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Terça-feira, 07 de maio de 2024

Opinião

Guillotin: o defensor da vacinação em massa

Joseph-Ignace Guillotin -1738-1814 - entrou para a história como o médico francês que no ano da Revolução Francesa (1789), propôs um mecanismo que tornasse a morte dos condenados mais rápida e precisa. Em seu discurso proferido na Assembleia ele afirmou que, "Agora, com minha máquina, eu cortarei a sua cabeça em um piscar de olhos, e você nunca sentirá isso." Sua fala virou piada por séculos ao associaram rapidamente a criação do aparelho a seu nome – guilhotina. E por polarizar que o feitiço recaíra sobre o feiticeiro, uma vez que, acreditaram que ele fora guilhotinado.Porém, não é dele a invenção desta ferramenta que já havia sido usada muitos séculos antes, Tito Mânlio, que governou o Império Romano de forma ditatorial, utilizou um aparelho parecido para matar seu próprio filho. Na Alemanha medieval, ferramentas de cortar as cabeças de acusados de heresia, aparecem em documentação, vestígios históricos desta peça foram registrados na Escócia e na Inglaterra do século XVI.

A guilhotina fora aperfeiçoada e utilizada na França, para decapitar os inimigos e/ou amigos (dependendo do período) da Revolução, quase 3 mil pessoas morreram desta forma. O uso da guilhotina na França entrou no século XX, e em 1977 foi a última vez que ela foi usada para executar um imigrante tunisiano - Hamida Djandoubi - condenado por assassinato. Em 1981, a pena de morte foi extinta na França e consecutivamente o uso da guilhotina. Sobre Guillotin ter sido vítima de sua suposta criação, é sem dúvida uma mentira histórica, pois ele não morrera guilhotinado, o médico faleceu de causas naturais no ano de 1814. O que aconteceu foi a morte de alguém com o mesmo sobrenome daí a confusão. Mas, a associação deste instrumento de morte ao sobrenome Guillotin causou vergonha em seus descendentes que pediriam ao governo francês que renomeasse o instrumento, com a negativa, mudaram o sobrenome da própria família.

Infelizmente o nome de Joseph-Ignace Guillotin, está associado a uma máquina de matar, sendo esquecido por sua dedicação no movimento de vacinação da população francesa a partir de 1800. Movimento este que fez com que Napoleão Bonaparte criasse a Sociedade para Extinção da Varíola, em 1804. Os parcos recursos destinados a este órgão e a recusa da população em aderir a vacinação levou esta movimentação ao fracasso. No ano seguinte, Guillotin, foi eleito Presidente do Comitê de Vacinação, ele também foi um dos fundadores da Académie Nationale de Médecine de Paris.

O projeto de vacinação de Guillotin apoiado por Napoleão Bonaparte, se tivesse vingado na França dos primeiros anos do século XIX, teria salvo milhares de vidas e avançado com a ciência médica e sanitária em anos luz. Porém, tanto naquele período como nos dias atuais, a marcha de inimigos pró-saúde aumenta o coro para que descrentes deixem de se proteger contra doenças daquela e desta época, como a varíola. Somando-se aos descrentes as políticas de investimentos às pesquisas que são parcas e irregulares, contribuindo para o sucateamento das instituições que produzem ciência no Brasil.

Buscar na historiografia os impasses como o ato de vacinação da população é primordial para entendermos como se ocorre a desinformação das massas e a desconfiança que reina em acreditar nos avanços da medicina. Vale ressaltar que as inverdades históricas são perpetuadas como fontes oficiais, o que devemos salvaguardar é a desmistificação que são atribuídas a este ou aquele como verdades perpétuas.


Lidiane Álvares Mendes é mestra em História/UFAM e doutoranda em Estudos de Cultura Contemporânea/ UFMT. Bolsista CAPES.
Autora do livro: Na esteira da loucura: Colônia de Alienados Eduardo Ribeiro – Manaus/AM – 1894-1930. Acesso em: https://www.pimentacultural.com/_files/ugd/18b7cd_923a6555af464622b7d23a104d19d3a1.pdf
Contato por e-mail: lidianemendes2@hotmail.com -Instagram: @lidihistoria
 
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