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Segunda-feira, 01 de julho de 2024

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Mortos na Estrada do Manso teriam sido atraídos e executados com 90 tiros por PM's alvos de operação

Foto: Reprodução

Mortos na Estrada do Manso teriam sido atraídos e executados com 90 tiros por PM's alvos de operação
Um dos confrontos que teriam sido forjados por policiais militares alvos da Operação Simulacrum, deflagrada pela Polícia Civil e Ministério Público, nesta quinta-feira (31), aconteceu no dia 30 de junho de 2020, por volta de 15h40, na MT-351, entre Cuiabá e a região do Lago do Manso, ocasião em que foram executados José Carlos Fernandes Dumont, 25 anos, Cleverson Rodrigo Marques Silva, 31 anos, Cleber Neves de Andrade, 31, e João Vitor Chaves, 19. Os policiais militares efetuaram 90 tiros contra o veículo, conforme laudo da perícia. 


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Conforme versão dos policiais, os suspeitos teriam atirado contra as viaturas, instalando um confronto com policiais, que teriam revidado os disparos. Porém, a versão do informante, identificado em todas as ocorrências policiais como “vigilante”, Ruiter Candido da Silva, é completamente diferente.

Ruiter confessou que transitava bem entre os criminosos e auxiliava nas suas prisões em troca de dinheiro e/ou bens apreendidos, como aparelhos celulares. Entretanto, em dado momento, a finalidade dessa parceria começou a mudar, pois em vez de prender criminosos, ele e os policiais militares passaram a objetivar a matança dos alvos, como forma de promover o nome e o batalhão dos PMs envolvidos.

Ao ser interrogado, Ruiter confessou que era o “segurança/vigilante”, afirmando que os supostos assaltos eram “armados” em conjunto com policiais militares, visando atrair pessoas com passagens criminais ou não, para serem executadas sumariamente.

As informações da investigação apontam que a versão de Ruiter foi corroborada pelos exames de necropsia e de confronto balístico. Além disso, um dos sobreviventes do falso confronto relatou que ele e os demais integrantes do Onix iriam efetuar o roubo em uma região de chácara na região do Lago do Manso. Conforme o sobrevivente, o Onix servia como guia na empreitada criminosa e era conduzido por um “segurança”, que trabalhava na chácara.

Ainda segundo o sobrevivente, no percurso avistaram veículos da Polícia Militar, sinalizando para que o veículo em que estava parasse. Alega que estava portando um revólver calibre 38 e os demais ocupantes do veículo também estavam armados. Ao serem abordados por duas viaturas da PM, os militares logo atiraram contra o carro, atingindo o sobrevivente em região não letal. Os demais morreram.

Na segunda declaração prestada pelo sobrevivente, ele confirmou que o veículo em que se encontrava seguia o veículo Fox de cor vermelha e que o tal “segurança” da chácara havia combinado com os ocupantes do Onix como iriam realizar a ação criminosa.

Acrescentou que os militares renderem os cinco ocupantes do carro e determinaram que todos saíssem do veículo e se deitassem no chão, o que foi feito. Quando estavam deitados um dos policiais perguntou onde se encontravam as armas de fogo. Assim que localizou e retirou as armas do carro, determinou que os cinco entrassem novamente no carro.

Assim que retornaram para o interior do veículo Onix “os policiais teriam rodeado o veículo, apontado suas armas e começaram a atirar contra o veículo e seus ocupantes”, sem que tenha havido qualquer movimento ameaçador contra os militares. Em decorrência dos disparos quatro dos cinco ocupantes do veículo foram mortos.
 
Interrogado, o segurança/vigilante Ruiter afirmou que esta ação, previamente acertada entre ele e os representados, tratava-se de “flagrante preparado”, cujo intuito era matar os suspeitos e sua função era “arregimentar bandidos interessados em cometerem roubo”.

Para tanto Ruiter afirma que entrou em contado com os cabos Jonathan e Heron, avisando que tinha conseguido reunir os suspeitos, oportunidade em que combinaram onde a abordagem e a execução iriam ocorrer.

Ruiter também contou que no dia dos fatos ele era a pessoa que conduzia o veículo Fox vermelho, na qualidade de “batedor”, seguido pelo veículo Onix ocupado pelos suspeitos cooptados. Em determinado local Ruiter avistou duas viaturas da Rotam seguindo os dois veículos e, prevendo que o veículo detrás iria ser abordado, acelerou o Onix vermelho para se distanciar da intervenção.

Contudo, posteriormente fez o retorno e presenciou quando os integrantes da Rotam retiraram os cinco ocupantes do veículo, os revistaram, determinaram que retornassem para o interior do carro e, em seguida, perfilaram e dispararam reiteradamente. Diante do grande número de disparos não foi possível determinar a quantidade, mas ouviu as rajadas saindo das armas dos militares.

