Os cinco alunos soldados que pertenciam ao mesmo pelotão de Lucas Veloso Peres, 27 anos, disseram à Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec) que o militar sofreu “caldo” após “desobedecer” a ordem dos coordenadores do curso e utilizar o Life Belt – flutuador. Os depoimentos foram colhidos no dia 12 de abril, data da reprodução simulada da morte de Lucas. As informações constam no laudo em que reportagem teve acesso.
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Os trabalhos foram realizados na Lagoa Trevisan, local onde ocorreu os fatos contra Lucas Veloso. Além dos alunos que estavam no dia 27 de fevereiro – data da morte – participaram o encarregado do inquérito policial (IP) Dércio Santos da Silva, o escrivão, Heitor Fernandes da Luz, o advogado da vítima e um representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Prestaram depoimentos cinco militares que pertenciam ao pelotão de Lucas Veloso. Eles relataram à equipe técnica que estavam cientes, com certa variação de entendimento, de que havia um esquema de segurança e socorro durante as atividades.
Os depoentes detalharam que a orientação dos instrutores foi de que cada dupla (canga) levaria um desses flutuadores, mas não deveriam utilizá-lo, e, sim, portá-lo durante a travessia, pois fazia parte da instrução, uma vez que, na prática, tais flutuadores são lançados pelos “guarda-vidas” durante um resgate.
Eles explicaram ainda que o pelotão foi dividido em frações e que, devido à ausência de dois alunos, os quais faziam dupla com alguns deles em atividades anteriores, sua fração foi remanejada da forma que Lucas Veloso formasse dupla com um aluno chamado Renan Henrique.
Os alunos informaram que algum tempo depois de iniciar a travessia a nado, Lucas Veloso começou a se apoiar no flutuador que ele mesmo portava, dando origem a várias ordens, tanto por parte do capitão Daniel Alves de Moura e Silva (instrutor principal), quanto o soldado Kayk Gomes dos Santos (monitor), para que não mais o fizesse.
“Na sequência, depois de repetidas situações em que a vítima continuava fazendo uso do referido flutuador e sendo ordenado a não o fazer, o Cap. D. Alves (instrutor principal) ordena ao Sd Kayk (monitor) que retire o Life Belt do Lucas (vítima)”, diz trecho do laudo.
Com os alunos Renan Henrique, a menos de um metro de Lucas, viram Kayk posicionado mais à esquerda de um outro aluno e foi em direção a Lucas. “Foi para a água, nadou e se aproximou de Lucas Veloso, apoiando-se nos ombros, forçando-o para baixo e submergindo-o rapidamente, retirando o Life Belt que ele (Lucas Veloso) portava”, aponta outra parte.
Em ato contínuo, Lucas busca apoio em seu “canga” (parceiro de dupla) que também estava com certa dificuldade. Nesse momento, os alunos relataram que todos percebem que Lucas, ao deixar de se apoiar em Renan, se apoia em outro flutuador que deslizava próximo a ele. Esse flutuador pertencia a outro aluno.
Nesse mesmo instante, D. Alves deixa o local que estava e vai nadar ao lado de Lucas, ação esta, que segundo as testemunhas, o referido instrutor já havia enfatizado que aconteceria, no caso de Lucas continuar a usar o flutuador.
“Disseram que, quando o Cap. D. Alves (instrutor) se aproximou de Lucas Veloso (vítima), reitera que irá nadar com ele e que os demais devem continuar a travessia. Hesitaram por alguns instantes, mas decidiram seguir em frente, separando-se do colega Lucas Veloso”, relataram à equipe técnica.
Por fim, os alunos afirmaram que não viram ou ouviram quando se deu o afogamento de Lucas, nem quando foi atendido ainda na água e que souberam do fato somente ao concluírem a travessia, momento em que a ambulância já havia deixado a Lagoa Trevisan.
