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Sexta-feira, 26 de abril de 2024

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Com menos dinheiro na campanha, negros conquistam só 1 em cada 4 postos no Congresso e nas assembleias

Com maior dificuldade para arrecadar dinheiro nas campanhas eleitorais, negros (pretos e pardos) ocuparão, a partir deste domingo (1º), apenas uma em cada quatro cadeiras do Congresso Nacional e das 27 assembleias legislativas do País.

Hoje, tomam posse 513 deputados federais e 27 senadores eleitos no ano passado. Pelos Estados, assembleias que não trocaram seus integrantes no primeiro dia do ano também dão posse a seus novos parlamentares.

Os eventos completam o ciclo eleitoral que elegeu, além da presidente Dilma Rousseff e dos 27 governadores, quase 1.600 legisladores.

Levantamento inédito feito pelo R7, com base em números do Repositório de Dados Eleitorais do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), aponta que, levando em consideração a relevância do financiamento de campanha para o sucesso nas urnas, a disputa pelos cargos é desigual tanto no Congresso Nacional como nas assembleias estaduais.

Os 113 candidatos brancos a uma das 27 vagas em disputa no Senado, por exemplo, receberam, em média, R$ 2.134.061,84, enquanto os 49 negros (pretos e pardos) conseguiram arrecadar, também em média, somente 28% desse valor — ou R$ 596.428,58. Apenas cinco negros se elegeram.

Dinheiro é voto

O cientista político Fernando Henrique dos Santos, pesquisador da Unicamp, afirma que a relação entre dinheiro e voto é alta.

— Diversos estudos mostram que essa correlação é altíssima. Na política, mais dinheiro significa mais voto.

Um dos indicativos de que a verba é altamente relevante para a eleição de um candidato é o fato de que, na comparação apenas entre os eleitos, a diferença de arrecadação entre negros (R$ 2.354.885,61) e brancos (R$ 5.351.026,95) cai pela metade: ainda assim, os cinco negros (pretos e pardos) eleitos angariam, em média, apenas 44% do dinheiro recebido em média pelos 22 brancos eleitos.

Esta é a primeira eleição em que o TSE disponibiliza, entre seus dados, a raça/cor declarada pelos candidatos.

Na Câmara dos Deputados, a desigualdade entre os candidatos foi semelhante. Os 3.485 brancos arrecadaram uma média de R$ 272.225,10, e os 2.330 negros (pretos e pardos), apenas 32% dessa quantia — ou R$ 88.020,47. Ao fim da disputa, 411 brancos e 102 negros se elegeram.

O geógrafo Sergio Henrique de Oliveira Teixeira, da Unicamp, afirma que a diferença na arrecadação indica que as principais financiadoras de campanha não têm interesse nas questões propostas pelo movimento negro.

— A pauta do movimento negro não é uma pauta interessante para as grandes empresas, para as grandes financiadoras.

Considerando a arrecadação média apenas dos eleitos, a queda na diferença é brusca: negros (pretos e pardos) eleitos receberam R$ 1.006.578,64, enquanto brancos eleitos arrecadaram R$ 1.544.673,42.

quadro publicado abaixo desta reportagem detalha ainda a diferença de financiamento na disputa por vagas em cada uma 27 assembleias legislativas. Considerando todas as Casas, os candidatos negros (pretos e pardos) arrecadaram só 38% do valor angariado por brancos.

A maior defasagem ocorreu em Santa Catarina, onde os 367 brancos receberam, em média, seis vezes mais que os 28 negros (pretos e pardos) — R$ 138.864,39 ante R$ 20.958,17. Nenhum negro foi eleito no Estado.

Candidato cantor

Mesmo na Bahia, onde, segundo o Censo 2010, 76% da população — e 70% dos candidatos — é negra (preta ou parda), os 388 candidatos negros arrecadaram, em média, menos da metade do arrecadado pelos 161 brancos (R$ 61.479,42 ante R$ 140.109,71). E conquistaram apenas 25 das 63 (40%) cadeiras da Casa.

Sargento Isidório (PSC), negro e segundo mais votado no Estado, diz apelar para o corpo a corpo de campanha, cantando músicas de sua autoria para os eleitores, para compensar a falta de dinheiro.

Mulheres

O levantamento do R7 aponta desigualdade também na comparação entre o financiamento de campanha de mulheres e de homens.

Na corrida pela Câmara, por exemplo, os 4.143 candidatos homens arrecadaram, em média, R$ 252.266,74, enquanto as 1.723 candidatas mulheres angariaram, também em média, R$ 65.461,29.

O demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas, afirma que a legislação que prevê cota para mulheres na disputa eleitoral não resolveu o problema da representatividade no Legislativo por causa, entre outros motivos, da existência de candidatas 'laranjas' — com financiamento mínimo e, muitas vezes, com voto zero.

Critérios

Os números do Repositório de Dados Eleitorais do TSE tabulados pelo R7 levam em consideração a prestação de contas apresentada pelos candidatos à Justiça. Os números estão sujeitos a retificações.

R7 considerou eleitos os candidatos apontados como “eleito” ou “eleito com recurso” no banco de dados do TSE. Alguns dos eleitos ganharam cargos no poder Executivo — como os de ministro ou secretário, por exemplo — e serão ou já foram substituídos pelos suplentes. Mas não perdem a vaga: ao longo da legislatura, poderão assumir suas cadeiras, como titulares, caso deixem seus postos.

Assim como o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o TSE usa a denominação "preto" e “pardo”, em vez de "negro".

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