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Quarta-feira, 26 de junho de 2024

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Após biografias, grupo de Caetano e Gil luta por renda 'justa' no streaming

Após biografias, grupo de Caetano e Gil luta por renda 'justa' no streaming
A Associação Procure Saber ficou conhecida pelas discussões sobre a autorização prévia para biografias. O tema já saiu da pauta do grupo - e depois da mídia, após a decisão do STF que beneficia biógrafos. Agora, o Procure Saber quer saber mesmo é do streaming. A entidade que reúne Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan, Chico Buarque, Erasmo Carlos, Milton Nascimento e outros está engajada na luta por pagamentos mais justos e transparentes aos artistas no novo mercado de música online.


Basta ver os perfis do Procure Saber nas redes sociais. O grupo está conectado nas brigas de Taylor Swift com a Apple, na empreitada de Jay-Z com o Tidal e outros assuntos que vêm guiando o futuro do mercado musical. O G1 conversou com a empresária Paula Lavigne, presidente da associação, sobre streaming

G1 - Quase todos os últimos posts do Procure Saber nas redes sociais são sobre streaming. Por que tanto interesse pelo tema?
Paula Lavigne - Porque é um debate mundial, e o mercado da música está migrando para esse formato, neste momento. É importante ressaltar que é um formato que ainda não tem modelos de negócios totalmente definidos. A distribuição e o pagamento de royalties são feitos por critérios imprecisos, como “market share”, e nós acreditamos que deveria haver uma distribuição direta: tocou uma vez, pagou uma vez. É mais justo.

G1 – O Carlos Taran, que fez um artigo sobre streaming que teve muita repercussão, nos disse que o Procure Saber o chamou para conversar sobre o tema. Por que chamaram? Têm feito muitas reuniões sobre isso?
Paula Lavigne - Sim, nos últimos dois meses nos reunimos com diversas organizações, associações, sociedades e empresas como Google/YouTube (tanto em Nova York, onde estive na sede da empresa, como no Brasil, quando a Diretoria da Associação Procure Saber se encontrou com representantes daqui).
Estivemos com a UBEM, ABPD, ABRAMUS e UBC (associações de gravadoras e de músicos). Fizemos as reuniões por distintas razões, mas o streaming sempre esteve em todos os debates. O Taran sabe muito sobre o assunto, tinha acabado de escrever um artigo muito bom e nos pareceu adequado convidá-lo para uma de nossas reuniões.

G1 - Em relação à disputa entre UBEM e YouTube: têm esperança de que um acordo entre as duas partes aconteça em breve?
Paula Lavigne - Não só temos esperança, como acreditamos que eles têm a obrigação de se entender. Toda vez que se recorre à Justiça, se gasta muito e se atrasa o processo. É o dinheiro dos autores que está em jogo! Essa foi uma das razões pelas quais lutamos para a aprovação da lei 12.853/2013: terminar com a excessiva judicialização dos conflitos, que além de cara, também leva à inadimplência.

G1 - Google à parte, como é a relação e a opinião de vocês sobre os outros serviços pagos e populares, como Spotify e Deezer? Eles têm sido benéficos e remunerado os artistas aqui corretamente?
Paula Lavigne - Nada no digital chegou próximo ao equilíbrio que existe no físico. Nada ainda é claro no digital. Tudo vem mudando todo tempo. Até ontem, o download era uma realidade, e hoje já está ficando ultrapassado, ao menos no Brasil. As mudanças são muito rápidas, nada é definitivo.

G1 - A remuneração por streaming já tem algum peso nas contas de grandes artistas, como Caetano e outros membros da associação?
Paula Lavigne - Não, nenhum peso. O pagamento é insignificante, mesmo que muito dinheiro esteja circulando, gerado pelo streaming.

G1 - E no caso de nomes novos como o Dônica, a presença forte em serviços de streaming é importante? Já tem algum peso para eles?
Paula Lavigne - Também não, ainda não. Nada de representativo que possa justificar os gastos que existem hoje, com todos os outros aspectos da produção de um artista. Na era do contrato conhecido como “360º”, em que as gravadoras praticamente exigem ganhar um percentual sobre todas as receitas dos artistas, os novos são os mais afetados.

G1 - Os dados de 2014 da ABPD indicam que a renda de vendas físicas só cai, mas o digital aumenta graças a assinaturas de streaming. Vocês acham que o streaming pode ajudar a salvar a indústria musical?
Paula Lavigne - Achamos que é até possível, mas para isso é necessário que se pague adequadamente aos criadores, em qualquer novo serviço digital que surja. A indústria musical só se salvará se reconhecer que sem o criador (artistas, músicos e compositores) não existe modelo de negócios.

G1 - O Procure Saber tem projeto ou iniciativa planejada em relação a este tema?
Paula Lavigne - Estamos planejando um grande encontro, em um futuro próximo, com figuras centrais do debate atual do streaming, do Brasil e do mundo, para que se discuta e se apresente uma proposta de ação política mais eficaz.

G1 - Uma das diretoras do Tidal vem ao Brasil para conversar com pessoas do mercado [a visita foi cancelada dias depois]. Vocês vão conversar com ela? Acham que seria possível aos grandes músicos do Brasil uma iniciativa como a do Jay-Z, de investir numa plataforma?
Paula Lavigne - Estamos abertos para conversar com todos, especialmente para entender melhor como funcionam os novos modelos de negócios dentro do digital. Acreditamos que é importante que os artistas tomem a frente em defesa de sua obra, de seu catálogo, neste novo mundo. É um passo muito importante. Mas no Brasil ainda estamos fora destes “deals”, que são negociados nos países mais poderosos e chegam aqui sem margem para qualquer discussão.
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