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Sábado, 27 de julho de 2024

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Vistoria comprova situação caótica no Pronto-Socorro de Várzea Grande

Vistoria comprova situação caótica no Pronto-Socorro de Várzea Grande
Corredores lotados de macas, pacientes e acompanhantes. Pessoas distribuídas aleatoriamente pelos cantos, tomando soro ou comendo bolacha com leite. Berçários, salas de pré-natal e laboratórios transformados em enfermarias para atender mais pacientes do que é possível. Médicos, enfermeiros e todos os outros colaboradores exaustos, trabalhando em condições extremas.


Este é o cenário desenhado no interior da Fundação da Saúde (Fusvag), o Pronto-Socorro de Várzea Grande, em decorrência da saturação de pacientes vindos de Cuiabá e do interior de Mato Grosso. Segundo João Botelho, um dos diretores do hospital, 49 municípios do estado foram atendidos por lá, até a tarde desta quarta-feira (4).

Das cinco salas de Unidades de Tratamento Intensivo, duas estão sendo aproveitadas como enfermarias. Em um dos corredores, um recém-operado se alimentava sentado na maca, tomando cuidado para não retirar acidentalmente um dreno externo colocado em seu pulmão. Ele havia saído há pouco de uma cirurgia para extrair uma bala. “O risco de infecção aumenta muito”, disse um funcionário que preferiu não se identificar.

O ambiente na Fusvag é tão crítico que vários médicos demissionários da rede pública de Várzea Grande sensibilizaram-se e voltaram atrás na decisão. Eles haviam tomado a decisão de se desligar do setor, seguindo o exemplo dos médicos de Cuiabá, devido à suposta falta de condições de trabalho e por não serem atendidos no pedido de aumento salarial.

“Todos os pediatras não são mais demissionários. Alguns outros, que não lembro bem, também voltaram atrás. E mesmos os demissionários estão trabalhando normalmente”, disse Botelho, contente com um ato de sensatez em meio a uma crise reforçada pela dificuldade nas negociações entre o Poder Público e o Sindimed (Sindicato dos Médicos).

Contudo, após alguns instantes de comemoração pela atitude dos médicos, Botelho voltou a se mostrar preocupado. “Se nada for feito para solucionar a superlotação de Várzea Grande, pessoas vão morrer”, alertou. Segundo ele, não há mais vaga no hospital e eles não sabem o que fazer caso chegue um novo paciente de alta complexidade.

Para Arlan Azevedo, presidente do CRM-MT (Conselho Regional dos Médicos de Mato Grosso), a causa da saturação em Várzea Grande não é a greve e demissão em massa dos médicos de Cuiabá, mas sim o “fechamento” do Pronto-Socorro de Cuiabá. “Faz 70 dias que estamos cobrando um plano de contingenciamento dos pacientes para o prefeito e não o vemos mover uma palha”, indignou-se o presidente da autarquia, que considerou a situação insustentável após inspecionar o hospital nesta quarta-feira.

Questionado, Botelho é categórico em dizer que o grande motivo da saturação em Várzea Grande é a reforma do Pronto-Socorro. “O fechamento é o que mais prejudica. Quem diz que não estão sendo encaminhadas pessoas de Cuiabá para cá está faltando com a verdade”, disse o diretor, enquanto era avisado sobre um paciente com apendicite, vindo do Posto de Saúde Familiar do Jardim Industriário I, da capital.

Já na hora de atribuir a culpa, João Botelho, mais subjetivo, declarou que “não adianta falar que está reformando, construindo, que a parede está pintada de verde, se não está acontecendo atendimento”. Mas na hora de dizer a quem se referia preferiu sair pela tangente. “Vocês sabem de quem estou falando, não vou citar nomes”.

O Conselho foi democrático e distribuiu a culpa do caos, instalado desde o dia 7 de setembro, quando os médicos de Cuiabá iniciaram a greve, o movimento demissionário e exigiam a demissão do secretário de Saúde da capital, Luiz Soares, para voltar ao trabalho, também ao Estado e à União. “Faltam leitos de retaguarda. Não há um hospital estadual ou federal em Cuiabá com capacidade de atender urgência e emergência”, afirmou uma diretora do CRM.

A autarquia afirmou que o Hospital Geral Universitário, isolado, é incapaz de atender os casos de urgência e emergência da capital. Para o CRM, “a solução é que Estado, municípios e médicos sentem-se à mesa para juntos encontrarem uma saída, pois a população é quem está pagando o preço.”

Enquanto isso, Botelho pede que a colaboração entre a gestão de Várzea Grande e os funcionários da Fusvag – que continuam trabalhando além do limite, lidando com situações de alto estresse e desgaste psicológico – sirva de exemplo para a cidade vizinha. “Esperamos pelo bom senso de todos os lados e nisso incluo a gestão pública e aqueles que paralisaram as atividades”.

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