O artista Renato Medeiros inaugura nesta quinta-feira (7), às 19h, a exposição “Paisagens ásperas” no Museu de Arte e de Cultura Popular (MACP), na UFMT. De acordo com ele, o objetivo é provocar reflexões diversas sobre os impactos socioambientais da degradação da natureza e/ou dos sentimentos hostis que permeiam a interação social. A entrada é gratuita e a visitação segue aberta até 25 de abril, das 9h às 12h e das 13h30 às 15h30, de segunda a sexta-feira.
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A montagem solo do artista apresenta 50 obras produzidas em técnicas mista, envolvendo especialmente, desenho, pintura, fotografia e processos digitais. Elas traduzem em grande parte, um modo particular de enfrentar as angústias de uma pandemia e ao mesmo tempo, das queimadas que assolaram o Cerrado e Pantanal em 2020.
Para atravessar os dias de distanciamento, por exemplo, o artista fez de seu espaço restrito uma paisagem idílica, livre de ameaças externas. A metáfora da ilha – que compõe a exposição - surge, então, como esforço inventivo para fundar lugares seguros que permitissem vivenciar o isolamento, distante do cerco de más notícias. É desse estreitamento que nasce, por exemplo, o interesse do artista em adotar condimentos e utensílios de cozinha em seus processos de criação.
Ao longo dos meses, essas paisagens imaginadas foram compondo um arquipélago de texturas, formas, símbolos e tensões visuais que serviram de refúgio, cercando o artista daquilo que o constituía como sujeito.
A exposição convida o público a pensar diferentes modos de percepção da paisagem. “A natureza não é paisagem em si mesma. É o olhar humano que apreende visualmente uma porção do espaço e a emoldura como paisagem, ou seja, ela é um recorte da realidade”, completa o artista. Diante de cenários extremos e hostis vivenciados no âmbito climático, na esfera política ou nas práticas sociais, é cada vez mais difícil não enxergar paisagens ásperas, sejam elas naturais, urbanas ou simbólicas.
Arte como norte
Renato incorpora em suas vivências, uma postura crítica no âmbito sociocultural e ambiental. Alagoano, mas radicado em Cuiabá, é doutor em Arte Contemporânea pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade de Brasília e participou de exposições em Cuiabá, Rio de Janeiro e Brasília. Em 2021, foi premiado em 1º lugar na categoria Pintura, pelo 26º Salão Jovem Arte MT.
Em 2022, tornou-se membro fundador do Labirinto Espaço Criativo, local dedicado à pesquisa, criação artística e formação em artes, na região central de Cuiabá. Em 2023, fez sua estreia como curador na Galeria Arto, com a exposição coletiva Mapas de Calor: Arte Digital em Altas Temperaturas, estabelecendo diálogos entre arte, calor e tecnologia.
A exposição Paisagens Ásperas é sua mais nova investida, realizada em parceria com o Labirinto Espaço Criativo, com curadoria de Jeff Keese e texto de apresentação de Luiz Marchetti.
O projeto foi contemplado pelo edital Viver Cultura, da Secretaria de Estado da Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT) e está estruturado em 5 eixos: Arquipélago, Cosmogonias, Arquiteturas Hostis, Partilha e Miragem.
A expografia, assinada por Douglas Peron, busca fundar um arquipélago na galeria do MACP, posicionando cada eixo como uma ilha expositiva desse arquipélago. “Como o espaço é um atributo importante na poética do Renato, buscamos criar um ambiente que inspirasse flutuação e permitisse a navegação do visitante pelo salão”, explica Douglas.
Mediação e acessibilidade
O projeto compreende ainda um programa educativo que oferecerá ações de formação em artes visuais, como visitas mediadas e oficinas de desenho em giz pastel. As ações promoverão diferentes modos de conceber paisagens a partir do olhar do público. Assim, por meio da abordagem pedagógica, será possível estruturar um chamado à reflexão e ao diálogo entre as artes visuais e temas associados à exposição, entre eles a paisagem como assunto na prática artística, a textura visual e os efeitos do Antropoceno.
Para ampliar a acessibilidade de público, estão previstas ainda audiodescrições poéticas de obras dos 5 eixos expositivos, produzidas e interpretadas pelo poeta, escritor e ator Caio Ribeiro.