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Terça-feira, 30 de julho de 2024

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Na linha de frente

Médico pegou Covid-19 enquanto cuidava do pai cirurgião na UTI: “fiquei quinze dias sentado do lado dele”

Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto

Médicos, pai e filho foram infectados enquanto atuavam na linha de frente.

Médicos, pai e filho foram infectados enquanto atuavam na linha de frente.

Pouco mais de um ano após o momento mais difícil que enfrentaram na vida, Nadim Amui Junior, de 61 anos, e o filho Eduardo Henrique de Próspero Amui, de 30 anos, ambos cirurgiões-médicos, comemoram neste Dia dos Pais um recomeço. Em julho do ano passado, enquanto atuava na linha de frente da Covid-19 em Cuiabá, o pai testou positivo para o vírus e ficou internado entre a vida e a morte. Como trabalhavam juntos, o filho também foi infectado enquanto cuidava de Nadim em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).


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“No começo não caiu a ficha, mas depois eu fui vendo o meu pai piorando, ele não conseguia levantar o braço que cansava. Foi a hora que eu senti que eu poderia realmente perder [ele]. Eu botei uma cadeira do lado do leito e fiquei os 15 dias sentados do lado dele. Não saía nem pra tomar banho”, conta Eduardo ao Olhar Direto ao revisitar o período. À diferença de Nadim, o quadro de Eduardo não evoluiu com gravidade. 

Na época, um vídeo da volta de Nadim para casa e o reencontro com a filha caçula foi compartilhado nas redes sociais. O registro cheio de emoção  viralizou. A comemoração foi dupla, tanto pelo pai, quanto pelo irmão da pequena, que sobreviveram à doença que, naquela época, já havia matado mais de 70 mil brasileiros no país todo. 

Quando se lembra daquele período, Nadim não consegue pensar em outro sentimento que não seja o de felicidade. “É uma sensação de renascer. Eu tenho três filhos, dois são adultos médicos e eu tenho uma pequenininha, a do vídeo. Para mim foi bastante importante voltar pra família”.



Momento mais difícil 

Para Nadim, ser contagiado com a Covid-19 e ter passado duas semanas internados foi a experiência mais difícil que ele atravessou. “Eu tive uma doença no coração que foi bastante difícil de tratar e eu passei também entre a vida e a morte mas era uma doença conhecida, a gente sabia como poderia evoluir e não uma doença desconhecida como a Covid”.

Desde o início da pandemia, ele e o filho  atuam na linha de frente de combate à pandemia do vírus da Covid-19 em Cuiabá. No Complexo Hospital Jardim Cuiabá, quando foi infectado, Nadim atuava como cirurgião responsável pelo atendimento de pacientes infectados pelo novo coronavírus na UTI. Na mesma unidade, o filho também desempenhava a mesma função, porém, com o adicional de também atuar como endoscopita. 

“É a profissão da gente, não dava pra correr”, relata Nadim. “É um momento muito difícil porque você é conhecedor da causa. Você sabe o que pode acontecer, as chances de você morrer, as complicações, não só a morte, mas também as sequelas que podem ser definitivas”. 

Para o filho, que apesar de àquela época já estar há algum tempo atendendo pacientes com o vírus da Covid-19, aquela foi a primeira vez que ele experimentava o risco de perder um familiar com o pai. Essa angústia aumentava conforme ele acompanhava a piora do quadro de Nadim. 

“Uma mistura de impotência com fragilidade. Ver meu pai sofrendo ali, faltando ar [mesmo] com todo o aporte necessário. Pensava no que poderia fazer, tava fazendo de tudo e não melhorava, [estava] fora do alcance. Por mais que faça de tudo, você não sabe como vai ser a evolução”, desabafa. 
Filho passou 15 dias sentado ao lado enquanto ele estava na UTI. (Foto: Rogério Florentino)

“Tudo que eu sou eu aprendi com você”

Neste domingo (8) em que se celebra a relação entre pais e filhos, Eduardo e Nadim vão compartilhar a data juntos. O filho faz questão de destacar a influência que o exemplo de Nadim tem para a sua formação, sobretudo após a experiência que atravessaram juntos em 2020. 

“Meu pai tem uma particularidade: ele é incansável para trabalhar, para ajudar as pessoas, ele é inesgotável. Eu sempre me espelhei nisso e no [período da] Covid principalmente. Ele chegava aqui, continuava chegando cedo [mesmo após a infecção]. Saía 23h, 24h, 1h como se não tivesse acontecido nada”, enfatiza Eduardo.
 
Neste Dia dos Pais, Eduardo e Nadim se reunem para celebrar "renascer". (Foto: Rogério Florentino)

No ano passado, o Dia dos Pais foi comemorado em família, porém, Nadim ainda apresentava sequelas da infecção. Sequelas que mesmo após a cura, não o impediram de seguir trabalhando. Durante o dia, ele fazia sessões de fisioterapia nos intervalos do trabalho, ao mesmo tempo em que tinha uma agenda com pacientes com Covid-19.

“Não só por ser filho, qualquer pessoa que vê uma dedicação, uma entrega dessa vai querer seguir o exemplo, ou admirar, vai querer se espelhar. Eu fico muito orgulhoso", diz Eduardo. "Tudo que eu sou eu aprendi com você, tudo”, declara o filho ao pai. 

Neste ano, curado e vacinado, Nadim comemora, mais uma vez, a chance de passar a data do lado dos filhos. “Eu ainda estava meio convalescente, mas foi boa porque eu estava vivo”, comenta sobre o último dia festivo. "[Neste vamos] comemorar esse dia dos pais, fazer uma reunião”, finaliza.
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