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Domingo, 23 de junho de 2024

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TRIBUNAL DO CRIME

Falsas denúncias de estupro fazem inocentes serem executados por facção criminosa

Foto: Olhar Direto

Delegado Caio da DHPP.

Delegado Caio da DHPP.

Falsas denúncias de estupro levaram a execução de pelo menos duas pessoas inocentes na região metropolitana de Cuiabá. Os crimes cometidos por uma facção criminosa instalada em Mato Grosso têm o mesmo modus operandi. A vítima desaparece, é levada para um local ermo, onde passa por uma espécie de julgamento do tribunal do crime. Sem direito a defesa ou possibilidade de absolvição, ela é condenada e morta com disparos de arma de fogo. Tudo isso em poucas horas.


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Em 17 de setembro de 2021, a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa de Cuiabá (DHPP) passou a investigar a execução de Felippe Fernandes Rodrigues da Silva, de 21 anos, encontrado morto na estrada do Cinturão Verde, região do Pedra 90.

Alguns dias antes ele havia sido detido, juntamente com outra pessoa, por suspeita de estupro. Depois de ser solto com uso de tornozeleira eletrônica, registrou boletim de ocorrência em que relatava ameaças de uma facção criminosa.

Jovem foi executado com disparos de arma de fogo. Crédito: Facebook

No dia do suposto estupro, Felippe, um amigo, e a adolescente responsável por denunciar ambos, teriam ingerido bebida alcoólica em uma residência. Na ocasião, a adolescente teria ‘ficado’ com Felippe de forma consentida. Mas depois mudou a versão e disse para família que havia sido violentada.

Encaminhada para delegacia, a garota foi ouvida e passou por exame de corpo de delito. O resultado: não houve constatação de violência sexual. A perícia corrobora com o depoimento de uma testemunha e poderia provar a inocência do rapaz. No entanto, Felippe já havia sido executado com oito tiros após passar pelo tribunal do crime e sequer teve oportunidade de se defender.

Investigação do núcleo operacional de repressão a homicídios praticados por organização criminosa resultou na prisão de dois investigados. Eles respondem por homicídio triplamente qualificado com integração de organização criminosa. O núcleo operacional apura envolvimento de outras pessoas.

A partir da localização do corpo de Felippe, o delegado Caio Fernando Albuquerque encontrou a representação de um tribunal onde a vítima havia sido julgada e executada. No local havia assentos e bancada de julgamento feitos com tijolos. Diferente do tribunal do júri, onde se espera condenação da pessoa com pena privativa de liberdade, no tribunal do crime a condenação é a própria morte, pena proibido no ordenamento jurídico brasileiro.

Conforme o delegado, a pena de faccionados envolvidos nesses “salves” é dura.  “Depois de 2019, com alteração do pacote anticrimes, todos autores de homicídios qualificados ficam no mínimo metade da pena preso. Se você pegar condenação de 20 anos, você fica 10 preso”, pontua a autoridade policial.
 
Divulgação na internet

Outro morto por facção criminosa é Leonardo Henrique Aquino, 31 anos, sequestrado dia 23 de dezembro do ano passado, no bairro Jardim Industriário II, em Cuiabá.

O sequestro do homem aconteceu depois que a enteada dele divulgou imagens em redes sociais e aplicativo de mensagem dizendo que teria sido vítima de violência sexual. Além disso, cartazes afirmando que o homem era estuprador foram colocados em postes da região.

Sabendo disso, Leonardo registrou boletim de ocorrência dizendo ser vítima de fake news. Mas não houve tempo. A informação chegou até a facção criminosa que agiu rapidamente. 

Leonardo estava em casa com a esposa quando um grupo de homens chegou no imóvel e afirmou que pretendia conversar com ele. Colocado em um Fiat branco, Leonardo foi levado para um lixão no bairro Dr. Fábio, passou por ‘salve’, onde teve a vida ceifada com oito tiros.

“Esse caso, o que potencializou foi a rede social. Havia a conversa que o padrasto estava abusando da enteada. A enteada divulgou nos stories do Instagram, WhatsApp, em tudo. Começaram a copiar e colar até em postes da região. Pronto. Foram lá e mataram a pessoa”, explica Caio, delegado responsável pelo inquérito.

Assim como no caso de Felippe, exame pericial também descartou violência sexual na enteada de Leonardo. Outro fato em comum entre Felippe e Leonardo: nenhum deles teve oportunidade de se defender, pois já haviam sido condenados e mortos.

Segundo o delegado, as investigações ainda estão em andamentos e os criminosos envolvidos na morte de Leonardo são procurados.

Para o delegado do núcleo de homicídios cometidos por facção criminosa, o comportamento de dar queixa a esses criminosos é totalmente equivocado.

“Se ocorreu uma violência sexual, o caminho é ir na delegacia e fazer os procedimentos que serão tomadas as medidas, inclusive pedido de prisão. Essa história de ficar, como dizem, dando parte pra facção, é complicado. Porque naquele momento, a família vitimada por suposto crime de violência sexual vai ter a sensação de punição rápida. Só que não pode esquecer que esse mesmo comportamento da facção pode voltar para a família”, salienta.

“Às vezes algum familiar comete o mesmo crime, e a facção vai fazer a mesma coisa. Essa sensação de justiça privada é equivocada. Além de que vai tomando corpo essa falácia de que eles estão a fazer o correto. Mas o correto é ir na delegacia e pedir as providências”, finaliza.
 
 
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