Olhar Direto

Sexta-feira, 26 de abril de 2024

Opinião

Servidor Público: os verdadeiros culpados pela extinção dos dinossauros

Após a morte de José, o faraó esqueceu quem era o povo mato-grossense que havia ali se exilado. Então, o povo foi escravizado, execrado, humilhado e injustiçado até a intervenção divina e sua libertação. Após atravessarem o Rio Cuiabá durante a piracema, o qual foi separado por Deus, partiram para vagar em busca da terra prometida: uma terra com temperatura agradável, onde manava suco de caju com guaraná ralado, rios cheios de pintados e pacus, grandes cachos de bocaiuva e pés carregados de pequi. Mas por causa de seu pecado, de sempre escolher péssimos governantes, aquele povo foi obrigado a vagar 300 anos pela América do Sul.

Os mato-grossenses foram para o sul, atravessaram os pampas argentinos, e após causarem tumulto na final da Libertadores entre River x Boca, passaram para o outro lado dos Andes, visitaram algumas vinícolas chilenas e acamparam por um tempo no Monte Aconcágua onde receberam as tábuas da Lei – receberam proforma, pois nunca procuraram cumpri-la. De volta à peregrinação, rumaram para o leste. Atravessaram novamente os Andes, passaram pelos charcos paraguaios e os pântanos sul-mato-grossense até, finalmente, avistarem os trilhos abandonados do VLT e encontrarem a terra prometida.

Oras, o povo cresceu e se multiplicou. Castas foram criadas e todos foram prosperando. Entretanto, o pecado daquele povo era grande e recorrente. Teimavam em escolher péssimos governantes, tanto no executivo quanto no legislativo, e seus juízes, ao invés de ajudarem, só atrapalhavam.  Até que Deus perdeu a paciência e mandou os piores governantes do mundo para aquele povo. Resultado: estado quebrado, estradas corroídas, recorde de desmatamento e queimada, concentração de renda nos barões do agronegócio, caos na saúde, últimos lugares nos índices de educação, violência maior que na Síria, inauguração de coisas inacabadas, bêbados loucos dirigindo soltos pelas cidades.

Entretanto, o último eleito, o faraó Oque Eufalo Nãoseescreve, rei na hora de apontar problemas e mané na hora de apresentar soluções, resolveu jogar para a plateia dizendo que o grande responsável pelo apocalipse mato-grossense eram os funcionários públicos. Grandes pecadores, tais funcionários eram os precursores do Armaggedom e do fim do mundo e, se não fossem eliminados, traria sobre todos o castigo da chuva de fogo e enxofre que cairia sobre o estado. Daí começou a maciça campanha para convencer a população (e a si mesmos) de que os funcionários públicos, pegos para Cristo, deveriam ser crucificados para remissão dos pecados de todos:

- O dilúvio? Culpa dos funcionários públicos.

- Aquecimento global? Culpa dos funcionários públicos.

- Extinção dos mamutes e tigres dente-de-sabre? Culpa dos funcionários públicos.

- Divórcio entre Lady Di e Príncipe Charles? Culpa dos funcionários públicos fofoqueiros.

- Eclosão da Segunda Guerra Mundial? Culpa dos funcionários públicos.

- Ônibus sem ar-condicionado em Cuiabá? Culpa dos funcionários públicos.

- Brasil perder a Copa em 1982? Culpa dos torcedores funcionários públicos.

- Pablo Vittar, como mulher mais sexy do Brasil em 2018? Culpa exclusiva dos funcionários públicos.

Diante de provas irrefutáveis de que essa classe de gente é o mal do mundo, o faraó preparou a via-crúcis para tais meliantes: péssimas condições de trabalho, ausência de gestão, equipamentos obsoletos, falta de metas e resultados, aumento do desconto na previdência, extinção da RGA, tratamento discriminatório em relação aos servidores dos outros poderes, salários congelados e atrasados, com promessa de pagamento apenas quando Jesus voltar, passagem só de ida para o purgatório e, finalmente, taxação do pequi, do guaraná ralado e da bocaiuva.

Como golpe final e fatal, o faraó preparou para exibição no horário nobre da TV Assembleia (a legislativa e não a de Deus) a prova que iria sepultar de vez essa casta de pecadores: um documentário que mostra a gravação de que foram funcionários públicos que enviaram o meteoro que provocou a extinção dos dinossauros. Ah, caro leitor, matar os dinos era simplesmente imperdoável.
 

Eustáquio Rodrigues Filho é Cristão, Servidor Público e Escritor. Autor do livro "Um instante para sempre". Instagram: @eustaquiojrf.
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