Olhar Direto

Sexta-feira, 03 de maio de 2024

Opinião

​Aprendendo sobre nós, a Rainha do Quariterê

Esse lugar de fala é das mulheres negras que pulsam, lutam, combatem cotidianamente as adversidades. Sou filho de uma mulher negra, jovem negro e religioso de matriz africana. È julho, e é também o mês conhecido como “ Julho das Pretas”, mas as mulheres negras são protagonistas todos os dias. Não param nunca, porque mesmo quando todo mundo esteve parado em isolamento, Tínhamos mulheres negras fazendo movimento, combatendo, cuidando das casas alheias e muitas vezes sem ter tempo de cuidar da sua para dar o sustento.

Mas temos muitas histórias que são invisibilizadas pela historiografia, ou pela chamada história oficial. É o Caso da Rainha Tereza de Benguela que viveu e lutou contra o sistema opressor na fronteira oeste mato grossense, região de Vila Bela da Santíssima Trindade. Comunidade que até os dias atuais exala cores, Alegria, mas muita luta.

Os livros sempre trazem Tereza como a escrava que virou rainha, mas sabemos que ela de fato já era rainha, de dinastia africana, conforme estudiosos da temática debruçam em documentos, evidências e memória da comunidade. Tereza de Beguela, era companheira de José Piolho, seu companheiro fundou o chamado “ Quilombo Grande ou Quilombo do Piolho” que mais tarde seria renomeado de Quariterê. A líder, Rainha Tereza, agregava muitas pessoas no quilombo. Tinham muitos negros, mas também muita população nativa e brancos que cometeram crime de lesa Coroa.

Eu poderia citar inúmeros pesquisadores, mas vou valorizar aqui o trabalho de uma pesquisadora negra e de um pesquisador negro, ambos filhos de Vila Bela da Santíssima Trindade, Professora Pesquisadora Doutoranda Silviane Ramos Lopes da Silva( SEDUC/MT) e Professor Pesquisador Dr. Acildo Leite da Silva ( UFMA)  (filhos dessa querida comunidade quilombola), respectivamente. Os estudos desses pesquisadores nos fazem refletir o quanto é importante aprendermos sobre nós, sobre a história invisibilizada, sobre o silenciamento das vozes, e sobre o discurso racista em torno das mulheres negras.

E aqui trago aquelas mulheres negras que com intensidade deixaram um legado para nossa história:  Dandara, Luisa Mahin, Carolina Maria de Jesus, Lelia Gonzales, Chica Xavier, Mariele Franco, Ruth de Souza, Antonieta Barros, Maria Firmina Reis, Aqualtune e tantas outras mulheres grandiosas!

E trago também as muitas mulheres pretas que talvez nem saibam da existência do Julho das Pretas e do 25 de julho.

Como admirador da comunidade de Vila Bela e da garra pulsante de suas mulheres, saliento que é importante buscarmos nossos tesouros, sejam pesquisadores da terra, sejam as histórias silenciadas… precisamos saber sobre nós! Mais que ser rainha, eu atrevidamente destaco que tereza deixou o legado de enfrentar, batalhar e agregar. Isso é muito presente e latente nas mulheres da comunidade vilabelense.

Mas que reproduzir, que o quilombo foi destituído por brancos e bandeirantes que queriam destronar a rainha, devemos fazer o exercício de vislumbrar por quanto tempo essa rainha enfrentou e manteve resguardado seu povo negro. Além do excedendente de produção existente no quilombo. Reler a história pelas lentes de quem a ressignifica com a propriedade da vivência, o exercício da pesquisa, e com o axé peculiar das mulheres negras.
A força ancestral de Tereza de Benguela, está presente em cada mulher mato grossense, que descortina as histórias silenciadas e segue de punho cerrado combatendo o bom combate.


Manoel Silva é jornalista quilombola , regido pelas bençãos de Tereza de Benguela a sempre Rainha do Quariterê
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