra policlínica visitada foi a do bairro Jardim Leblon, onde a situação é um pouco pior. Na unidade, o cenário também era de lotação, mas com menor intensidade do que na Morada do Ouro. Lá, a coordenadora da clínica, Amália Toledo, afirmou que há apenas dois médicos clínicos gerais para atender à população, e nenhum pediatra.
Segundo a gestora, a empresa terceirizada que presta serviço à Unidade, a Cooperativa de Atendimento Pré e Hospitalar (Coaph), não enviou nenhum especialista para o local.
Ainda conforme Amália, na UPA há cerca de 60 pessoas esperando atendimento, contudo, o número pode ser ainda maior.
Enquanto a reportagem esteve no local, a idosa Carlinda Soares, 66, procurou a unidade para se consultar com um médico. Ela se queixava de febre alta e tossia bastante. Na recepção, a mulher foi informada de que, por conta do grande número de pacientes, poderia levar bastante tempo para ser atendida. Por conta disso, desistiu de esperar e resolveu ir embora.
“Eu vou voltar para casa, almoçar, dormir e volto mais tarde. A recepcionista falou que tem 70 pessoas na minha frente”, contou.
“Tem que chamar mais médicos. Não adianta vir reportagem aqui, tem é que chamar mais médicos”, acrescentou.
Por fim, a última clínica visitada foi a UPA Verdão. Ao entrar na unidade, já foi possível ouvir a recepcionista que fazia cadastro e triagem avisando aos pacientes que o atendimento demoraria. Questionada, a funcionária afirmou que havia apenas dois médicos clínicos na instituição e um pediatra.
Entenda
O Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM) ressaltou que a saúde de Cuiabá está caótica, cenário que não se limita à rede pública. Por isso, defendeu que o Estado e o Município se unam para criar uma central de triagem, semelhante ao que foi implantado na Arena Pantanal durante a pandemia da covid-19, para tentar amenizar a situação.
O segundo-vice-presidente do CRM, Osvaldo César Pinto, explica que no momento é necessário fazer uma “campanha” educativa a população de que qual rede deve procurar inicialmente para evitar uma possível superlotação na Santa Casa e no Hospital Municipal de Cuiabá (HMC), unidades que são inicialmente procuradas por grande parte dos pacientes que poderiam ser atendidas por outros pontos.
“O colapso existe, inclusive a proposta do CRM é suspender todas, nesse primeiro momento, os procedimentos eletivos para que sobre vaga, porque tem um colapso. Isso é concreto. E não é só na unidade pública. Na privada também. Eu trabalho em todos os hospitais daqui e sei o que está acontecendo nas privadas também”, destacou durante entrevista à imprensa nesta quarta-feira (24).
Osvaldo ressaltou que, no momento, o único local que funciona de “portas abertas” é a Santa Casa que, segundo o vice-presidente, acaba acolhendo pacientes que poderiam ser tratados em policlínicas ou postos de saúde, ocupando vaga de quem precisa de atendimento necessário oferecido pelo local.
A diretoria do CRM se reuniu na com representantes das Secretarias de Saúde de Cuiabá e do estado para buscar medidas que visem ampliar a capacidade de atendimento e reduzir a superlotação nas Unidades de Pronto Atendimento e no Pronto Atendimento do Hospital Estadual Santa Casa.
Outro lado
Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Cuiabá informou que vai notificar a Coaph para findar o contrato mediante as inconsistências contratuais apresentadas, como o descumprimento da presença dos profissionais médicos nas unidades de pronto-atendimento.
Esclarece que os pagamentos são efetuados, conforme a legislação, no prazo de até 90 dias após a glosa pelos técnicos da SMS;
-Informa ainda que o Ministério Público do Estado de Mato Grosso será informado quanto às inconsistências e será requisitada medida para sanear a demanda mediante a contratação direta em caráter emergencial;
-Reforça ainda que publicou na terça-feira (23) o edital de abertura do processo de seleção simplificado Nº 001/SMS/2024, que visa a contratação temporária de médicos e cirurgiões dentistas;
-Ao todo, a seleção oferece 120 vagas para contratação imediata e 260 vagas para cadastro reserva. Os salários chegam a R$10,9 mil. A seleção prevê a contratação imediata de 95 médicos e 25 cirurgiões dentistas. Na maioria dos cargos, a carga horária é de 20 horas semanais.
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