A Polícia Civil colheu depoimento do padre Ramiro José Perotto, da Paróquia São Paulo Apóstolo, de Carlinda (a 760 quilômetros de Cuiabá), com o objetivo de averiguar possível cometimento de crime de apologia ao estupro. O padre fez comentários no Facebook dizendo que a garota de 10 anos, do Espírito Santo, que foi estuprada e engravidou do tio, teria sido conivente com os atos do criminoso.
Leia mais:
MP investiga padre de MT que disse que menina de 10 anos estuprada pelo tio foi conivente
O padre foi ouvido nesta terça-feira (25), pelo delegado Pablo Carneiro da Delegacia Municipal de Alta Floresta. O líder religioso assinou um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) por, em tese, praticar crime de apologia a estupro. O teor do depoimento, no entanto, não foi divulgado.
O padre já se manifestou por meio de nota, pedindo desculpas pelas palavras que usou em sua postagem. Segundo ele, sua intenção era "defender a vida". Em uma das postagens o padre teria questionado a inocência da menina e disse que era "claro que a garota estava gostando" pois havia sido estuprada por quatro anos e nunca disse nada.
O Ministério Público de Mato Grosso instaurou procedimento contra o padre. Houve remessa de ofício à igreja para que informe as providências administrativas de apuração da conduta do pároco.
A vítima chegou a ter sua identidade revelada (o que é crime) por ativistas que são contra a prática do aborto, mesmo o permitido pela Justiça, como é este caso. Após manifestações em frente ao hospital, a menina conseguiu passar pelo procedimento.
Leia a carta do padre Ramiro:
Caríssimos. Eu, Pe. Ramiro José Perotto, pároco na Paróquia São Paulo Apóstolo, Carlinda, MT, venho por meio desta dizer-vos que assumo toda a responsabilidade de três postagens em meu Facebook sobre a defesa da vida, no caso do aborto ocorrido no último dia 17.
As postagens foram excluídas por mim mesmo quando percebi inúmeros comentários que atacaram a minha defesa. Assumo a responsabilidade de ter proferido palavras desagradáveis, e justifico que compartilho da defesa da vida, nunca condenar e tirar julgamentos.
Não foi minha intenção proferir palavras de baixo calão, as quais não comungam com minha fé e minha crença na pessoa humana.
Àqueles que se sentiram ofendidos, só resta meu pedido de perdão. Excluí meu facebook por não querer mais ofender e ser ofendido. Precisamos ser fraternos. Sempre preguei isso.
As vezes que não fui, que Deus me perdoe. Lutemos pela vida, ela é dom de Deus. “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância” Jo. 10,10
Pe. Ramiro José Perotto/Pároco de Carlinda – 20 de agosto de 2020
