Olhar Direto

Sábado, 06 de abril de 2024

Opinião

Eleições na Rússia, democracia envenenada

A Rússia realiza hoje (15/03) a domingo (17/03) eleições presidenciais. Concorrem ao cargo 04 candidatos (um liberal, um comunista e um nacionalista, além de Putin). Nenhum dos mencionados são candidatos antiguerra, fato curioso. Pela primeira vez na história o pleito será realizado em três dias, contando com votos eletrônicos em algumas regiões e a participação de territórios ucranianos anexados pela Rússia. Tudo isso em meio a um cenário de guerra e as crescentes críticas internacionais feitas ao atual mandatário.
 
Importante registrar que a existência de partidos políticos e de “eleições periódicas” por si só não são os únicos requisitos a garantirem a democratização da Rússia, que possui previsão constitucional desde 1993. O grande desafio de Putin é demonstrar um comparecimento robusto, isto é, mostrar efetivamente eleitores nas cabines de votação, um meio de provar ao mundo o apoio do povo russo ao seu governante, mesmo com a economia russa fraquejando e sob o peso das sanções e dos elevados gastos com a defesa (cerca de 7% do PIB russo). As eleições em regimes autoritários são frequentemente utilizadas como uma representação simbólica do mandato do líder para governar, o que não garante a lisura do pleito.
 
Desde 1999 ocupando o mesmo cargo, ficando apenas atrás de Josef Stalin no que diz respeito ao tempo de governo, a característica que me chama atenção é que diferente de lideres de outras épocas, Putin utiliza como ideologia a existência de inimigos externos (ocidente) e internos, divergindo ideologicamente do comunismo dos soviéticos e não utiliza o poder inspirado em Deus como faziam os Czares, para tanto, Putin dá uma certa aparência de legalidade para seus atos, nem que para isso ele tenha que alterar a lei, claramente uma legalidade moldada aos interesses do poder, o que foi feito para que o mesmo mantenha-se no poder até 2036.
 
Não é surpresa para ninguém que não existem opositores ao ditador russo, tendo em vista que eles morrem, são presos ou exilados, o que aconteceu com dezenas de pessoas durante esses 23 anos. Alexei Navalny, que era conhecido como o principal opositor ao regime de Putin, estava preso desde 2021, morreu misteriosamente no mês passado após não se sentir bem. O mesmo já havia sido envenenado em 2020 e sobreviveu. São inúmeros exemplos Boris Berezovsky, Boris Nemtsov, Pavel Antov, Alexander Litvinenko, entre outros. A morte do líder do grupo mercenário Wagner, Yevgney Prigozhin, em uma queda de avião também repleta de mistérios, mostra bem o modus operandi de Putin.
 
A eleição pode ser vista como uma espécie de referendo sobre a gestão do atual governo, o processo eleitoral tem a função de atribuir a aparência de uma legitimidade burocrática ao regime de Putin. Vale lembrar que há um conjunto de fatores, além dos já mencionados, que inferem nas eleições, o controle midiático é muito forte na Rússia, todos os grandes canais pertencem ao Estado, vinculando posicionamentos políticos favoráveis a V. Putin e com uma influência muito marcante na população russa.
Fato é que, Putin será “reeleito” com bons números, vindo a assumir o seu 5º mandato como presidente da Rússia, de acordo com a atual constituição, alterada por um plebiscito em 2020. Putin que se manteve no poder de forma tranquila nas últimas décadas não terá dificuldade em atingir pelo menos os 76% dos votos conquistados na última eleição de 2018. Assim como a morte de inúmeros os opositores do Kremlin, a democracia russa foi envenenada e a geopolítica global deve sofrer pelos próximos 12 anos as atrocidades cometidas por este governo.
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