Opinião
Barão de Melgaço e a lei do transporte zero
Autor: Rubem Mauro Palma de Moura
03 Jul 2023 - 08:00
Quando ainda guri, jogávamos futebol em um campinho improvisado, no quintal do Sr. Júlio Muller. Nessa época ele tinha um frigorífico que trazia peixes de couro, (Cachara, Pintado e Jau) de Barão de Melgaço, congelava e ele era distribuído para podo o país. A concorrência aumentou tanto e já com idade avançada ele acabou saindo do ramo. Em qualquer restaurante no país em que se pedia peixe de Rio e indagado de onde vinham, logo informavam; Mato Grosso.
Barão vivia o auge do seu progresso; agências bancárias, diversos frigoríficos, pousadas, restaurantes e acampamentos de pescadores de todo o país, atraídos pela fartura dos peixes. O dinheiro corria solto na Cidade.
Passei a frequentar a região a partir de 1977 e a pesca era sempre proveitosa, com poucas horas, estávamos de volta a nossa propriedade na Baia de Chacororé, com peixe para o almoço e jantar. Nunca transportei um exemplar sequer.
Com o passar dos anos essa fartura se transformou em miséria, refletindo em sua população, que basicamente passou a viver de benesses dos Governos. Bolça Família e outras esmolas. O salário concedido durante o período de defeso, aos pescadores profissionais, foi mais uma dessas esmolas mal administradas. O pior de tudo é que continuaram pescando e fazendo uso de instrumentos predatórios durante esse período, apesar de receberem um salário mínimo para que parassem a atividade e a natureza cuidasse de repovoar o Rio. Na Baia de Chacororé, redes de mais de 1500m são usados e para que esse feito seja mais proveitoso, destroem a barragem que mantem minimamente o seu níveo. Dessa maneira, concentrando os peixes na pequena porção de água, que já foi no período de seca de 10.000ha e hoje, pelo menos 50% do que já foi água, é ocupado por pastagem e gado. O pior de tudo, é que esse peixe não dava entrada nos restaurantes locais, que por diversas vezes, teve de oferecer galinha com arroz aos turistas, pois os predadores eram obrigados a enviar o peixe pego de maneira proibida, para Cuiabá, “são os atravessadores”.
A pá de cal nessa fartura que era essa região, se deteriorou ainda mais, com o fechamento dos corixos, construção de diques marginais artificiais e estradas diques. A implantação de tablados e sevas, foi a gota d’água para matar de vez a piscosidade do Rio Cuiabá, uma vez que da cidade de Santo Antônio até Barão de Melgaço, 1500 equipamentos desses, estão operando, jogando no Rio toneladas de milho e soja podres e fazendo do peixe preza fácil, além de serem exemplares abaixo da medida estabelecida. Essa prática, impediu o ciclo natural que é o peixe, sair gordo do Pantanal na vazante e subi-lo, queimando gordura e desenvolvendo o aparelho reprodutivo, “produzindo ovas” que nas primeiras chuvas dessem o Rio; as fêmeas lançando as ovas e os machos o esperma, perpetuando e transformando o Rio Cuiabá, naquele que já foi o mais piscoso, apesar de estar em uma área muito populosa.
O Pantanal é pródigo para a reprodução dos peixes, no entanto apesar dessa sua natureza, estamos retirando do Rio, mais do que ela é capaz de repor, portanto essa pausa é importante para a sua recomposição, desde que as obras criminosas realizadas, fechamento de corixos, tablados e sevas, etc.........,sejam banidas.
O resultado desse descaso com as questões ambientais, e a procura por um meio de vida mais digna, fez sua população em 12 anos, decrescer em 8,89%. O mais sério ainda, é que entre os 141 Municípios, cuja população no total cresceu mais de 20% e com ela a riqueza, a renda per capta de município de Barão de Melgaço, é a mais baixa do Estado, R$201,00.
Triste fim para um Município agraciado pela natureza pelo Rio Cuiabá e Baias entre tantas; Recreio, Buritizal, Chacororé, Sai Mariana, etc......
Tenho certeza que os arautos do conhecimento pessimista e falsos defensores ambientais, me contestarão; e os esgotos? e o lixo? e eu esclareço desde já. Análises feitas no Rio Cuiabá na ponte JK, mostra que o oxigênio dissolvido, está na faixa de 6mg/l, muito maior que em diversos pontos no Pantanal por causas naturais. O Lixo, esse sim nos preocupa, pois agride a beleza cênica dessa bela e inigualável região, porem sem interferir na renovação e manutenção dos cardumes.
Meus parabéns ao Governo e Deputados que aprovaram essa Lei e meu desprezo à aqueles que a rejeitaram.
O tempo de cinco anos, podendo pescar, apenas não podendo transportar, dará vida nova ao Rio e emprego e renda a essa população escravizada de Barão de Melgaço.
Rubem Mauro Palma de Moura