Ruiter afirma categoricamente que os policiais Jonathan Carvalho de Santana e Heron Teixeira Pena Vieira ocupavam o veículo GOL5, cor prata, e participaram deste crime.

Tais declarações também foram confirmadas pela prova pericial: exame de balística e de necropsia, quebra de sigilo de dados de celulares, notadamente do delator Ruiter, onde foi constatada a relação existente entre ele e os representados, para a realização de “serviços”, dentre outras evidências.

Os representantes enfatizam que a versão de Ruiter foi confirmada após a análise do seu aparelho celular, no qual se observa que era notório seu diálogo fluido com alguns representados e militares lotados em diversos batalhões.

Através dos Laudos de Exame de Necropsia das vítimas foi possível verificar que há evidências de queimaduras por estilhaços, o que indica que houve disparos a curta distância, sem reação de defesa, reforçando os indícios de que não teria ocorrido nenhum confronto, mas sim, uma execução.

O Laudo de Local do Crime esclarece que foram efetuados mais de 90 tiros sem reação dos ocupantes do veículo, os quais foram surpreendidos pela ação contundente da abordagem policial.

As armas encontradas na cena do crime, atribuídas às vítimas, foram submetidas à perícia, que concluiu que das 22 munições divididas entre as cinco armas, 21 estavam íntegras, não deflagradas, e apenas uma estava picotada, porém, não deflagrada.

Contudo, os representados afirmam que reagiram à injusta agressão dos suspeitos ocupantes do veículo Onix.
Os policiais militares identificados como cabo Heron Teixeira Pena Vieira, cabo Jonathan Carvalho De Santana, Soldado Jairo Papa da Silva e soldado Ícaro Nathan Santos Ferreira eram os responsáveis pela gestão e planejamento dos homicídios, organizando a logística para as execuções sumárias nos locais previamente ajustados com o informante Ruiter.
 
Os policiais militares, também representados: Capitão Ronaldo Reiners, 1º. Tenente Thiago Satiro Albino, 1º. SGT. Patrick Lauro Loureiro De Almeida, 3º sargento Elias José Lopes Schuina, cabo Esmail Da Silva Gorgonha, 3º. Sargento Alexandre Dos Santos Lara, Soldado Wilson Ulisses Alves De Souza, Soldado Thiago Padilha De Moraes, Soldado Benedito Patrício Da Silva Júnior e Soldado Bruno Pedro Tavares Corrêa foram os executores das vítimas.

A operação

A Polícia Civil e o Ministério Público Estadual deflagraram nesta quinta-feira (31) a Operação Simulacrum para cumprimento de 81 mandados de prisão temporária contra policiais militares investigados por homicídios. De acordo com as investigações, os alvos estariam forjando confronto para executar vítimas em Cuiabá.

Também são cumpridos 34 mandados de busca e apreensão e de medidas cautelares diversas. As ordens judiciais foram decretadas pela 12ª Vara Criminal da Comarca de Cuiabá.

Conforme o MPMT e a Polícia Civil, o grupo de militares é investigado pela morte de 24 pessoas, com evidentes características de execução, além da tentativa de homicídio de, pelo menos, outras quatro vítimas, sobreviventes.

A operação faz parte das investigações realizadas em seis inquéritos policiais, já em fase de conclusão, relativos a supostos “confrontos” ocorridos em Cuiabá e Várzea Grande.

De acordo com as investigações, os militares envolvidos contavam com a atuação de um colaborador que cooptava interessados na prática de pseudocrimes patrimoniais, sendo que, na verdade, o objetivo era ter um pretexto para matá-los.

Após atraí-los a locais ermos, onde já se encontravam os policiais militares, eram sumariamente executados, sob o falso fundamento de um confronto. Os responsáveis pela apuração dos fatos reforçam que há farto conteúdo probatório que contrapõe a tese de confronto apresentada pelos investigados.

As investigações indicam que a intenção do grupo criminoso era a de promover o nome dos policiais envolvidos e de seus respectivos batalhões. Na época em que ocorreram os fatos, os policiais investigados encontravam-se lotados nos batalhões Rotam, Bope e Força Tática do Comando Regional 1.

O Ministério Público e a Polícia Civil esclarecem que as ações investigadas foram praticadas por alguns membros da corporação que agem à margem e à revelia da lei.

Enfatizam, no entanto, o relevante trabalho que a Polícia Militar realiza para a sociedade no combate à criminalidade e na proteção do cidadão.

Simulacrum é a tradução em latim de simulacro (aquilo que tem aparência enganosa).
 
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