Olhar Direto

Quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Opinião

Conhece-te a ti mesmo (Nosce te ipsum)

O aforismo que encabeçou o presente esboço literário é de origem grega, de autoria incerta, no entanto, inscrito no Templo de Delfos, que nos remete, não obstante, à lembrança de Sócrates, ante o trabalho de parto do autoconhecimento que ele promovia com terceiros,.
 
Para tanto, esse sábio homem lançava mão do método que ficou conhecido para todo o sempre, pelo menos no ocidente, como maiêutica, responsável por desconstruir verdades prontas e acabadas (dogmas) e herdadas pelos usos e costumes da época (preconceitos ético-morais), como um parteiro das ideias, filho que foi de uma parteira de vidas, sua mãe.

Aquele grego, considerado o mais sábio de todos, condenado à morte por fazer os jovens pensar criticamente, acusado de corromper a juventude, levava o interlocutor, em qualquer debate, por intermédio de reiteradas indagações, a olhar para dentro de si, ativar a percepção e despertar a consciência, vendo-se necessariamente diante de outro aforismo, do "só sei que nada sei", para, daí, logo após humildemente constatado toda fragilidade e fugacidade dos mantras propagados pelas velhas ideias formadas sobre tudo (Raul Seixas - Metamorfose Ambulante), reconstruir seus pensamentos e comportamentos, quase como o nascer de novo, admoestado por Jesus ao fariseu Nicodemos.
 
Quem sabe tendo bebido da água do rio de Heráclito, pelo menos do ponto de vista da dialética, entretanto não para criar pressupostos novos, e, sim, encontrar a verdade por detrás das sombras, quando iluminada pela luz da razão.

Em quanto tempo cada um de nós pode conhecer-se profunda e totalmente, ou seja, despido de máscaras e com a alma completamente nua, com suas manchas e feridas acumuladas durante a vida, ao ponto de limpá-las e curá-las, via o despertar da consciência, provocado pela ciência e experiência acumuladas na vida, pela sabedoria adquirida ou inspirada pela Providência Divina, chame-a de Energia Sideral, Natureza Primeira de todas as coisas ou Big Bang?

E quando isso ocorre, qual é o efeito terapêutico de assumir-se como és, de não esconder seu passado, de corresponder fidedignamente ao presente e de ser o protagonista da construção do seu futuro diferente, a despeito da oposição alheia ou da incompreensão de outros mais, todavia, sendo sincero consigo próprio, leal com quem te acompanha, fiel com quem convive, honesto com quem te interpela e transparente para todos que te vêem, como realmente tu és, sem encenar personagem algum, imposto pelas circunstâncias ou escolhido pelas aparências, mantendo latente e sendo coerente com tua essência?

Isso, em um movimento libertador das amarras externas e da prisão mental que impede de assumir o comando e o protagonismo da vida vivida, sem freios e cabrestos fortes o suficiente que impeça-nos de sermos felizes e sentirmo-nos realizados, de bem conosco e em paz com o movimento de leva e trás da semeadura até à colheita dos frutos dos sonhos que tornam-se realidades.

Como sementes plantadas em terra fértil e regadas com água pura, metaforicamente representando nossas atitudes, os alvos dos nossos esforços e sacrifícios, bem como daquilo que dispusermo-nos a fazer e a desfazer-se para alcançar os objetivos almejados e pretendidos, a despeito das pedras no caminho, para não falar das cordilheiras, entretanto, desviadas e/ou escaladas, portanto, superadas e deixadas para trás.

E é com muita força, foco, fé, esperança e amor que obtemos o combustível e a via de acesso ao infinito imensurável de possibilidades que temos de ser felizes, antes, durante e depois das lágrimas derramadas, precedendo o sorriso aberto espontaneamente pela vitória conquistada e o caminho atravessado até chegar a ela, tão dignificante e edificante quanto o ponto de chegada.
 
Paulo Lemos é advogado em Mato Grosso.

 

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