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Quarta-feira, 17 de julho de 2024

Opinião

Epidemiologia dos Acidentes de Trânsito em Mato Grosso

Nessa semana estamos na campanha da Semana Nacional de Trânsito, com o objetivo de reduzir a mortalidade por acidentes de trânsito. No entanto, apresento para reflexão da sociedade e das autoridades responsáveis os seguintes dados referentes à mortalidade por esse tipo de agravo.

Ao analisarmos dados do Ministério da Saúde referentes aos 7.444 óbitos por acidentes de trânsito ocorridos no Estado de Mato Grosso, no período de 2002 a 2009, segundo os tipos de causa, de sexo e de faixa etária (0 a 09 anos, 10 a 19 anos, 20 a 39 anos, 40 a 59 anos e acima de 60 anos) é possível identificar o perfil do grupo mais vulnerável a esse tipo de mortalidade.

Na faixa etária de 0 a 9 anos a maior mortalidade está relacionada aos atropelamentos com um total de 104 óbitos, sendo 57 para o sexo masculino e 47 para o sexo feminino. Na faixa etária de 10 a 19 anos, a principal causa de mortalidade, com 253 óbitos, são relacionados a ocupantes de automóveis de passeio envolvidos em acidentes de trânsito, sendo 175 óbitos para o sexo masculino e 78 para o sexo feminino, como segunda causa para essa faixa etária, temos os acidentes de motociclista com um total de 245 óbitos.

O grupo da faixa etária de 20 a 39 anos é o mais vulnerável a mortalidade por acidentes de trânsito, no período de 2002 a 2009 do total de 7.444 óbitos ocorridos em Mato Grosso, 47.54%, isto é, 3.539 dos óbitos estavam relacionados a esse grupo.

A principal causa de mortalidade são os acidentes envolvendo os motociclistas, com um total de 1.204 óbitos, sendo 1.071 para o sexo masculino e 133 para o sexo masculino, apresentando uma sobremortalidade masculina superior em 8,05 vezes em relação à feminina. Porém, ao analisarmos isoladamente o sexo feminino dessa faixa etária, verificamos que os óbitos relacionados a acidentes de automóveis superam os acidentes de motocicleta.

Estudos apontam que esse grupo, de 20 a 39 anos, está mais vulnerável para o consumo de bebidas alcoólicas e uso de drogas. Dados que constam da Política Nacional de Saúde Homem do Ministério da Saúde apontam que 12% da população dessa faixa etária apresentam transtornos graves associados ao consumo de álcool e outras drogas. Em relação ao consumo do álcool a incidência é maior no sexo masculino, sendo o seu consumo em média quatro vezes maior do que no sexo feminino. Podemos associar a combinação álcool e condução de veículos/motocicletas com o comportamento de risco, já que o álcool possui um efeito sedativo-hipnótico, levando o seu usuário a tomar atitudes que causem prejuízos para si, como para terceiros, estabelecendo uma relação entre o consumo de álcool e os acidentes de trânsito.

(BRASIL,2009)
Ainda na análise, segundo os tipos de causa e faixa etária, o grupo de 40 a 59 anos, apresenta como a principal mortalidade por acidentes de trânsito os relacionados a automóvel de passeio, com um total de 593 óbitos, sendo 490 para homens e 103 para mulheres.

Por fim, o grupo acima de 60 anos, cuja principal causa de óbitos são os atropelamentos, com 309 casos, sendo 242 para os homens e 26 para as mulheres. A vulnerabilidade desse grupo para esse tipo de acidente vem sendo abordada em vários trabalhos (ROZESTRATEN,2002) já que após os 60 anos, a visão periférica fica reduzida, ocasionando uma diminuição do campo visual, sendo comum os idosos não compreenderem uma situação de risco, como por exemplo, se existe uma distância de segurança suficiente para atravessar a rua enquanto o veículo se aproxima, ou de notar detalhes do asfalto que possua um piso irregular que ocasione uma queda. Outra questão é o modo de deslocamento desse grupo, que é feito na maioria das vezes a pé, e de forma vagarosa, tornado o idoso mais vulnerável para o atropelamento, sendo este o mais mortal de todos os acidentes de trânsito.

Estudo da Rede Sarah de hospitais de reabilitação, aponta como conseqüência do elevado grau de mortalidade em decorrência dos atropelamentos no grupo de crianças (0 a 06 anos) e em idosos (acima de 60) o seguinte: em relação às crianças, que por serem menores, ao serem atropeladas estão sujeitas as certas modalidades de lesões, como as que atingem a cabeça, as regiões pélvica e abdominal, já que 80% dos casos de atropelamento, o pedestre nessa faixa etária é atingido pela dianteira do veículo. Já os idosos são mais susceptíveis a uma lesão grave em decorrência da sua estrutura óssea menos resistente, tendo maior probabilidade de vir a óbito.

Diante dos dados apresentados podemos então traçar o perfil do grupo mais vulnerável a mortalidade por acidentes de trânsito no Estado de Mato Grosso no período compreendido entre 2002 a 2009. É do sexo masculino, na faixa etária dos 20 a 39 anos, condutor ou ocupante de motocicleta ou de automóvel de passeio.

Essa realidade demonstra um grave problema de saúde pública no Estado, já que atinge uma população jovem e economicamente ativa, necessitando da formulação de políticas públicas especificas para esse grupo, em consonância principalmente, com as seguintes políticas do Ministério da Saúde: a Política Nacional para a Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências e a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, além da articulação das agendas e dos instrumentos de planejamento dos diversos setores diretamente relacionados ao problema.

Maurício Gomes dos Santos é professor universitário, especialista em Saúde Pública (ESP/MT) e Mestre em Gestão de Políticas Públicas (Univali/SC)

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