Olhar Direto

Sábado, 24 de agosto de 2024

Notícias | Brasil

Pais de vítimas gritam com namorada de sócio da Kiss durante audiência

A segunda parte da audiência com a namorada de Kiko Spohr, sócio da boate Kiss, foi marcada por confusão nesta sexta-feira (22) no Foro Central de Porto Alegre. Após Nathalia Daronch, de 23 anos, contar ter sido hostilizada durante o intervalo, uma das mães de vítimas que acompanhavam a sessão jogou moedas na jovem e a acusou de mentir. Em seguida, outros pais também gritaram com a sobrevivente da tragédia de 27 de janeiro que causou 242 mortes.

"Gostaria de registrar que quando houve o intervalo, pessoas disseram que eu estava mentindo, que eu era uma burra, que não estava com a roupa adequada", disse Nathalia. Foi então que Vanda Dacorzo, que perdeu a filha Vitória Saccol no incêndio, levantou, atirou moedas e disse que a jovem estava sim mentindo. Em seguida, deixou a sala.
O advogado Jader Marques tomou a palavra e defendeu que não mais aceitaria que ele ou seus clientes fossem hostilizados em audiências. Maria Aparecida Neves, mãe de outra vítima da tragédia, levantou e acusou o defensor de estar fazendo teatro. "Eles são assassinos", gritou. Logo depois, um pai também começou a gritar, e todos os familiares das vítimas tiveram que sair da sala.

Nathalia estava grávida de quatro meses no dia da tragédia. Mais cedo, durante o intervalo da audiência, ela chorou ao ouvir acusações de pessoas que perderam seus filhos.
Na primeira parte da audiência, ela havia defendido que não achava justo Kiko ser tratado como um assassino. "Não queríamos que nada disso tivesse acontecido, ninguém ganhou com isso. Ficamos muito tristes de estar sentados no sofá vendo TV com a nossa filha e ver pessoas chamando ele de ganancioso, assassino. Ele não é assassino, não é nada disso", disse Nathalia.
Sobre a reforma da boate Kiss com espuma, onde o fogo se espalhou e gerou a fumaça tóxica no interior da casa noturna, Nathalia afirmou que foram engenheiros que insistiram na colocação. "Na reforma não tinha espuma. Mesmo com todo o gasto, os vizinhos reclamavam do barulho. O engenheiro só resolveria se tivesse as espumas. Eles falaram que só a espuma resolveria o problema. O Kiko era resistente a esse material. Ele gastou dinheiro com outros materiais, mas os engenheiros insistiram que o problema só seria resolvido com a espuma", declarou.
Nathalia e Kiko chegaram juntos, de mãos dadas, para a audiência marcada para as 10h30. O músico da banda Gurizada Fandangueira, que tocava na noite da tragédia, Marcelo de Jesus dos Santos, compareceu à audiência. Também foram ao Foro cerca de 10 familiares de vítimas, entre eles mães que fazem parte da ONG Para Sempre Cinderelas.
O juiz Ulysses Louzada, da 1ª Vara Criminal de Santa Maria, também viajou a Porto Alegre para acompanhar a audiência. Na sexta-feira (29) da próxima semana, o magistrado voltará a capital para ouvir Wilian Renato Machado, outro sobrevivente do incêndio. Ele é sobrinho de Kiko. A audiência tem início previsto para as 10h, na 1ª Vara do Júri do Foro Central.

Entenda
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, região central do Rio Grande do Sul, na madrugada de domingo, dia 27 de janeiro, resultou em 242 mortes. O fogo teve início durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que fez uso de artefatos pirotécnicos no palco.
O inquérito policial indiciou 16 pessoas criminalmente e responsabilizou outras 12. Já o MP denunciou oito pessoas, sendo quatro por homicídio, duas por fraude processual e duas por falso testemunho. A Justiça aceitou a denúncia. Com isso, os envolvidos no caso viram réus e serão julgados. Dois proprietários da casa noturna e dois integrantes da banda foram presos nos dias seguintes à tragédia, mas a Justiça concedeu liberdade provisória aos quatro em 29 de maio.
Veja as conclusões da investigação
- O vocalista segurou um artefato pirotécnico aceso no palco
- As faíscas atingiram a espuma do teto e deram início ao fogo
- O extintor de incêndio do lado do palco não funcionou
- A Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás
- Havia superlotação no dia da tragédia, com no mínimo 864 pessoas
- A espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular
- As grades de contenção (guarda-corpos) obstruíram a saída de vítimas
- A casa noturna tinha apenas uma porta de entrada e saída
- Não havia rotas adequadas e sinalizadas de saída em casos de emergência
- As portas tinham menos unidades de passagem do que o necessário
- Não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas
Entre no nosso canal do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
 
Sitevip Internet