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Quarta-feira, 26 de junho de 2024

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Pulsando em choro e samba, Nilze Carvalho celebra centenário do estilo em reduto cuiabano

Foto: Rogério Florentino Pereira/Olhar Direto

Pulsando em choro e samba, Nilze Carvalho celebra centenário do estilo em reduto cuiabano
Quando, há 100 anos, “Pelo Telefone” era registrado como o primeiro samba gravado no país, os precursores do movimento talvez não imaginassem a dimensão que seus batuques alcançariam. A herança de 1916, eternizada por ritmos e vozes entremeados a história, chegou à Praça da Mandioca materializada no canto de Nilze Carvalho. Ali, no mais tradicional dos redutos cuiabanos, despiu-se de grandes produções para honrar o legado de Donga. Compartilhou com o público uma existência que pulsa em cadência de choro, celebrando junto ao povo o Centenário do Samba.


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Em azul celeste, sorriso e tranças a cavaquinista brincou com os tons, brindando com o instrumento a noite fresca sob a qual encantou a Rua do Meio, molhada pela chuva que anunciou sua chegada na segunda-feira (3). Da supremacia masculina com o cavaquinho fez piada, dominando palco, público e cordas com a naturalidade de quem é samba.



Difícil que seu caminho fosse outro. Com a trajetória marcada pela aquisição de um cavaquinho pelo pai, que almejava tocar em um grupo, Nilze foi flagrada aos cinco anos de idade tirando notas do instrumento. “Quando eu tinha cinco anos meu pai levou um cavaquinho pra casa, porque ele ia começar a aprender pra tocar em um grupo de samba e acabou que eu peguei como se fosse um brinquedo. Enquanto ele estava trabalhando, eu estava em casa tocando.”

A partir daí, não parou mais e lançou aos 11 anos seu primeiro LP, o Choro de Menina. “Gravei meu primeiro LP de choro e outros quatro na sequencia. Aos 15 anos fui pra Europa e nesse espetáculo comecei a cantar e desenvolvi o vocal, aí que efetivamente comecei a trabalhar o samba.” Desde então desbrava o mundo com a valentia que só tal expressão poderia comportar, levando a lugares diferentes a marca mais bela da essência nacional.

Para as terras de Bom Jesus do Cuiabá, aceitou o convite de pronto, assim que soube do que se tratava a proposta. “Pra mim o papel do artista é ir onde as pessoas querem ouvir, então quando recebemos a proposta e vimos o que era, tivemos que vir. Quando recebo convites para ir a lugares que estão fora desse eixo Rio-São Paulo, onde o samba mais forte, eu vou super feliz porque sempre encontro as pessoas que ouvem de verdade, independente de estar nos locais onde esta seja a expressão principal.”


A distância entre as cidades foi esquecida já na abertura do show, com o quinteto O Samba A Bossa e as Novas, que aguçou o molejo dos presentes para a chegada de Nilze. Já no Palco, ela misturou faixas de seu novo CD, Verde Amarelo Nego Anil, a clássicos populares. “Você viu o que ela fez aqui!?”, dizia incrédula uma das espectadoras após o solo de Brasileirinho.

Ela não era a única a se mostrar assim. Do lado, a idosa juntou forças para mostrar aos mais jovens que samba no pé não tem idade. A seu exemplo, os mais tímidos soltavam os ombros, se perdiam no compasso e sem mais relutar, entregavam-se a qualidade do som.  Na data, não houve esforço que cessasse o deleite dos apaixonados pela música, emoldurada pelo mais propício dos cenários. 

No meio da rua, cercados de história e ao som de Nilze Carvalho, filhos distantres beberam, cantaram e dançaram ao mais ilustre dos homenageados. 

Ocupação da Praça

Os donos dos bares da região, ao contrário do último evento, que trouxe a cantora Martinália, abriram mão da venda casada de mesas e deixaram a rua livre. Assoberbados, corriam pelo espaço para conseguir atender a nova e volumosa clientela, já alvo de críticas contrastantes. Por parte dos comerciantes, a mistura de faixas etárias e estilos se mostra como positiva. “É ótimo porque traz movimento pra casa, mistura as culturas e promove a ocupação desse espaço”, explica Nicolas Fonseca, do bar Canto Cuiabano.


Há dois anos ali, ele avalia que essas transformações, iniciadas em maio deste ano, simbolizam o ressurgimento da Praça além da promoção cultural. “Aqui estamos em quatro bares alternativos que existem para a promoção da cultura e do lazer, da troca de experiências entre os mais novos e mais velho, da arte. A questão aqui não é só ganhar dinheiro. Porque essas coisas aqui em Cuiabá são muito restritas. Graças a isso, até estão abrindo outros bares aqui no entorno.”

Sobre as críticas a miscigenação no reduto, a gestora hospitalar Marcelle Lara acredita não haver fundamento. Para ela, a movimentação na Praça e na Rua do Meio trazem vida a um canto antes esquecido, freqüentado até então por poucos amantes do samba e usuários de drogas. “Na verdade as reclamações é que acabam sendo separatistas, porque o lugar é muito eclético e abriga todas as tribos. As pessoas mais velhas e com mais conhecimento que vinham aqui, estão achando ótimo. Os mais novos é que são preconceituosos.”

 

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