Olhar Direto

Sexta-feira, 26 de abril de 2024

Opinião

Cenário e estratégias empresariais ante o COVID-19

Neste artigo será compartilhada a visão empresarial sobre o momento de paralisia da economia, buscando-se demonstrar estratégias aplicáveis para mitigar os prejuízos. Não se abordará a questão dos cuidados à saúde em si, há diversos outros canais que se dedicam, com propriedade, a isso.           

Dirijo-me àqueles que, como eu, se sentem ansiosos pelo quadro de incerteza que nos cerca diante de algumas questões que se acenam: a) quanto tempo durará a paralisação?  b) quais os impactos que o momento trará à economia mundial? c) que medidas adotar em relação aos colaboradores? d) quais estratégias para mitigar os efeitos da crise?

Em busca de respostas, foram ouvidos empresários de Cuiabá que, contribuindo com o presente artigo, compartilharam como tem agido para combater a crise ocasionada pela paralisação.

Rodolfo Alves de Almeida, pela Água Mineral Lebrinha, disse que a demanda por água aumentou muito pois as pessoas estão estocando o produto. Contrataram mais pessoas para produção (em três turnos). O setor administrativo está fazendo rodízio. Os vendedores estão em home office, sendo proibida a visita a clientes.  Os motoristas têm orientação para se proteger de contaminação no momento do carregamento e entrega. Foi adquirido um termômetro digital "de testa" pra aferir a temperatura das pessoas que entram na empresa, se alguém tiver com febre isolam e encaminham para casa de repouso.

Rodolfo diz que há risco da empresa parar se os fornecedores de peças de reposição não mantiverem o funcionamento, algumas de Bento Gonçalves e Caxias do Sul/RS. Se houver problemas com as máquinas não sabe se manterão a atividade. Considera um cenário extremo, que afetaria a produção, é se houver uma contaminação em massa, mas acredita que não ocorrerá pelas medidas preventivas públicas que estão sendo tomadas.

Manifestou preocupação com o pequeno empresário e o profissional independente que, rapidamente, poderão ter sua condição deteriorada assim como da população em geral, podendo a crise trazer resultados negativos em índices de violência. Mas, salienta a importância de se proteger em especial as pessoas pertencentes ao chamado grupo de risco. Falou do receio de calote sistemático no mercado. Por fim, mencionou ações de apoio realizadas pela Lebrinha para combater a crise provocada pelo COVID-19, como a doação de vasilhames ao governo do estado de Mato Grosso para embalagem de álcool gel.

Rogerio Fabian Iwankiw, falou pela Plaenge Empreendimentos. Ele informou que algumas medidas estão sendo tomadas como a paralisação de obras por 15 dias, mantendo-se salários e empregos, mediante acordo inicial de compensação dos dias parados ao longo dos próximos. Existe preocupação com estrago maior na economia, mas com crença que em mais 10 dias essa situação retome e o país comece a sair da paralisia. São mantidos cuidados com grupo de risco. Disponibilizam EPI aos órgãos de saúde.  Disse que recebeu relato de proprietário de hospital do interior de São Paulo, dizendo que parou tudo, está preparado para o surto mas está sem receita pois as operadoras de saúde particulares só pagam os médicos de plantão.

Geraldo José do Prado, pela Casa Prado, informou que eles adotaram inicialmente um horário reduzido de trabalho, buscando mitigar o risco daqueles que se encontram em grupo vulnerável. Disponibilizaram também álcool em gel em todas as unidades e orientaram os colaboradores a intensificar a limpeza do local.  Suspenderam viagens e reuniões presenciais e criaram um canal de delivery. Após, com a intensificação das restrições, fecharam as unidades. Ele manifesta intensa preocupação com o cenário econômico e aguarda medidas governamentais para auxiliar na recuperação financeira pelos problemas causados neste momento.

Já Rodrigo Nogueira Manoel, pela Pão & Arte Frozen Bread, disse que mantém a produção e que aguarda algo prático a ser determinado pelo governo em relação aos colaboradores. Ele diz ver dificuldade em manter as atividades por conta das restrições que o atendimento precário dos bancos pode representar.

Felipe Goelzer Pereira, pela Márcio Design, afirma que passam por algo novo, nunca imaginado. Entende necessária a quarentena, mas considera que o efeito colateral disso pode trazer um saldo (inclusive de mortes) talvez maior que o próprio coronavírus, pelo definhamento de uma sociedade que já é carente. Como medidas práticas, encaminharam e-mail aos fornecedores para suspender o envio de mercadorias nesse período. As lojas estão todas fechadas nos Shoppings e maison, em atendimento às ordens governamentais. Fomentaram o e-commerce. Salientou que é um momento de se olhar para Deus e para família, e que num momento que as pessoas estão tão carentes de um abraço e contato físico, existe um vírus que nos impede disso. Como um contrassenso, vê nisso um recado para que saíamos mais fortes e simpáticos com as pessoas, com um olhar social sobre o outro. Se preocupa com a rigidez das medidas e entende que se isso se estender poderão trazer um saldo muito negativo. Aponta a quarentena vertical como uma saída, com a manutenção das pessoas pertencentes ao grupo de risco em casa, o que seria um equilíbrio entre cuidar das pessoas e retomar as atividades.    

