Em tom de despedida, o governador José Serra (PSDB) defendeu nesta terça-feira o legado cultural de seu governo, além de lembrar que o que é feito nesta área é lembrado por mais tempo do que as obras de infraestrutura.

"Acho que as obras culturais ficam mais no tempo do que as de infraestrutura", disse Serra no evento que marcou o início das obras do Teatro da Dança, na Luz (centro de São Paulo). "Por exemplo, a gestão do Covas é muito lembrada pela Sala São Paulo, que não foi a sua maior obra. Covas começou o Rodoanel, esticou três linhas de metrô, fez muitas coisas. Mas, na verdade, o que se lembra é no caso da cultura porque é uma realização singular, e não rotineira."

Questionado sobre qual seria sua obra cultural mais relevante, Serra citou o Museu Catavento, instalado no Palácio das Indústrias (centro de SP), e o Museu do Futebol --este inaugurado por Serra quando ele ainda era prefeito da capital paulista.

Serra ainda lembrou que, ao longo dos seus quatro anos de mandato, o orçamento da pasta de Cultura "foi multiplicado por três", o que ele chamou de "muito significativo."

O governador preferiu não falar sobre o que seria seus últimos dias de mandato, já que deverá deixar o cargo até o início de abril caso queira concorrer à Presidência ou se reeleger em São Paulo. "Fica muito melancólico", brincou.

Demolição

Durante o evento, Serra derrubou parte de um dos muros das edificações que serão demolidas para a construção do Teatro da Dança --que, além de receber espetátulos de dança, teatrais e musicais, ainda será sede da Escola de Música do Estado de São Paulo.

Após a derrubada, o governador disse que fazer aquilo era como "uma terapia". "O João Sayad [secretário da Cultura do Estado, que estava ao lado dele] já marcou horário amanhã às 7h para derrubar um também", brincou.

A demolição das edificações é a primeira fase da obra, que deve durar até três anos e deve custar cerca de R$ 600 milhões --sendo R$ 170 milhões do Estado e o restante financiado junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).

Cracolândia

Segundo o governador, a construção do Teatro da Dança é a última peça do polo cultural da região da Luz --onde também fica a "Cracolândia".

"Nós temos aqui o Museu de Arte Sacra, a Pinacoteca, a Estação Pinacoteca, a Sala São Paulo, o Museu da Língua Portuguesa e o Jardim da Luz. E próximos temos o Museu da Polícia Militar, o palácio do Compos Elíseos. Estamos configurando o polo, que será completado com esse Teatro da Dança", disse.

"Isto é um passo muito importante para a revitalização de toda essa região do Centro. Revitalização não se faz só com disciplina urbana, com polícia, combatendo tráfico de drogas, mas se faz também com vida urbana normal".

Além do polo cultural, o governo paulista planeja para a região a construção da sede do Centro Paula Souza e de uma Etec (Escola Técnica).