Os espíritos, quando na expressão humana, carregam consigo e explicitam inúmeros aspectos das vivências anteriores. É possível perceber esse fato, quando se encontra uma criança com talentos que só se configurariam, por lógica, depois de muito aprendizado e experiência. Da mesma forma, há seres que revelam certa inclinação para comportamentos problemáticos desde a mais tenra idade. 

Confirmei essa suspeita numa festinha de aniversário infantil, onde encontrei a menininha que me fez pensar por muito tempo, a partir do que presenciei, naquela ocasião, nessa possibilidade. Ela não tinha mais do que dois anos e meio, no máximo três, era loira e gordinha, mal se segurando sobre as perninhas, que treinavam um andar mais firme; balbuciava alguns sons, que ainda não eram palavras.

Rodeando uma mesa baixa, fora do alcance do olhar da mãe, ela bebia, segurando com suas mãos miúdas e roliças, dos copos e latinhas, que continham restos. Achei curiosa aquela atitude e passei a prestar atenção no que ela fazia. Constatei que ela evitava os copos de refrigerante, experimentando-os num pequeno gole e deixando-os rapidamente de lado, para tomar apenas daqueles que continham cerveja. Avaliei bem a situação, para ter certeza de que eu não estava enganada: ela só mostrava interesse nos conteúdos em que havia álcool.  

Percebi que a escolha dela não era feita ao acaso. Era como se algo maior do que ela, mais forte do que ela, comandasse suas escolhas e seus movimentos: ela fazia tudo depressa e com uma eficiência inesperada para a idade que tinha. Sua expressão era de uma pessoa adulta, e ela parecia estar pronta a reagir, ou mesmo a fugir, se alguém inesperado aparecesse de repente. A mim, uma desconhecida, ela nem parecia notar. De repente, a mãe surgiu à sua procura e, muito brava, arrancou o copo das mãos dela. A reação foi muito forte: crise de choro, birra e gritos.  

Dei-me conta de que é fácil perceber e observar talentos que despontam na mais tenra idade: uma atriz mirim, um cantor afinado, um desenhista, uma bailarina, entre outros dons que despontam logo nos primeiros anos de vida. O difícil é lidar com as características negativas, as tendências que nada tem de artísticas ou especiais, como o interesse prematuro por substâncias tóxicas, a agressividade, a maldade gratuita.

Muitas crianças apresentam desde muito cedo padrões desviantes de comportamento, que os pais preferem ignorar, acreditando que são circunstâncias passageiras. Afinal, uma criança inocente não pode ter aprendido coisas inadequadas tão cedo. Não pode mesmo, porque já nasceu sabendo. Elas precisam, mais do que ninguém, de apoio e compreensão, de acolhimento e carinho. Quanto antes forem reconhecidas e ajudadas, mais cedo elas se libertarão.