Olhar Direto

Quinta-feira, 02 de maio de 2024

Opinião

Presépio no shopping

A partir dessa semana, já podemos contemplar presépios em milhares de shoppings, supermercados e outros estabelecimentos comerciais Brasil afora, sem contar, naturalmente, os instalados em igrejas e templos cristãos. Uns mais simples, outros mais luxuosos e tecnologicamente sofisticados, todos pretendem transmitir a mensagem simbólica do Natal.
 
O nascimento de uma criança pobre, de pais migrantes, cujo berço improvisado é a palha de uma manjedoura. Mesmo com toda a extrema humildade na origem, essa criança estava destinada a mudar profundamente o mundo e o fez, com o seu exemplo e ensinamentos de amor ao próximo.
 
Quando era criança, numa pequenina cidade do oeste catarinense onde o asfalto e a televisão ainda não tinham chegado, meus avós me levavam para contemplar o presépio montado no coreto da praça principal e me contavam a história daquele menino chamado Jesus, que sempre caminhou ao lado dos humildes, dos doentes, dos injustiçados e humilhados de toda espécie e lhes anunciou que eram eles os bem-aventurados.
 
Hoje, olho para o boneco que representa a criança no presépio e percebo que, com toda a simplicidade do cenário, Jesus nasceu cercado de amor. Com ele estavam os seus pais, Maria e José, estavam pastores e até os animais da manjedoura, todos lhe recebendo com amor.
 
Penso que nesse momento em nosso Brasil, além dos presépios de plástico que serão desmontados em janeiro, há algumas milhares de crianças de carne e osso nascidas em manjedouras. Ao contrário de Jesus, raramente têm pai, mãe ou familiar. Muitas são abandonadas nas ruas, ainda bebês, sem ninguém que delas cuide. Quase todas elas têm um superpoder: são praticamente invisíveis aos olhos dos cristãos de shopping, que quando as enxergam desviam o olhar.
 
Algumas conseguem ser acolhidas pelo Estado e tornam-se legalmente disponíveis para adoção. De acordo com o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento, na data de ontem, eram 4.527 brasileirinhos nascidos numa manjedoura ainda mais pobre que aquela de Belém. Prontas para receber uma família que nunca tiveram ou que a violência lhes subtraiu. Menos de uma criança para cada um dos 5.568 municípios de nosso país.
 
Será que todas as boas energias e sentimentos que o Natal desperta e todos os recursos que o evento movimenta não seriam suficientes para presentear essas crianças com um lar, mesmo que simples, mas com amor?
 
A cada Natal que uma dessas crianças passa sem uma família, diminui drasticamente a chance de conseguir encontrar alguma para o Natal vindouro.
 
O melhor presente e homenagem ao aniversariante Jesus seria se, em vez de nos comovermos com a sua imagem nos presépios de shopping e seguirmos para as compras, pudéssemos estender as mãos e acolher cada uma dessas 4.527 crianças das manjedouras.
 
Luiz Henrique Lima é Conselheiro certificado CCA e professor.
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