Olhar Direto

Sábado, 04 de maio de 2024

Opinião

Jair Bolsonaro lidera uma revolução conservadora no Brasil?

Como estabelecer um diálogo ou proceder a uma análise conjuntural quando não se tem o mínimo de entendimento de conceitos políticos básicos? Expressões como “revolução conservadora”, “neoliberalismo”, “comunismo é de extrema-esquerda” e o “fascismo é de extrema-direita”, fulano é “ultraconservador” ou “reacionário” etc, abundam em artigos, conversas de analistas e palpiteiros de plantão. Com exceção dos iniciados em ciência política ou filosofia política (ainda assim haverão correntes divergentes) a grande maioria que utiliza estas ou outras expressões das “coisas” políticas, desconhece sua significância ou o contexto histórico em que foram produzidas.

Dentre as mais absurdas, encontra-se a expressão em epígrafe, “revolução conservadora”, às vezes também vem como “onda conservadora”. Ora, para início de conversa, “revolução conservadora” é um oximoro, ou seja, uma frase destituída de sentido, aparentemente absurda, já que resulta da reunião de ideias contrárias num só pensamento. Se há uma coisa que o conservadorismo, como posição política não é, trata-se justamente de revolucionário. Uma simples leitura sobre o tema, desde que seja obra de autores honestos intelectuais e teóricos do conservadorismo (v.g. Edmund Burke, Roger Scruton, João Pereira Coutinho, Eric Voegelin, Russell Kirk, Michael Oakesshot, Allan Bloom, para ficar somente com alguns nomes) deixará evidente a total discrepância da expressão. O conservadorismo político, como esclarece João Pereira Coutinho, recusa os apelos do pensamento utópico, venham eles de revolucionários ou reacionários.

A principal obra de Edmund Burke, considerado o pai do conservadorismo moderno, “Reflexões sobre a Revolução na França”, escrita em 1790, portanto um ano após os eventos da revolução francesa, é um tratado anti-revolucionário por excelência. Burke foi profético e previu a catástrofe que se transformaria a França nas mãos de revolucionários sedentes de sangue e ódio. Menos de dez anos depois a França já estaria às voltas com uma nova monarquia, agora sob os auspícios de Napoleão Bonaparte. Dizia Burke, em uma primorosa passagem de sua obra, ao discorrer sobre a natureza contratual da sociedade, ser este um contrato que estabelece uma parceria entre sociedade e Estado cuja essência é de uma reverência que não se quebra devido a interesses mesquinhos, temporários ou vontade das partes. Assim sendo, é uma parceria de todas as ciências, artes, virtudes e perfeições. Como “as finalidades de tal parceria não podem ser obtidas em muitas gerações, torna-se uma parceria não só entre aqueles que estão vivos, mas entre aqueles que estão vivos, aqueles que estão mortos, e aqueles que estão por nascer”. Nada menos revolucionário do que isto.

O conservadorismo não é reacionário porque não defende a volta a um passado idealizado. Não é progressista porque, igualmente, desacredita na implantação no presente, da utopia futurista. Finalmente, não é imobilista, uma vez que defende a necessidade de mudanças graduais, contudo, preservando-se as coisas admiráveis que herdamos de nossos antepassados e que passaram pelo teste do tempo. O conservadorismo sabe que a natureza humana é imperfeita e que, portanto, nenhum paraíso terrestre aqui será possível. Nesse sentido, o conservador é cético na capacidade da razão humana construir ou reconstruir radicalmente, pelo trabalho dos engenheiros sociais, modelos de sociedades perfeitas e ideais. Aqui residia, preleciona Coutinho, o problema fundacional da Revolução Francesa: “confundir a política com um cálculo matemático e os seres humanos de uma comunidade real com enunciados de uma mera equação”. Tudo em nome de utopias existentes apenas na cabeça dos “iluminados”.

Opositores ao governo Bolsonaro ainda fazem uso dos métodos de agitação e propaganda gestados no regime comunista da URSS. O Presidente da República já foi vítima de um dicionário ideológico completo. Fascista, nazista, xenófobo, misógino, racista, ultraconservador, ultradireitista e, atualmente, por conta da pandemia, genocida e assassino. Acuse-os daquilo que você é, já dizia o velho revolucionário bolchevique Lênin. Os atos oficiais praticados pelo Governo estão muito longe de todas as alcunhas preconceituosas manejadas pelos que anseiam pela volta da velha politicagem. Não tenho procuração para defender o PR. Discordo na forma como se dá a inter-relação entre o Palácio do Planalto e a imprensa. Vejo um presidente estressado, muito talvez porque desconhecemos um Chefe do Executivo Federal ser alvo de tantos ataques incessantes. Na verdade, há uma esquerda que “saliva” por um escândalo de corrupção por parte do Governo Federal. Basta lembrar que, com esse exato tempo no cargo, o ex-presidente criminoso Lula, em seu primeiro mandato, já tinha articulado toda a engenharia do mensalão, onde comprou o apoio dos parlamentares para obter governabilidade. Por absoluta incompetência do PSDB (a direita da nossa esquerda) não conseguiram levar o corrupto e lavador de dinheiro ao processo de impedimento, seguindo a estratégia de FHC (parceiro de Lula no Pacto de Princeton de 1993) de “deixa-lo sangrar” até o próximo pleito.

É fácil acusar um Chefe do Executivo de arbitrariedade e autoritarismo. É da natureza do poder executivo, estar as decisões a cargo e sob a responsabilidade de um homem só. Perceba que o legislativo e o judiciário são órgãos colegiados. Quanto o sistema de freios e contrapesos (check and balances) ou repartição de poderes é afetado por atos destes, sua detecção é mais sutil e objeto de inúmeras considerações. Veja que a decisão sem fundamento nos fatos do Ministro Alexandre de Morais, impedindo o exercício legal do PR em nomear o Diretor-Geral da Polícia Federal, constituiu-se de clara invasão de competência do Executivo (juristas como Ives Gandra Martins assim se posicionaram), contudo, o Ministro estará sempre protegido pelo seu “direito” de prolatar decisões escoradas no seu livre convencimento. O mesmo acontece quando o Presidente da Câmara dos Deputados, estranhamente barra projetos vindos do Executivo, praticando o chamado “parlamentarismo branco”, igualmente acobertado pelo Regimento Interno. Contrário senso, basta o presidente declarar no calor de uma manifestação que “cumprirá a constituição a qualquer preço” que, pronto, o mundo caiu, Bolsonaro fascista quer promover um golpe e implantar a ditadura etc.

O conservadorismo não é aquilo que a esquerda diz que é. A esquerda tem que aprender a lidar com seus fantasmas insepultos (e não são poucos) e começar a revisar seus valores. Também cresce no país grupos autodenominando-se como “de direita” quando de fato não passam de oportunistas e desonestos intelectuais. Muitos deles elejaram-se na plataforma bolsonarista, dizendo-se conservadores ou à direita do espectro, contudo, afastaram-se do Governo e filiaram-se a partidos de esquerda ou centro-esquerda. As demais figuras do mundo político habitual, conhecemos a todos. Não são capazes de fazer uma oposição digna. Movem-se apenas pelo ódio à figura do presidente, que não rendeu-se à “praga” do politicamente correto, esta patrulha ideológica criada pela hegemonia progressista no mundo para pautar e censurar o discurso político. A verdade é que ser conservador no mundo saturado pela psicopatia esquerdista é mais que um desafio, é um verdadeiro sacerdócio.





Julio Cezar Rodrigues é economista e advogado (rodriguesadv193@gmail.com)


 
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