O dependente químico tem sido alvo de constante atenção e debate. A mídia tem retratado as dificuldades destas pessoas, especialmente de usuários de crack e seus familiares, para conseguir um tratamento com dignidade e, sobretudo, em consonância com suas necessidades.

“No Brasil, parte dos poucos serviços de internações para dependentes químicos existentes, principalmente da rede pública e do terceiro setor, está organizada a partir do empenho e da experiência pessoal de seus profissionais, gerando serviços com potencial de atendimento terapêutico limitado, muitas vezes desvinculado das necessidades locais e pouco baseado em evidências científicas”, comenta Alessandra Diehl.

A psiquiatra aponta ainda os impactos das políticas públicas: “A ‘reforma psiquiátrica’ brasileira gerou uma série de consequências. A rápida diminuição de leitos psiquiátricos e uma lenta criação de serviços ambulatoriais, associada à errônea ideia de que doença mental não necessita de internação, geraram a atual crise. Atualmente, o número de pessoas que necessitam de leitos é muito superior ao número de leitos oferecidos pelos serviços referencias atuais, os CAPS AD”.

A especialista, que trabalha em uma enfermaria pública especializada para tratamento de dependência química, afirma que é grande a procura de profissionais que visitam a unidade para conhecer o trabalho, infraestrutura, estratégias de tratamento durante o processo de internação, custo, tamanho da equipe, resultados, dificuldades e, principalmente, como podem reproduzir o modelo em seus municípios e quais parcerias, políticas e atividades científicas podem ajudar na implantação do serviço.

No intuito de auxiliar nessa demanda a partir de sua experiência na unidade, a médica coordena o curso “Organização de serviço de internação para dependentes químicos: uma proposta de gerenciamento de caso numa enfermaria especializada” com o objetivo de capacitar o profissional da área da saúde, em especial da dependência química, para que ele possa programar ou estruturar serviços de internação para dependentes químicos em seu município.

O curso será ministrado no dia 28 de outubro, durante o Congresso Brasileiro de Psiquiatria (CBP), promovido pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), que acontece de

27 a 30 de outubro, em Fortaleza, no Ceará.