Olhar Direto

Sábado, 27 de abril de 2024

Opinião

​(Com)Viver em áreas públicas

Cuiabá! Cidade quente! Cidade verde!  

Que maravilha é poder passear livremente pelas áreas de lazer da cidade! Até mesmo compartilhar um piquenique com familiares e amigos, em especial com as crianças. Afinal, precisamos ensiná-los a conviver com a natureza, pois só cuidamos e respeitamos aquilo que conhecemos e amamos.

Feliz da vida, em uma tarde quente, resolvi levar meus netos para passear no “Parque da Cidade”, (como chamava Dante de Oliveira), o atualmente nominado Parque Mãe Bonifácia. Por questão de saúde, crianças e idosos têm o hábito de fazer um lanchinho no meio das principais refeições. Então, em uma pequena bolsa coloquei água, copo, abacaxi e um bolo, tudo já cortadinho e acondicionados em potes. De materiais descartáveis, apenas três palitos de dente para o abacaxi e três guardanapos de papel. Tenho por hábito evitar os descartáveis. E, “Bora criançada fazer piquenique no Parque!”

Tenho observado com simpatia, pessoalmente e em filmes, essa prática salutar em diversos locais do país e mesmo fora: a ocupação dos espaços públicos.

Ao chegar no Parque, qual nossa surpresa!

É proibido entrar com alimentos. Havia placas indicativas e também um funcionário da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) para me alertar. Só poderíamos consumir água e sucos, nem frutas era permitido. 
Lembrei-me do fechamento do parque devido à morte de saguis, que contraíram “herpes simplex”. Conforme matéria publicada do G1 – Mato Grosso, de 26 nov. 2020, o vírus passa do homem para o macaco por meio de alimentos contaminados ou pelo contato direto, e tal infecção é fatal em macacos.

Entendo plenamente a proibição de andar pelas trilhas com alimentos, pois evita que pessoas não cientes dos riscos alimentem os animais. Porém, não vejo a lógica em proibir a realização de piqueniques sob as árvores, em uma área já cercada, totalmente antropizada e projetada para o lazer de uso público. Bastaria maior controle no uso daquele espaço.

Considerando a localização privilegiada da cidade de Cuiabá, entre o Parque Nacional de Chapada dos Guimarães e o Pantanal Mato-grossense, entendo o Parque Mãe Bonifácia como excelente local e ótima oportunidade para educadores ambientais da Sema praticar seus conhecimentos. Ensinar adultos e crianças a evitar ao máximo os descartáveis e principalmente não deixar resíduos, inclusive de alimentos. Ensinar como devem se portar em áreas com essas características para minimizar as pegadas ambientais em quaisquer locais que frequentem.

Os procedimentos a serem realizados para a colocação da atividade em prática, sem expor a fauna a riscos, são simples: primeiro define-se a área onde podem ser realizados os piqueniques; segundo, disponibilizam-se educadores ambientais para atuar junto à população frequentadora; a seguir, contratam-se fiscais para verificar se os frequentadores estão praticando os ensinamentos; e, por fim, após a saída dos frequentadores, realização de vistoria por servidores para a remoção de algum alimento que tenha restado no local.

É necessário reverter essa situação, percebe-se a facilidade para aplicar a repressão ambiental, ao invés da educação ambiental. Prima-se por educação pelo medo e não por educação pelos valores e consciência ambiental.
 

Jandira Maria Pedrollo, arquiteta e urbanista, foi Diretora de Pesquisa e Informação do Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento Urbano de Cuiabá, Assessora técnica do CAU/MT e Diretora de Planejamento da Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá.  jandirarq@gmail.com.
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