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Sexta-feira, 26 de abril de 2024

Opinião

O imperador está louco

Caio Júlio César Augusto Germânico (31 de agosto de 12 d.C. — 24 de janeiro de 41), também conhecido como Calígula, segundo informações históricas, nomeou o próprio cavalo como senador vitalício no fim do seu fatídico mandato. Na ocasião, ele estava debochando dos membros do Senado Romano, mas ratificou que seus patrícios, os nobres legisladores, teriam de conviver com aquele animal irracional, alimentá-lo, educá-lo, ensiná-lo as leis de todo Império Romano.

Na época, para seu cavalo, Incitatus, construiu um palácio de mármore. Antes disso, havia nomeado o equino como sacerdote e designado uma guarda pretoriana para tomar conta exclusivamente de seu sono. De acordo com a Historiografia Oficial de Roma, a ideia de Calígula maior era humilhar o Senado Romano e mostrar que: se podia nomear um cavalo sacerdote e senador, podia então fazer qualquer coisa com a vida de qualquer pessoa.

Entretanto, os soldados apoiavam todas as loucuras do imperador. Por duas vezes Calígula escapou de atentados à sua vida: era odiado por parte do povo. Mas foram os oficiais de sua guarda que, aterrorizados e fartos, decidiram acabar com seu governo desvairado. Numa conspiração que reuniu a guarda e senadores, o imperador foi assassinado num túnel que ligava o Palácio ao Fórum.

Calígula acreditava no terror como arma de poder e gostava de ser odiado: dizia: "Oderint dum metuant!" (que odeiem enquanto tremem de medo), referindo-se ao povo.

Longe de querer incentivar o ódio aos governantes da república ou estimular a desordem pública, mas, de forma simbólica e até cômica, o leitor inteligente pode sim fazer um paralelo entre as decisões desastrosas desse político romano com a inúmeras decisões desequilibradas e antirrepublicanas do excêntrico presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PSL).

A última pretensão mirabolante dele, que pode manchar as letras da CF/88 com o sangue da imoralidade e da impessoalidade constitucional, é querer indicar o seu próprio filho, como se ele fosse um príncipe da república das bananas, ao cargo de embaixador do EUA.

Por sua vez, o corpo jurídico "sego e mudo" que o assessoria afirmou para mídia que isso não "representaria" uma afronta à legalidade vigente e nem ao artigo 37 da Carta Magna. Aliás, de Carta Magna eles não querem nem saber, pois são verdadeiros escravos da ideologia ultraconservadora da direita.

Porém, o duro é ver quem consegue e tem a coragem moral para colocar na cabeça desse gênio, uma maturidade jurídica para o "mito" perceber que está errado. "O mito nunca está errado", dirão seus eleitores mais alienados e quase esquizofrênicos.

Todavia, a repercussão dessa nova decisão de uma verdadeira familiocracia – que estimula a marcha da desordem democrática em cascata pela pirâmide do Estado brasileiro – foi enorme nas redes sociais e perante algumas figuras de pensadores do país, como jornalistas, escritores, empresários, juristas, professores e até mesmo militantes fieis do partido do próprio presidente, ficaram estarrecidos e até assustados com tal decisão antirrepublicana.

Não é preciso nem citar novamente as frases desses pensadores, pois quase todo mundo já se pronunciou exaustivamente sobre esse dilema infeliz para pátria brasileira. Porém, apenas para frisar, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello, que tem sido contrário à indicação de parentes de políticos para cargos de natureza política, disse ter a impressão de que é "péssima" a possível indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL), para ser embaixador nos Estados Unidos.

Segundo o ministro, o caso configuraria nepotismo nítido. "Essa é a minha leitura da Constituição Federal. Minha impressão [sobre a possível indicação] é péssima, só pode ser péssima, porque contrária a indicação, se houver, sob a minha ótica, à Constituição Federal. Então é péssima", disse à mídia na noite desta última quinta-feira (11).

Será que Bolsonaro perdeu mesmo o que restava de bom senso institucional ao indicar mais um pessoa despreparada para representar o país, seja aqui dentro o lá fora, ou apenas quer passar a mesma mensagem que Calígula passou, a quase 2000 mil anos atrás... de abusar do poder e fazer o que que quiser com seu mandato, inclusive, ser o pior exemplo para os gestores em todo Brasil e no mundo; apenas para debochar dos adversários e dos opositores de seu governo despótico.?                            

Essa pergunta quem pode responder... são as autoridades brasileiras que ainda têm o mínio de discernimento institucional e os próprios apoiadores do bolsonarismo. Contudo, essa postura de um imperador decrépito e irresponsável dos tempos antigos não pode influenciar os legisladores e os gestores éticos deste país.

É por esses motivos que fica difícil manter uma governabilidade calcada nos princípios mais básicos da administração pública. Assim, o que resta para este governo desgovernado é liberar bilhões em emendas e cargos para aprovar as reformas que o Brasil, infelizmente, não pode deixar de aprovar.

Pois, a sensação geral é um sentimento de profundo arrependimento e descrédito por parte dos eleitores, pois os políticos oportunistas aproveitaram que o país está à beira de um precipício econômico, bem como da desgraça dos brasileiros, para impor ao país um modelo de fisiologismo escancarado, que revela a mais espúria jogatina dos tempos das orgias políticas romanas. Esses politiqueiros sabem e o mercado financeiro também que as reformas são de suma importância para alavancar o crescimento e gerar mais empregos aos brasileiros e, por isso mesmo, que querem empurrar, à força e a qualquer custo, na garganta do povo essas práticas do toma lá dá cá.

Segundo informações do Governo Federal, o presidente liberou nesta última quinta-feira (11), nos dois dias anteriores para aprovação do texto-base da reforma da Previdência, R$ 1,5 bilhão através das emendas. Agora, a verba disponibilizada em três dias chega a R$ 1,7 bilhão. Depois de verbas, governo liberou também cargos para concluir aprovação da Previdência. Conforme o governo, mais de 300 indicações de congressistas que estavam travadas começaram a ser efetivadas.

Contudo, diante do exposto, não será nenhum espanto ver os "nobres" senadores e parlamentares trocando a dignidade e a moralidade desta república pela sabatina e aprovação do novo príncipe da monarquia brasileira. "princeps est ad insaniam convertunt, o imperador está louco", diriam os cidadãos romanos.

Marcelo Ferraz é jornalista e escritor.
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