Interceptações telefônicas contra suposto núcleo do Comando Vermelho em Mato Grosso (CV-MT), responsável por lavagem de dinheiro em casas de shows em Cuiabá, flagraram referências ao prefeito da capital, Emanuel Pinheiro, e ao deputado federal Emanuelzinho, ambos do MDB. Há registro de mensagens para entrega de cervejas.

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Investigação obteve áudios referentes a um evento promovido pelo grupo de nome Baile da Carreta Treme-Treme, realizado nas dependências da Acrimat, no dia quatro de junho de 2022.
 
Três dias antes da festa, pessoa identificada como Rodrigo Leal, suposto promotor de eventos ligado à facção, recebeu ligação de uma pessoa não identificada, solicitando uma “caixa de Heineken” para o prefeito e uma “caixa de Império Gold” para Emanuelzinho.
 
Emanuelzinho é identificado no documento como “possivelmente parlamentar federal, filho do prefeito Emanuel Pinheiro”. Contato informa a Rodrigo Leal que o pedido fora feito por Benedito Alfredo, Secretário Adjunto de Fiscalização da Secretaria Municipal de Ordem Pública e Defesa Civil de Cuiabá.
 
Segundo os autos, na véspera do evento, o grupo fora surpreendido por ação fiscalizatória para averiguar suposta prática de poluição sonora no local. “Depreende-se dos diálogos abaixo que a fiscalização foi realizada por agentes não comprometidos com o esquema de favorecimento, motivo pelo qual não se obteve a licença necessária para a realização do evento. Diante de tal fato, o Ministério Público de Mato Grosso ingressou com ação judicial e obteve decisão favorável, impedindo a realização do evento”.
 
O fato gerou transtorno e descontentamento entre os integrantes, que buscaram reverter a situação através da interferência de agentes políticos. Investigado identificado como Jardel Pires, em conversa travada com um indivíduo chamado de Netinho Competition, cita a intenção de entrar em contato com o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro, e com os com vereadores Marcus Brito e Paulo Henrique para pressionarem o Secretário do Meio Ambiente, Renivaldo Nascimento, a assinar o alvará que permitiria a realização do evento.
 
Ainda no dia três, segundo interceptações, número desconhecido entra novamente em contato com Jardel Pires, e assim que este atende passa a ligação para o vereador Paulo Henrique. Jardel explica sobre a fiscalização que está ocorrendo nos equipamentos de som do evento Baile da Carreta Treme-Treme e que um fiscal estaria querendo apreender a carreta de som por determinação de uma promotora de justiça. Jardel então cobra uma ação de Paulo Henrique para impedir a apreensão, informando que já possui um alvará da prefeitura.
 
Instantes depois, Paulo Henrique retorna a ligação para Jardel e informa que Rodrigo Leal está tentando resolver essa situação e, assim, evitar a apreensão da carreta. Informa ainda que não estava sabendo dessa fiscalização, caso contrário teria falado com Benedito Alfredo para mandar um fiscal que faz parte do esquema.
 
No mesmo contexto, foi obtida ligação entre Jardel e uma mulher de nome Sandra Maria. Sandra reclama do preço cobrado por advogado para impetrar Mandado de Segurança, oportunidade em que Jardel informa que o advogado foi indicado pelo vereador Paulo Henrique. “Importante destacar que Sandra informou que pretende conversar com o prefeito Emanuel sobre o ocorrido, para uma eventual punição ao fiscal”, diz trecho do relatório.
 
Durante a noite desse mesmo dia, Jardel recebe ligação da Oficial de Justiça de nome Marta, informando sobre a decisão judicial de interdição de todo e qualquer evento no parque de exposição que utilize fonte de emissão sonora. Jardel confirma ciência e diz que irá recorrer da decisão.
 
No dia seguinte, dia do evento, Rodrigo Leal recebe ligação da Oficial de Justiça de nome Elisângela, informando da decisão judicial que concedeu liminar, autorizando a realização do evento.
 
Segundo extraído de áudio entre o investigado Jardel e um indivíduo de nome Aderir, o evento foi realizado, entretanto, às 23h ocorreu nova fiscalização que resultou no encerramento do show e apreensão da carreta de som. Jardel informa mais uma vez que a ação fiscalizatória ocorreu por conta do fiscal anterior e que, inclusive, o prefeito teria ligado para o fiscal, mas ele não atendeu.
 
Outro lado

Ao Olhar Direto, Emanuelzinho disse que conhece dois dos citados por atuarem na Câmara de vereadores de Cuiabá. Conhece ainda um terceiro citado, por ser empresário do setor de festas que o procurou durante a pandemia. “Eu não tenho o que falar, eu recebo todo mundo, a investigação que tem que dizer, eu tenho fotos com milhares de pessoas toda semana”.
 
Emanuel Pinheiro enviou a seguinte nota:
 
O prefeito Emanuel Pinheiro esclarece que recebe milhares de demandas e pedidos diariamente e que no caso especificado na reportagem não tomou nenhuma medida, o gestor apenas assegurou que a Secretaria de Ordem Pública estava cumprindo seu papel de fiscalização.

Quanto às imagens é válido esclarecer que cabe ao gestor de uma cidade, percorrer bairros e nestes casos, recebe muitos pedidos de fotografias.