Paulo Esteves Souza, pela Verdão Materiais de Construção, considera uma crise comparável a de 1929. As lojas estão abertas como exceção indicada no Decreto 7.849/2020  da prefeitura, pois são consideradas um segmento essencial. Concederam férias para 60% da equipe. Nas lojas foram tomadas medidas de segurança, como disponibilizar máscara para todos os funcionários e horário de funcionamento reduzido. Há enorme demanda por parte de hospitais, que necessitam de suporte do segmento nesta fase crítica. Paulo disse que cancelaram o contrato de marketing para os próximos 30 dias para diminuir custos, ante a previsão de a receita ter queda drástica. Bloquearam também a venda no boleto por risco de inadimplência. Disse haver muitos títulos a vencer e prevê que com essa paralisação haverá queda nas vendas, afetando o fluxo de caixa. Solicitaram para vários fornecedores a prorrogação dos vencimentos. Afirma acreditar que por conta do cenário pode haver mais problemas (e até mortes) do que o coronavírus pode trazer.

Passo a tecer minha própria reflexão. Começo pelos aspectos emocionais. Ao lado do sempre atual Dale Carnegie, em sua contribuição para gestão das preocupações, ele nos diz que uma ferramenta que pode ser muito eficaz em momento como esse é: cooperar com o inevitável. O que significa que não devemos nos opor àquilo que supera nosso controle e nossas forças,  o que geraria somente desgaste e sofrimento. O cenário que se impõe com a consequente paralisia é, atualmente, algo insuperável a todos nós. Adotar uma postura de resignação em relação ao cenário pode significar sabedoria.  

Mas não vamos confundir resignação (aceitação que o cenário externo não pode ser alterado por nossas forças) com paralisia ou não-ação. Resignar-se objetiva diminuir a carga de ansiedade e preocupação que pode corroer nossa condição emocional, com piora generalizada de todos os aspectos que isso pode envolver, inclusive com nossa capacidade de tomar boas decisões tão importantes nesse momento. Além das medidas trazidas acima como exemplo pelos gestores, penso que é o momento de planejar e colocar em dia algumas atividades que nunca encontramos tempo em condições normais de trabalho.

Afinal de contas, efeitos à economia e aos (nossos) negócios serão inevitáveis. Se sairmos desse período de alguma forma com mais planejamento, mais organizados e alinhados, nossa recuperação poderá ser mais rápida.

Outro ensinamento que nos traz Dale Carnegie é o que ele chama de stop-loss. Significa que a partir de uma situação danosa, pode-se determinar que as perdas não sejam ainda maiores. Assim, já que os problemas advindos do momento devem ocorrer de forma inevitável, "restringir" os prejuízos às finanças e às atividades, não permitindo que isso se estenda à nossa capacidade de trabalho é aplicar o stop-loss. Não aplicar esse limitador à situação pode fazer com que os problemas não fiquem adstritos ao ambiente, podem ser incorporados em forma de quaisquer efeitos danosos à saúde física e/ou mental, o que atrapalhará ainda mais nossa recuperação.

Agora para aspectos mais técnicos da minha contribuição pessoal. O Governo Federal, através da Caixa Econômica Federal, vem criando mecanismo de auxílio às empresas, como diminuição de taxa de juros e criação de pausas de pagamento. Caso o período de paralisação de alongue, novas medidas devem ser tomadas pelos governos à medida que a arrecadação diminua pela inadimplência dos tributos e pela queda generalizada no faturamento/arrecadação. Assim, procurar (através dos canais disponíveis) o sistema bancário pode ser uma alternativa para superar o momento.

Em segundo, a eliminação de custos é uma busca permanente e atemporal. Para o presente momento fazer isso é essencial. Realizar cancelamentos ou suspensão, negociando com credores o espaçamento de débitos, pode auxiliar.    

 O terceiro ponto do aspecto técnico é a respeito da criatividade e inovação. Temos visto negócios que estão atuando de forma diferente para suportar a paralisação, utilizando mecanismos alternativos para funcionar baseando o funcionamento em entregas, atendimento online, teletrabalho. É certo que nem todas as atividades suportam o modelo de funcionamento por esses canais, mas a pergunta deve sempre ser feita: há alguma forma de atuação possível durante esse período?  

Por derradeiro, esse momento nos traz à luz a ideia que podemos utilizar de forma eficaz outros meios de comunicação, o que nos mostra que muitas reuniões presenciais, por exemplo, são desnecessárias, que poderiam dispensar deslocamento, gasto, perda de tempo, exposição à violência etc. Não perder de foco que há aprendizado à nossa disposição é importante.                    

Deixo a reflexão de tentar fazer desse momento mais produtivo e relevante, com menos perdas e, se possível, com algum ganho para o futuro.


Leonardo Bocchese – Executivo, advogado e educador corporativo
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