O rapper Rashid foi a principal atração da segunda noite do Festival Vambora, na Arena Pantanal, em Cuiabá, na quinta-feira (29), evento que termina neste sábado (30), com Criolo, e tem o rap como base. Para os rappers regionais que resistem na “capital do agronegócio”, com investimentos quase zerados e sofrendo com o olhar marginalizado da sociedade, Rashid deixou uma mensagem: “do Mano Brown ao ‘soldadinho do rap’, todo mundo é importante para deixar a cena viva”. 

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O rapper conversou com a imprensa antes de se apresentar. A programação dos três dias de festival prevê as batalhas de rima, que em Cuiabá costumam acontecer na Praça Alencastro, no Centro Histórico. Rashid afirma que fazer parte da cena rap e da cultura hip hop é uma forma de pertencimento, seja a um lugar, um povo ou uma cultura.

“As coisas são difíceis para nós, porque nossa cultura é uma cultura de periferia, preta e que grita isso todos os dias, coloca isso na cara da sociedade todos os dias. Ao mesmo tempo é incrível, é bonito e é muito sólido o que vamos construindo. Um grande professor meu sempre fala isso: todo mundo é importante, do Mano Brown ao soldadinho do rap que ninguém nunca ouvir falar. Se não tiver o Mano Brown, a parada não existiria como existe hoje, mas se não tiver o soldadinho do rap, também não. É preciso haver essa consciência de que todos tem importância”. 

Para Rashid, estar em contexto difícil de fazer o rap prosperar exige ainda mais motivação dos que estão resistindo na cena. O rapper lembrou que o cansaço e o desânimo são sentimentos naturais, mas que através de pequenos resultados, a paixão é renovada “Acho que isso tem que servir como motivação mesmo, como gasolina no tanque do carro, é no fogo mesmo, para fazer a coisa queimar e explodir. Tem que saber se organizar, porque é física, se a força contrária está muito forte, temos que ser mais fortes ainda”. 

Da periferia de São Paulo, Rashid alçou voos para palcos gigantes no cenário da música nacional, como o Lollapalooza. Além disso, o rapper também busca parcerias com artistas de outros gêneros, como fez em “Sobrou Silêncio”, com Duda Beat, e “Ver em Cores”, com Liniker. Ele explicou que os trabalhos em conjunto acontecem de forma natural e que conheceu as cantoras nos bastidores de shows. 

“Acho que essa é a parada da música, da estrada, você conhecer as pessoas e várias parcerias podem surgir daí. Quanta riqueza musical já não surgiu aí para o nosso país por causa desses encontros, acho que é importante estar de mente e porta aberta para que a pessoa cole no camarim para trocar ideia. Preciso ver essas coisas também, porque é assim que a gente aprende. De repente vou ver uma coisa que nunca vi na vida e que vai me inspirar grandemente aqui”. 

Rashid lamenta que pela cultura preta e de periferia ser marginalizada, a luta sempre será uma constante. “Vai saber da onde que vai vir esse grande nome do hip hop de Cuiabá, se já não tá aí e as pessoas só não estão olhando. Todo esse discurso mistura muito do lúdico, do poético e do romântico, mas é isso, só vamos saber tentando e lutando”. 

O rapper reforça que festivais como o Vambora são importantes para oxigenar a cena musical. Da mesma forma que veio a Cuiabá para se apresentar, Rashid afirmou que esperar ver os artistas daqui “fazendo barulho” em outros estados brasileiros. 

“Assim vamos conseguir criar de verdade um mercado sólido, onde as pessoas conseguem viver da sua arte, ajudar outras pessoas, suas famílias, gerar emprego. Para que exista um resultado tão bom, a gente precisa aprender a valorizar o rap e o hip hop de todas as cidades e estados”.